Folha de S. Paulo
Entre a Disney e o seu país, preferiu chorar
nos ombros do Pateta
Eduardo
Bolsonaro não é exilado político. Pela lei americana, em especial
a Lei de Refúgio de 1980, não é elegível ao asilo político o
estrangeiro sobre o qual há sérias razões para considerar que tenha cometido um
crime comum grave fora dos EUA, ou que tenha ordenado, incitado, auxiliado ou
participado da perseguição de qualquer pessoa devido à sua opinião política.
É insincero o choro de crocodilo do clã Bolsonaro, dizendo-se perseguido ao ser pego pela Justiça tentando perseguir e matar seus inimigos políticos, segundo as investigações. Perseguição haveria se a família Bolsonaro tivesse sido bem-sucedida no golpe que intentou.
A ordem dos fatos revela que quem hoje alega
ser vítima de perseguição é quem planejou perseguir oponentes. Primeiro,
espalham desinformação sobre urnas. Segundo, pedem intervenção militar
acampando em quartéis, com a conivência de militares. Terceiro, organizam a
invasão das sedes dos três Poderes, depredando o patrimônio público na
tentativa de um golpe de Estado em plena luz do dia. Quarto, são acusados de
arquitetar a abolição violenta do Estado democrático de Direito com direito
a minuta
do golpe e plano de assassinato.
Pela lei internacional, em particular a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951,
Eduardo Bolsonaro deveria provar um medo fundamentado de perseguição por
motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. Por
exigir que seja fundado, o medo não pode, claro, ser hipotético: ao contrário
da vitimização que promove, Eduardo Bolsonaro nem sequer foi indiciado pela PF
pela trama golpista, tampouco chegou a ter seu passaporte apreendido. O pedido
de asilo político nos EUA é mais uma fuga de um falso patriota de seu próprio
país do que uma resposta a uma perseguição institucional que não há.
Entre a Disney e o
seu país, Eduardo Bolsonaro preferiu chorar nos ombros do Pateta. Se a Casa
Branca decidir, de forma discricionária, conceder-lhe asilo político, provará
que golpe de Estado para Trump é questão de liberdade de expressão e nada mais.
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