quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Opinião do dia – Rosângela Bittar

Ainda está para ser contada a verdadeira história do apoio da cúpula do PMDB do Rio à candidatura de Pedro Paulo, denunciado por surrar a ex-mulher, à sucessão de Eduardo Paes. O que causou mais arregalos e franzidos recentes, em Brasília, não foi o que disse o prefeito, cuja defesa do candidato já era e continua inexplicável, mas foi a declaração do governador Pezão, de quem se esperava menor envolvimento emocional com o caso. Ele considerou os três registros de ocorrência na polícia "fofocas" de rivais de campanha. Uma tática totalmente petista. "Se quiserem ir para o pau, nós vamos para o pau".
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Rosângela Bittar, ‘Um governo no modo improviso’ , Valor Econômico, 25 de novembro de 2015

Cármen Lúcia sobre prisão: 'desfaçatez venceu cinismo'

• Segunda Turma do STF manteve decisão de Teori Zavascki, que determinou a prisão de Delcídio Amaral

Por Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA — Por unanimidade, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), composta por cinco ministros, confirmou na manhã desta quarta-feira a decisão tomada ontem pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, de mandar prender o senador Delcídio Amaral (PT-MS). O colegiado considerou gravíssima a acusação do Ministério Público Federal de que o parlamentar tentava obstruir as investigações sobre o esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. Em um discurso contundente, a ministra Cármen Lúcia comparou a Lava-Jato com o mensalão.

— Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que acreditamos que a esperança tinha vencido o medo. No julgamento da ação penal 470 (mensalão), verificamos que o cinismo venceu a esperança. Agora, ao que parece, estamos constatando que o a desfaçatez venceu o cinismo. Quero avisar que o crime não vencerá a justiça. A decepção não pode vencer a vontade de acertar no espaço público. Não se confunde imunidade com impunidade. A Constituição não permite a impunidade a quem quer que seja — disse Cármen.

Segundo as investigações, Delcídio teria oferecido dinheiro ao advogado Edson Ribeiro, contratado pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, em troca do silêncio de seu cliente. A investida não funcionou: em delação premiada, Cerveró citou o nome de Delcídio. O senador também teria prometido ao advogado a libertação de seu cliente, alegando ter acesso aos ministros do STF. Por fim, o parlamentar teria ajudado a planejar a fuga de Cerveró, caso ele obtivesse o habeas corpus.

A Constituição Federal dá imunidade aos parlamentares no exercício de suas funções. Eles só podem ser presos depois de condenados em sentença definitiva — ou seja, esgotadas as possibilidades de recurso judicial. No entanto, um parlamentar pode ser preso em flagrante, desde que seja pego cometendo crime inafiançável. Segundo os ministros da Segunda Turma, é o caso de Delcídio — que, segundo o Ministério Público, é suspeito de integrar organização criminosa.

Acusações 'gravíssimas'
O mais antigo integrante do STF, ministro Celso de Mello, fez forte discurso contra a corrupção no poder público. Segundo ele, a corrupção age como a ferrugem em relação ao ferro: é o agente decompositor das instituições democráticas.

— Ninguém, nem mesmo o líder do governo do Senado, está acima da autoridade das leis que regem esse país. A Constituição autoriza excepcionalmente a prisão cautelar de um parlamentar. Os fatos são extremamente graves — declarou.

Indignado, o ministro considerou “gravíssimas” as acusações contra o senador.

— A delinquência institucional cometida na intimidade do poder por marginais que se apossaram do aparelho de Estado se tornou realidade perigosa, que vilipendia, que profana e que desonra o exercício das instituições e deforma e ultraja os padrões éticos. É preciso esmagar e destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos que atentaram contra as leis penais da República e contra os sentimentos de moralidade e de decência do povo brasileiro — disse o decano.

O presidente da Segunda Turma do STF, ministro Dias Toffoli, criticou as pessoas que tentam vender influência.

— Infelizmente, estamos sujeitos a esse tipo de situação, pessoas que vendem ilusões, mensageiros que tentam dizer "conversei com fulano, conversei com cicrano e vou resolver a sua situação". Infelizmente, são situações que ocorrem. Não é a primeira vez que isso ocorre. O que importa é o seguinte: o Supremo Tribunal Federal não vai aceitar nenhum tipo de intrusão nas investigações que estão em curso e é isso que ficou bem claro na tomada dessa decisão unânime e colegiada — afirmou Toffoli, em entrevista após o fim da sessão da Segunda Turma realizada nesta quarta-feira.

O ministro destacou a importância de a decisão do ministro Teori Zavascki ser referendada pela Segunda Turma.

