Folha de S. Paulo
Ele e os seus serão julgados conforme a lei,
o que a ditadura que admiram não permitia aos adversários
Bolsonaro precisa aprender português. Quer ser absolvido de crimes que diz não ter cometido. Como ser absolvido de algo de que não se é culpado? Outro dia subiu a um palanque para pedir anistia para os inocentes que tocaram o terror em Brasília no 8/1 na tentativa de induzir o Exército a dar um golpe. Mas é possível anistiar inocentes? E ele não admite que se condene a 17 anos uma doce velhinha de Bíblia na mão, saída de seu burgo na roça, apenas porque ela se deixou iludir pelas mentiras que ele próprio disseminou. Como ela poderia saber que estaria em tão más companhias quando lhe ofereceram um passeio a Brasília com tudo pago e uma aprazível temporada num camping diante de um quartel?
O general Braga Netto também deveria ver sua
prisão preventiva como uma saison de merecidas férias. Afinal, não está numa
cela gradeada e úmida, entre bandidos carentes e mal-intencionados. Está muito
bem instalado num quarto com armário, frigobar, TV, ar-condicionado e banheiro
exclusivo, no quartel da 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, em Deodoro,
Zona Oeste do Rio, a 50 quilômetros de seu antigo apartamento em Copacabana.
Muito melhor do que as celas do tempo de seu chefe nos anos 1970, o general Sylvio
Frota, em que os presos políticos, em vez daqueles confortos, só dispunham de
pau de arara, máquina de choques, cadeira do dragão, estupros e eventual
"suicídio".
Bolsonaro e seus seguidores estão convencidos
de que vivemos numa ditadura comandada por Alexandre
de Moraes. É refrescante saber que ele e os seus se converteram à
democracia, depois de tantos anos louvando a ditadura, cujo defeito foi não ter
matado tanta gente como eles gostariam.
E, convictos da parcialidade da Justiça
contra eles, deveriam ficar aliviados por saber que serão julgados conforme a
lei, em tribunais reconhecidos, com ampla possibilidade de defesa, mil recursos
e transmissão pela TV e pela internet. Os réus da ditadura não tinham essa
colher de chá.
Isso quando sobreviviam para chegar a réus.
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