Valor Econômico
O colegiado indicou claramente que a próxima alta dos juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual utilizado nas três últimas reuniões
O Comitê
de Política Monetária (Copom) do Banco Central preferiu
jogar no seguro, dizendo
claramente que o ciclo de aperto monetário não terminou, evitando reações
negativas de setores do mercado que defendiam uma postura mais firme do comitê.
O colegiado procurou manter as rédeas do
ciclo de aperto monetário, indicando também claramente que a próxima alta dos
juros, a ser decidida em maio, será menor do que o ritmo de 1 ponto percentual
utilizado nas três últimas reuniões.
Qual vai ser a próxima decisão do Copom? A sinalização deixa em aberto três possibilidades: alta de 0,75 ponto, de 0,5 ponto e de 0,25 ponto. Está certo que, hoje, parece improvável uma alta de apenas 0,25 ponto percentual, dado o cenário inflacionário como um todo. Mas essa hipótese não foi excluída do leque de possibilidades e, portanto, não deveria ser completamente ignorada.
Um aspecto curioso é que, como o Copom deixa
na mesa três possibilidades, o ponto médio traz mais informações. Quando o BC
deixa a porta aberta para movimentos, por exemplo, de 0,5 ponto e de 0,25
ponto, o ponto médio está em 0,375 ponto percentual. Com três possibilidades, o
ponto médio está em 0,5 ponto percentual.
O Copom tinha que tomar uma decisão sobre
quanto comunicar. Se deixasse de dar indicações mais claras sobre os seus
passos futuros, havia o risco de participantes do mercado financeiro entenderem
que o ciclo de aperto monetário acabou ou está próximo do fim.
Em janeiro, isso ocorreu, de certa forma.
Muitos acham que o trabalho com os juros não está feito, já que as projeções do
BC e do mercado indicam inflação acima da meta no horizonte relevante de
política monetária. Ou seja, haveria danos à credibilidade do Copom.
O lado negativo de sinalizar passos futuros é
que, se o cenário não transcorrer da forma prevista e o Copom tiver que tomar
uma decisão diferente da esperada, haveria danos à sua reputação. Num ambiente
com tanta incerteza como o atual, o melhor seria não sinalizar.
Entre esses dois riscos, o Copom procurou
minimizar o primeiro. Esse parece o caminho mais seguro, dado que está evidente
que a dose de juros é insuficiente para colocar a inflação na meta.
O Copom, porém, poderia ter resumido sua
sinalização a dizer que vai fazer mais. Mas o comitê deu um passo além: disse
que a próxima alta de juros será de uma menor magnitude. Isso exclui altas de 1
ponto percentual ou mais.
Neste momento, poucos no mercado contemplam
essa possibilidade, mas a indicação de que pretende fazer mais poderia ser
tomada como um sinal conservador ao mercado – e poderia aumentar a precificação
de que o ciclo de aperto monetário continuaria em 1 ponto por reunião.
Essa estratégia de manter as rédeas sobre o
ciclo de aperto tem sido adotada desde dezembro, quando o Copom aumentou o juro
em 1 ponto percentual e sinalizou mais dois movimentos na mesma magnitude. Essa
comunicação esvaziou apostas em uma eventual escalada no ciclo de aperto da
taxa Selic.
É bom lembrar que, no início do ciclo, o
Copom quase perdeu as rédeas, quando o mercado interpretou declarações do então
diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, como indicações mais
conservadoras.
Desde dezembro, o Copom vem seguindo a mesma
estratégia. Seus diretores têm dito frases como “o juro está bastante
contracionista” e “o aperto monetário foi um pouquinho além”.
São declarações que dizem muito pouco sobre a
que nível a Selic, efetivamente, vai chegar ao fim do ciclo de aperto. Os
dirigentes do BC têm repetido que cada decisão será tomada em cada uma das
reuniões. Mas as declarações vão ajudando a segurar a precificação do mercado.
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