— O ministro Teori Zavascki tomou essa decisão comunicando aos colegas e unanimemente entendemos que essa decisão, diante da gravidade da situação, deveria ser decidida ser ratificada também pelo colegiado, como foi na data de hoje. Isso é agora uma decisão da Segunda Turma do STF, tanto a prisão em situação de flagrância do senador Delcídio Amaral como também as outras prisões, temporária e preventiva, decretadas — afirmou Toffoli.

ITV: Organização criminosa Ltda.

• A corrupção petista é a origem das mazelas que tornam a vida no país hoje um verdadeiro inferno. Não é preciso procurar mais razões para pôr fim a este ciclo

O amigão do ex-presidente Lula que tinha passe livre no Planalto foi preso ontem. O líder do governo no Senado foi preso hoje de manhã. O que mais falta para que fique comprovado, de uma vez por todas, que o país está sendo comandado por uma organização criminosa? O que mais falta para que esta nefasta experiência tenha fim, com a expulsão do PT do poder?

De personagem secundário, José Carlos Bumlai ganhou holofotes no governo petista por causa da sua proximidade com Lula. Era tamanha que, depois de ter sido inadvertidamente barrado por seguranças na entrada do Planalto, o cerimonial do palácio fez baixar um alerta avisando todas as portarias de que o pecuarista amigão deveria ter acesso irrestrito ao prédio, "em qualquer tempo e circunstância". Os limites de atuação de Bumlai, contudo, eram muito mais largos do que se supunha à época.

A Operação Lava Jato suspeita que o amigão de Lula tornou-se um dos mais ativos pontas de lança no esquema de desvio de dinheiro público para os cofres do PT. Bumlai pode ter sido, nos anos recentes, o que Marcos Valério foi para o partido no auge do mensalão. Um sucede o outro, assim como o petrolão sucede o escândalo, já punido pelo STF, da compra de apoio parlamentar pelo governo petista no Congresso.

As fontes da grana eram diversas: empréstimos fictícios em bancos para pagar dívidas de campanha (qualquer semelhança com o mensalão não é mera coincidência), propina para obtenção de contratos públicos bilionários (o DNA do petrolão presente), concessão de financiamentos públicos para amigos do rei e de distribuição de benefícios financeiros para seus familiares (comprovando que o Estado petista esteve sempre a serviço dos "mais pobres").

Também renascem nas atuais investigações as recorrentes suspeitas de que, desde que assumiu a primeira prefeitura no país, o PT vale-se de esquemas corruptos para levantar dinheiro para financiar seu projeto de poder. Foi assim em Ribeirão Preto, foi assim em Campinas, foi assim em Santo André, resultando, neste caso, na morte trágica de um de seus principais quadros à época. Com o tempo, o esquema só ganhou escala - e como!

A prisão de Bumlai ressalta, ainda, as suspeitas sobre os ataques petistas ao caixa farto do BNDES, onde a firma do pecuarista, mesmo falida, obteve empréstimos generosos e baratinhos. Reforça a convicção de que o assalto aos cofres do Estado brasileiro foi muito além do mensalão, ultrapassaram o petrolão e chegaram às demais joias da coroa, incluindo o banco e demais estatais. Há operações e beneficiários de sobra para investigar.

Foi do caixa do BNDES que saíram empréstimos bilionários nos últimos anos para azeitar a relação do petismo com empresários. Esta simbiose deu sustentação política aos governos de Lula e Dilma, ao mesmo tempo em que drenava os recursos do Estado brasileiro. São os mesmos recursos que hoje faltam para sustentar as políticas sociais ou para impulsionar o crescimento econômico de um país arruinado.

Por sua vez, a prisão, nesta manhã, do senador Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, cria mais uma ponte direta (o Palácio do Planalto já está cheio delas) entre o escândalo que pode ter resultado em mais de R$ 40 bilhões desviados da Petrobras e a gestão da presidente Dilma Rousseff. O que mais é preciso para levar adiante o pedido para que ela seja, constitucionalmente, investigada e apeada de lá?

O preço da predação do aparato estatal por parte do PT está sendo pago cotidianamente pela população brasileira na forma de recessão, desemprego, desalento e inflação. A corrupção petista é a origem das mazelas que tornam a vida no país hoje um verdadeiro inferno. Não é preciso procurar mais razões para pôr fim a este ciclo.

Os nomes dos principais beneficiários diretos desta organização criminosa também são sobejamente conhecidos. Comprova-se que os processos eleitorais desenrolados sob o corrupto manto que a Operação Lava Jato ora descortina foram ilegítimos. Falta agora às investigações chegar ao amigão de Bumlai e apurar a fundo como se deram a eleição e a reeleição da amigona do amigão de Bumlai. Falta apenas chegar ao principal.

