O Estado de S. Paulo
É preciso cobrar do governo uma atuação bem mais forte pelo crescimento econômico do País
A notícia foi divulgada pelo IBGE no dia 7 de
março de 2025, e só hoje a estou comentando porque no dia anterior eu havia
publicado meu artigo neste espaço, e escrevo a cada duas semanas. O governo e
muitas pessoas se contentaram com a taxa de 3,4%, mas ela veio de novo no
contexto de baixas taxas de crescimento econômico desde 1980. E esse
crescimento é cíclico, em ondas que não se sustentam. Entendo que isso ainda é
mal compreendido pela população do País, que parece dominada por baixas
aspirações quanto ao crescimento econômico nacional e não reclama.
De minha parte, acho que o Brasil deveria ter uma meta de crescimento maior, começando com 4% ao ano, e num caminho marcado por mais investimentos públicos e privados, porque hoje são muito baixos. E são maiores investimentos em Formação Bruta de Capital Fixo que levam a uma produção maior, a mais empregos, mais renda, tudo aquilo que impulsiona a economia de um país e seu Produto Interno Bruto (PIB).
O relatório do IBGE sobre 2024 e seus demais
dados mostram duas fragilidades importantes do PIB. A primeira foi que esta
taxa de investimento relativamente ao PIB manteve-se em nível baixo, de 17%,
quando para crescer bem mais precisaria ficar mais próxima de 25% do PIB.
A segunda fragilidade é que a partir do
segundo trimestre de 2024 as taxas trimestrais de variação do PIB foram
decrescentes até o último trimestre. Mais precisamente, 1,3%, 0,7% e 0,2% no
segundo, terceiro e quarto trimestres, respectivamente. E isso é um dos fatores
que sustentam as previsões da maioria dos analistas, de que em 2025 o PIB
crescerá mais perto de 2% do que de 3%, lembrando que as taxas de 2022, 2023 e
2024 ficaram próximas desta última, ou seja, 3%, 3,2% e 3,4%, respectivamente.
Isso levaria a um novo ciclo de taxas insatisfatórias, que marca a maior parte
das taxas pós-1980.
Segundo o IBGE, pela “(...) ótica da despesa,
houve crescimento de 7,3% da Formação Bruta de Capital Fixo, os investimentos.
Tal crescimento é explicado pelo aumento tanto da produção interna de bens de capital
quanto de sua importação, além da expansão da Construção e do Desenvolvimento
de Software”. Mas a taxa de investimento anual só passou de 16,4% para 17% do
PIB entre 2023 e 2024.
Volto agora, mais uma vez, à minha repetida
pregação, que resume a situação da economia retornando ao passado e
contemplando o futuro próximo, a visão dos agentes políticos, que não
demonstram preocupar-se com o baixo crescimento econômico, e o que poderia ser
feito a respeito. Ao leitor peço desculpas pela repetição, mas pregações
precisam ser repetidas para que tenham alguma chance de serem ouvidas.
No momento, como vimos, a situação da
economia olhando o presente e o futuro é a de um ciclo em que suas três últimas
taxas anuais, em torno de 3%, se esgotaram e a perspectiva é de um crescimento
mais próximo de 2%. Olhando a área política federal, o presidente Lula continua
preocupado, mesmo, é com sua reeleição e segue uma política de gastos que
provoca inflação e contrasta com a disposição do Banco Central de combatê-la
levando a juros elevados, que também oneram a dívida pública e prejudicam o
investimento, que permitiria maior crescimento.
Sua mais recente medida, populista, voltada
para sua queda de popularidade e confirmada na terça-feira passada, foi a
remessa ao Congresso Nacional de um projeto de lei que isenta o Imposto de
Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e corta o imposto para quem ganha
entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, com uma perda de arrecadação estimada pelo governo
em R$ 27 bilhões, mas que alguns analistas calculam que poderá ser maior. Essa
conta o governo pretende financiar com o aumento de alíquota para quem ganha
acima de
R$ 50 mil, o que os atingidos procurarão
contornar em parte. Ademais, há o risco de o Congresso aprovar a isenção, e não
a nova tributação. Sem se preocupar com o crescimento, é por aí que o governo
segue gerando também novas incertezas, que diminuem a confiança dos
empreendedores e os seus investimentos.
Quanto ao Congresso, ele tampouco demonstra
maior preocupação com o crescimento econômico do País e aparenta estar mais
interessado nas suas emendas parlamentares. Na minha opinião, elas deveriam ser
completamente extintas, pois a Constituição diz que todos são iguais perante a
lei, mas nas eleições os parlamentares que distribuíram emendas têm maiores
chances de serem eleitos do que os candidatos sem mandato, conforme demonstrado
pelas eleições passadas.
Para voltar a atenção do governo para o
crescimento, um caminho, já apontado anteriormente, seria pressioná-lo para
criar uma meta começando com 4% ao ano, que, se não cumprida, abriria uma
grande discussão dos fatores que impediram isso e como atuar em sentido
contrário. Isso ocorre com a meta de inflação. Como a sociedade em geral não
pressiona pelo crescimento econômico, minha proposta é de que os empresários,
por meio de suas associações, se organizassem para exercer essa pressão. E a
imprensa também poderia colaborar na mesma direção.
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