PF prende amigo de Lula e investiga crédito do BNDES

PF mira em empréstimo do BNDES a amigo de Lula

• Em 2012, outra empresa do amigo do ex-presidente Lula, com apenas 7 funcionários, pegou R$ 101 milhões do banco e valor total em três operações passa dos R$ 500 milhões; PF quer cópias de contratos para saber se liberação de créditos seguiu normas

Por Fausto Macedo, Andreza Matais, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

A força-tarefa da Operação Lava Jato mira em financiamentos concedidos pelo BNDES a empresas do pecuarista José Carlos Bumlai. São alvos da investigação a São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1, empresas sob administração dos filhos do amigo do ex-presidente Lula. Bumlai foi preso nesta terça-feira, 24, na Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato.

A São Fernando Açúcar e Álcool foi beneficiária de um primeiro empréstimo, no montante de R$ 64 milhões, em fevereiro de 2005, quatro meses depois do empréstimo de R$ 12 milhões concedido pelo Banco Schahin a Bumlai – dinheiro que teria sido destinado ao PT, segundo a investigação.

“A Receita constatou que a empresa estava inativa na época, não tinha empregado, nem receita operacional quando ocorreu o primeiro empréstimo”, assinala o procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa do Ministério Público Federal.

Em 2008 foi realizado um segundo empréstimo em favor da São Fernando Açúcar e Álcool, no valor de R$ 388 milhões. “Naquele ano já havia pedido de falência dessa empresa, já havia sido protocolado pedido de falência contra a São Fernando Açúcar e Álcool”, informou o procurador.

Em 2013, ainda de acordo com a Lava Jato, a São Fernando Açúcar e Álcool entrou em recuperação. Os investigadores relatam que, em agosto de 2015, o BNDES pediu falência da empresa, com dívidas acumuladas de mais de R$ 1 bilhão. A dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, segundo os investigadores, chega a R$ 400 milhões, ‘créditos foram sendo concedidos e não pagos ao longo do tempo’.

A outra empresa de Bumlai, a São Fernando Energia, consta na base de dados da Receita como beneficiária de novo aporte do BNDES, em 2012, no valor de R$ 101 milhões. “Em 2012, (a São Fernando Energia) contava com apenas 7 funcionários. Ela dá um aporte no capital social de R$ 10 mil para R$ 30 milhões e começa a ter atividade operacional. Os fatos ainda estão sob investigação, por isso a diligência de hoje para obtenção de contratos no próprio BNDES. Temos que saber se a liberação desse crédito seguiu as normas.”

Com a palavra, o BNDES
Diferentemente das informações que têm circulado por meio da imprensa, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enfatiza que não realizou qualquer operação de crédito com as empresas São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1 no ano de 2005.
Na verdade, o financiamento de R$ 64,6 milhões, ao qual as reportagens se referem, ocorreu em 03/02/2009. O objetivo era a implantação do primeiro sistema de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar, complementar ao processo de produção de açúcar e álcool da usina São Fernando Açúcar e Alcool. Na ocasião da assinatura do contratao, também de maneira diversa ao que vem sendo afirmado, o cadastro da empresa na Receita encontrava-se ativo.

Com relação ao contrato de R$ 101,5 milhões, celebrado em 23/07/2012 com os agentes financeiros Banco do Brasil e BTG, para repasse de recursos à São Fernando Energia, trata-se da implantação do segundo sistema de cogeração, também acoplado aos demais processos produtivos da unidade São Fernando Açúcar e Álcool.

Portanto, não faz sentido a afirmação de que o financiamento teria sido direcionado a uma empresa que possuía menos de uma dezena de funcionários. Qualquer avaliação de grau de atividade da unidade de cogeração ou de seu contingente de empregados não pode ser feita de forma isolada e independentemente dos demais processos da usina como um todo. Tal modelo de operação é usual no setor sucroalcooleiro, havendo diversos clientes do BNDES com financiamento concedido para unidades de cogeração acopladas, similares à operação em questão.

Histórico – O histórico de relacionamento do BNDES com o Grupo São Fernando é o seguinte: o BNDES possui dois tipos de operações de financiamento com o Grupo. Os primeiros créditos, no valor de R$ 395,17 milhões, foram concedidos de maneira direta, em 2008 e 2009, para a São Fernando Açúcar e Álcool. Já a operação indireta, no valor de R$ 101,5 milhões, foi contratada em 2012 com a São Fernando Energia.
Os agentes financeiros da operação indireta foram Banco do Brasil e BTG Pactual. Como é de praxe nesse tipo de operação, os agentes foram responsáveis pela análise cadastral do cliente e assumiram o risco da operação.

A concessão dos créditos à São Fernando seguiu todos os procedimentos do BNDES, com total lisura e sem qualquer irregularidade. Os detalhes das operações são os seguintes:

1. Contratos de Financiamento na Modalidade Direta
A São Fernando Açúcar e Álcool Ltda. obteve créditos do BNDES para financiar a implementação de uma usina produtora de açúcar e etanol no município de Dourados-MS e a implantação do primeiro sistema de cogeração de energia elétrica. O crédito para a construção da usina, de R$ 330,509 milhões, foi contratado em 12/12/2008, e o empréstimo para a cogeração, de R$ 64,664 milhões, foi firmado em 3/2/2009. O valor total dos contratos foi de R$ 395,173 milhões. Em relação a tais contratos, cumpre destacar:

• A operação contou com garantia solidária da Heber Participações S.A. (pertencente ao Grupo Bertin) e da São Marcos Energia e Participações Ltda. (pertencente à família Bumlai), com cobertura integral da dívida, bem como a hipoteca do conjunto de imóveis onde está localizada a Usina.

• As operações somente foram realizadas em função da classificação de risco satisfatória do Grupo Bertin à época, e seguiram todos os trâmites internos do BNDES.

• O projeto foi totalmente concluído. A usina entrou em plena operação em julho de 2010, estando em atividade atualmente.Em 2012, diante das dificuldades financeiras da São Fernando, agravadas por um conjunto de fatores estruturais relacionados ao setor sucroalcooleiro, foi realizada, com o BNDES, a renegociação dos créditos, com as seguintes características:

• Não houve liberação de novos recursos.
• O refinanciamento da dívida foi feito sem qualquer desconto ou dispensa e com manutenção da taxa contratual, do prazo final de amortização e das garantias reais e pessoais já contratadas.

• Houve reforço das garantias reais e pessoais, por meio, dentre outras, da constituição de fiança solidária dos Srs. Maurício Bumlai, Guilherme Bumlai e José Carlos Bumlai.
Em 2013, a São Fernando, que até então se encontrava adimplente com o BNDES, ingressou com pedido de recuperação judicial e interrompeu os pagamentos ao Banco e demais credores. A renegociação no âmbito da Recuperação Judicial teve as seguintes características:

• Não houve quaisquer dispensas, sendo o saldo devedor total contemplado no âmbito do Plano de Recuperação Judicial (PRJ), com a manutenção dos juros contratuais, das garantias reais e pessoais. Isso foi possível em função das garantias sólidas negociadas anteriormente pelo BNDES.

• Em outubro de 2014, a São Fernando tornou-se inadimplente em relação às obrigações financeiras do PRJ.

• O BNDES promoveu ação de execução judicial em face de todos os fiadores e, após o insucesso do PRJ e em conformidade com a legislação, requereu a falência de São Fernando nos autos da Recuperação Judicial.

• O BNDES já obteve uma recuperação relevante dos créditos desde o início do processo.

2. Contrato de Financiamento na Modalidade Indireta
• A partir do segundo semestre de 2011, a São Fernando iniciou um plano de reestruturação, capitaneado pelo BTG Pactual.

• Tal reestruturação contemplava a readequação da estrutura financeira do segundo sistema de cogeração de energia, construído pela São Fernando por meio de dívidas de curto prazo e elevado custo financeiro com outras instituições bancárias.

• O formato da operação foi indireto, com repasse dos recursos do BNDES pelos agentes financeiros Banco do Brasil e BTG Pactual.

• Cumpre destacar que, na modalidade indireta, o risco de crédito da operação não é do BNDES, mas sim dos agentes financeiros repassadores à beneficiária final, a quem cabe a análise cadastral e de risco da operação.

• BTG Pactual e Banco do Brasil foram os agentes financeiros repassadores e encontram-se adimplentes com o BNDES nesta operação indireta.

• A operação indireta possibilitava a melhoria da estrutura financeira da empresa e, por consequência, o aumento das chances de recuperação do crédito concedido pelo BNDES na modalidade direta.

3. Considerações Finais:
• As normas internas do BNDES foram rigidamente observadas em todas as operações mencionadas.

• Atualmente o BNDES possui garantias reais para fazer frente à dívida existente e o crédito está em processo de recuperação.

• Todas as medidas judiciais em face de São Fernando e dos garantidores foram tomadas pelo BNDES e estão em andamento, dentre elas, no bojo da recuperação judicial, o pedido de decretação de falência da São Fernando.

Prisão de amigo de Lula preocupa PT e Planalto


  • Pecuarista teria feito operação fraudulenta para saldar dívida de campanha petista

Amigo do ex-presidente Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai foi preso pela LavaJato, acusado de operação fraudulenta em contrato do grupo Schahin com a Petrobras para pagar dívida do PT em 2004. A 21ª fase da LavaJato foi batizada de Passe Livre porque Bumlai tinha acesso liberado ao Planalto quando Lula era presidente. O juiz Moro disse que não há prova contra Lula. A PF investiga suposta ligação do empréstimo com o caso Celso Daniel.

Amigo de Lula na cadeia

  • Lava-Jato diz que Bumlai ofereceu contrato na Petrobras para pagar divida de campanha do PT

Cleide Carvalho e Jaqueline Falcão - O Globo

-SÃO PAULO e CURITIBA- O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso ontem em Brasília pela Polícia Federal, na 21ª fase da Operação Lava-Jato, horas antes de ir ao Congresso prestar depoimento na CPI do BNDES. Bumlai é acusado de ter intermediado um contrato bilionário do Grupo Schahin com a Petrobras em troca da anistia de um empréstimo contraído por ele junto ao Banco Schahin para pagar dívidas da campanha presidencial do PT em 2002, quando Lula foi eleito.

A PF batizou a operação de ontem de Passe Livre, pela facilidade com que Bumlai transitava no Palácio do Planalto durante o governo Lula. Mas, embora muitos delatores tenham afirmado que o pecuarista usava o nome de Lula, a Operação Lava-Jato diz que não há provas contra o ex-presidente.

Segundo a denúncia, o esquema de Bumlai envolveu dois ex-tesoureiros do PT — Delúbio Soares e João Vaccari Neto —, que agiram em momentos diferentes da negociação com o grupo Schahin, e passou pelo Palácio do Planalto, mais precisamente por José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, preso na Lava-Jato. Para o juiz Sérgio Moro, o pecuarista disponibilizou seu nome e o de suas empresas para “viabilizar de maneira fraudulenta recursos a partido político, com todos os danos decorrentes à democracia”.

O nome de Bumlai foi vinculado ao escândalo da Petrobras pelos delatores Fernando Baiano, Eduardo Musa (exgerente da Petrobras) e Salim Schahin — este último justamente dono do banco que fez o empréstimo para Bumlai e da empresa que fechou o contrato com a Petrobras. O Ministério Público Federal afirma que o pecuarista usou um esquema baseado em empréstimos bancários para desvio de dinheiro público. Para o procurador Diogo de Mattos, o mecanismo repetiu o mensalão.

— Um empréstimo que nunca é cobrado, especialmente por uma instituição financeira, que tem enormes prejuízos pela não cobrança, é indicativo claro de que era simulado — afirmou Mattos.

DÍVIDA DE CAMPANHA DO PT
A Lava-Jato fez a vinculação entre um empréstimo de R$ 12,1 milhões concedido pelo Banco Schahin a Bumlai, em 2004, e um contrato de US$ 1,6 bilhão que o grupo Schahin fechou com a Petrobras, em 2009, para operar o naviosonda Vitória 10000 por 20 anos. Baiano e Musa delataram que Bumlai intermediou o negócio com o objetivo de saldar parte da dívida de R$ 60 milhões da campanha do PT de 2002.

O mais importante dos delatores é Salim Schahin, sócio do grupo que leva o sobrenome da família. Ele confirmou que o empréstimo dado a Bumlai foi negociado numa reunião na sede do banco com a presença de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT. Para dar segurança aos banqueiros de que estavam fechando um negócio com o PT, Delúbio e Bumlai teriam dito que, “como evidência adicional”, a Casa Civil procuraria um dos acionistas do Schahin. Salim disse que, de fato, recebeu dias depois um telefonema do então ministro Dirceu. Contou que falaram apenas amenidades, mas, para o banqueiro, “a mensagem estava entendida”.

No mesmo ano em que recebeu o crédito do banco Schahin, Bumlai emprestou R$ 12,6 milhões à Fazenda Eldorado, de Natalino e Silmar Bertin, ambos levados a depor coercitivamente ontem. A dívida de Bumlai com o banco Schahin, porém, nunca foi paga — o acerto só veio após o grupo conseguir o contrato com a Petrobras, em 2009. O banco chegou a renovar o empréstimo três vezes, em 2005. Em seguida, fez três empréstimos à Agro Caieiras, outra empresa de Bumlai, para que fosse quitado o financiamento inicial.

Sem receber até 2006, Salim Schahin diz ter procurado o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em busca de “auxílio político” para que o grupo obtivesse o contrato com a Petrobras. Segundo ele, ficou combinado que a contratação quitaria o empréstimo de Bumlai.

Em 2007, ainda durante as negociações, a dívida de Bumlai foi transferida à securitizadora do grupo Schahin, tirando o banco, que hoje pertence ao BMG, da mira do Banco Central. A esta altura, o valor da dívida alcançava R$ 21,2 milhões. Salim diz ter se encontrado várias vezes com Vaccari para discutir o assunto, e que o tesoureiro do PT teria lhe dito que Lula estava “a par do negócio”.

Fernando Baiano disse ter sido procurado por Bumlai em 2006 para intermediar negócios com a Schahin. O contrato para a Schahin operar o navio-sonda Vitória 10000 chegou a ser levado duas vezes à diretoria da Petrobras, sem sucesso. Baiano disse que, para resolver o problema, Bumlai acionou os contatos dele, em especial José Sérgio Gabrielli, então presidente da estatal, e Lula. Segundo Baiano, depois disso o negócio foi aprovado. Quem levou o contrato para a diretoria da estatal foi Eduardo Musa.

PROPINA NA SUÍÇA
Quando o contrato com a Petrobras foi fechado, os Schahin consideraram quitada a dívida de Bumlai com o banco, e para isso simularam ter recebido o pagamento em embriões de gado. A Schahin passou a pagar propina para dirigentes da Petrobras. Musa, por exemplo, recebeu US$ 720 mil na Suíça. Já Baiano disse que Jorge Luz, operador do PMDB, que ficara fora das tratativas, também negociou com a Schahin propina entre US$ 3 milhões e US$ 4 milhões.

Na operação de ontem, dois filhos de Bumlai e uma nora foram levados coercitivamente para depor. O MPF havia pedido a prisão temporária dos três, mas Sérgio Moro negou.

Além das delações, a quebra de sigilo de Bumlai revelou “saques sucessivos e vultosos”, em espécie, feitos até 2014, nas contas bancárias dele e de suas empresas. Para Moro, saques em dinheiro não constituem crime, mas são expediente usado “para evitar rastreamento bancário”. Em 2011, ocorreram duas transferências, de R$ 1 milhão cada, da São Fernando Açúcar e Álcool, de Bumlai, para a empresa de fachada Legend, que lavou dinheiro de dirigentes da Petrobras.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) identificou também quatorze saques em dinheiro, em quantias superiores a R$ 100 mil, das contas da usina, entre 2010 e 2013. Nas contas pessoais do pecuarista foram 21 saques em espécie, num total de R$ 3,3 milhões. Um dos saques foi feito pelo policial militar Marcos Ferreira, também levado a depor ontem na Polícia Federal.

As relações entre Bumlai, PT, Schahin e Petrobras

José Carlos Bumlai, amigo do então presidente Lula ,se reúne com os acionistas do grupo Schahin, dono do Banco Schahin, para discutir um empréstimo de R$ 12,18 milhões que serviria para pagar dívidas da campanha presidencial do PT de 2002.

Outubro de 2004
O banco concede empréstimo de R$ 12,18 milhões a Bumlai. Desde o primeiro mês, as parcelas do financiamento não foram pagas.

2005
O empréstimo de Bumlai passa a ser renovado por meio de aditivos, assinados em março, maio e julho de 2005. O valor da dívida sobe para R$ 15,776 milhões. Nenhuma parcela é paga. Diante da pressão do banco sobre Bumlai, Delúbio vai à sede do banco Schahin com o publicitário Marcos Valério, hoje condenado no mensalão, e informa que Valério está ajudando a resolver do problema. Nada é resolvido.

2006
Salim Schahin procura João Vaccari Neto, então tesoureiro do PT, para pedir “auxílio político” para a Schahin ser contratada pela Petrobras para operar o navio-sonda Vitória 10000. Fica decidido, segundo o empresário, que a contratação levaria à quitação do empréstimo de Bumlai.

Fernando Baiano entra no negócio, a pedido de Bumlai, para fazer com que a Schahin seja contratada pela Petrobras. Baiano diz ter ouvido de Bumlai que a finalidade do empréstimo foi quitar dívidas da campanha de 2002. E que Bumlai foi avalista por ter “relação de amizade muito forte” com o então presidente Lula.

De acordo com Salim Schahin, presidente do grupo, Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, participa da segunda reunião e confirma interesse do partido. Delúbio e Bumlai informam que, “como evidência adicional” do interesse, a Casa Civil procuraria os acionistas do banco. Dias depois, Salim recebe um telefonema do então ministro da Casa Civil, José Dirceu.

2011
Eduardo Musa começa a receber propina da Schahin em depósitos na Suíça. Recebeu US$ 720 mil por meio de quatro offshores entre janeiro de 2011 e maio de 2013.

27 janeiro de 2009
É fechado por US$ 1,6 bilhão o negócio entre a Petrobras e a Schahin para operação do navio-sonda Vitória 10000 durante 20 anos. O Banco Schahin dá desconto de R$ 6 milhões na dívida de Bumlai e simula ter recebido o restante do pagamento em embriões de gado.

2007
O Banco Schahin transfere para a securitizadora do grupo o empréstimo dado às empresas de Bumlai (inicialmente usado para pagar dívidas do PT). O valor chega a R$ 21,267 milhões. Salim diz ter se encontrado diversas vezes com

Vaccari para falar da contratação da Schahin pela Petrobras. Diz ter recebido de Vaccari a informação que Lula “estava a par do negócio”.

Dezembro de 2006
O operador Jorge Luz negocia com a Schahin pagamento de propina entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões para a Diretoria Internacional da Petrobras.

É realizada um reunião entre sócios do grupo Schahin e Nestor Cerveró, diretor da área Internacional da Petrobras, para discutir a operação do navio-sonda Vitória 10000. O então gerente da Petrobras Eduardo Musa leva a proposta à diretoria executiva da estatal. Baiano diz que pressionou Bumlai a acionar seus contatos, em especial José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras, e Lula. O negócio é aprovado.

Prisão deixa Planalto apreensivo, e Lula vê ofensiva contra ele

• Em despacho, Moro diz que não há nenhuma prova contra o ex-presidente

Sérgio Roxo, Simone Iglesias Catarina Alencastro - O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O juiz Sérgio Moro disse, no despacho que determinou a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, que não há nenhuma prova de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja envolvido nos atos ilícitos levantados pela investigação. Apesar das palavras de Moro, a prisão de Bumlai reforçou entre os aliados de Lula a sensação de que existe uma ofensiva para envolver o ex-presidente na Operação Lava-Jato. Irritados, petistas reclamaram da seletividade das prisões e afirmaram que o objetivo é acabar com a reputação do ex-presidente e inviabilizar uma eventual candidatura em 2018.

— É claro que ele (Lula) acha que estão tentando pegá-lo — disse uma pessoa próxima a Lula.

Os aliados reafirmaram ontem que, desde que o nome de Bumlai surgiu na Lava-Jato, Lula vem afirmando que se o pecuarista solicitou algum valor para empresários agiu sem o seu aval. E disseram ainda que a proximidade entre os dois não era tão grande como foi propagada, apesar de Bumlai frequentar o Instituto Lula e a casa do ex-presidente.

Ontem, o líder petista tentou manter a rotina, mesmo depois de saber da deflagração da operação que prendeu Bumlai. Pela manhã, Lula gravou vídeos para um programa de formação política do PT e tentou passar tranquilidade aos assessores mais próximos. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, reconheceu que a prisão provoca “chateação” para o ex-presidente, mas garantiu que ele não está preocupado:

— Nessas horas, quem fez alguma coisa errada fica preocupado. Quem não fez fica tranquilo. O Lula está tranquilo.

Governo: crise ampliada
Já para auxiliares da presidente Dilma Rousseff, a prisão amplia ainda mais a crise, dificultando a recuperação política do governo. Para ministros ligados a Lula, a prisão desgasta o ex-presidente.

A prisão do pecuarista é vista no PT como mais um degrau para se chegar a uma investigação que atinja Lula, impedindo que ele e o partido se reabilitem. Um auxiliar de Dilma disse que ela se enfraquece com essa ação, à medida que o projeto do PT se enfraquece. Para esse auxiliar, a fase Passe Livre é autoexplicativa, veio a campo para tentar chegar a Lula e que se tiver fundamentos significa a “derrocada do projeto”, levando o ex-presidente, Dilma e o partido. Segundo ele, há um temor, dentro do governo, que a operação atinja o governo no peito, interrompendo precocemente o governo Dilma.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), alegou, porém, que o fato em nada atrapalha o governo:

— O Brasil tem amigo de todos os lados. Isso não atrapalha em nada o governo.

Já o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), 2º vice-presidente da CPI do BNDES, fez críticas à Lava-Jato e à prisão de Bumlai:

— Temos visto na Lava-Jato inúmeras prisões feitas exclusivamente para forçar delações premiadas. É uma quebra do Estado Democrático de Direito. Estamos indo para uma situação perigosa. A atuação da equipe da Lava-Jato é perigosa para o país. Bumlai tem endereço fixo, poderia perfeitamente ser chamado a depor.

Zarattini criticou as buscas realizadas na sede do BNDES e afirmou que os contratos poderiam ser requeridos. E comparou a Lava-Jato aos atos institucionais da ditadura, destacando o de número 5, que cassou parlamentares e instituiu a censura a veículos de comunicação.

“Danos à reputação”
Em seu despacho, Moro escreveu: “A fiar-se nos depoimentos, José Carlos Bumlai teria se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente da República para obter benefícios. Não há nenhuma prova de que o expresidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”.

Na avaliação de Moro, o uso do nome de Lula poderia “causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-presidente, sendo necessária a (prisão) preventiva para impedir ambos os riscos”.

Para empresário, Lula era o ‘Barba’, um amigo próximo

• Delator diz que Bumlai deu demonstrações de que era íntimo do ex-presidente e, em Angola, intermediou palestras do petista e encontro com general

Thiago Herdy, Silva Amorim - O Globo

Preso ontem num quarto de hotel antes do café da manhã, no dia em que iria depor na CPI do BNDES, o pecuarista José Carlos Bumlai tinha planos para este sábado: comemorar com as pessoas mais próximas seu aniversário de 71 anos. Pretendia fazer uma festa, a despeito da tensão com o surgimento, nos últimos dias, das primeiras informações sobre suas atividades nos bastidores dos negócios suspeitos com bancos e estatais.

Em depoimento prestado graças a acordo de colaboração com a Justiça, Fernando Soares, o Fernando Baiano, um dos operadores da Lava-Jato, disse que Bumlai se referia com frequência ao ex-presidente Lula, ao participar de negociações envolvendo contratos públicos. Segundo o delator, nessas conversas Bumlai falava do “Barba”, forma como se referia a Lula, amigo desde a vitoriosa campanha petista à Presidência em 2002 — época em que o político encontrou no pecuarista uma pessoa capaz de vencer resistências no setor agropecuário.

Na sua delação, Baiano contou uma nova história: em viagem para Angola com Bumlai, em 2011, ouviu do general João Baptista de Matos, suposto presidente de uma entidade de estudos angolanos, seu desejo de promover uma palestra de Lula naquele país. “Pedi a Bumlai que intermediasse tal convite, oportunidade em que ele disse que iria falar com Lula”, afirmou Baiano. A viagem foi acertada e a palestra, marcada — mais uma demonstração de prestígio de Bumlai.

O general Baptista queria se encontrar com Lula para tratar de negócios da Vale em Angola. “Queria maior atenção da empresa para o tema”, contou Baiano. Coube então a Bumlai fazer com que o então presidente Lula recebesse o general em sua suíte, “o que realmente ocorreu”, de acordo com o delator. “O general ficou impressionado com a relação de intimidade e amizade que existia entre Bumlai e Lula”, assinalou Baiano em seu depoimento.

O uso dessa amizade para fazer negócios não teria ocorrido com sua autorização, tem dito Lula a interlocutores, depois da revelação dos negócios suspeitos do amigo. Segundo Baiano, Bumlai pediu até dinheiro a ele, com o intuito de supostamente quitar o imóvel de uma nora do ex-presidente.

Os laços entre Lula e o pecuarista teriam se estreitado ao longo dos anos, com churrascos e pescarias. Desde 2003, Bumlai participa do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, grupo criado para aconselhar a Presidência da República nos anos Lula e Dilma.

Engenheiro civil de formação, Bumlai atuou na área da construção pesada por 30 anos. Foi diretor e conselheiro da Constran — empresa que em 2010 foi vendida à UTC Engenharia, de Ricardo Pessoa, citado como um dos principais coordenadores do cartel das empreiteiras na Petrobras.

A primeira citação ao pecuarista, na Lava-Jato, ocorreu por meio de depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Ao admitir ter recebido propina para “não atrapalhar” a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, o delator relatou a ligação de Bumlai com Baiano. Foi a dica para os investigadores puxarem o fio da meada, cujo final ainda é incerto.

Ontem, quando chegou ao Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba para fazer exame de corpo de delito, Bumlai vestia calça jeans e blazer. Andava de cabeça baixa, abatido. Segundo um policial federal, “estava bem abalado e quase chorou” durante o trajeto até o prédio onde ficará preso. Apesar da proximidade do verão, seu advogado foi aconselhado a levar lençol, cobertor e roupas de frio. (Colaborou Renato Onofre)

‘Negócio estava abençoado pelo presidente Lula’, diz dono da Schahin

• Segundo Salim Schahin, José Carlos Bumlai, preso na 21ª fase da Lava Jato, e ex-tesoureiro do PT disseram que ex-presidente estava a par de empréstimo de R$ 12 milhões tomado por pecuarista em 2004 cujo beneficiário seria o partido; empresário confirmou em delação que valor nunca foi quitado e que contrato da Petrobrás compensou dívida

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

O empresário Salim Schahin, um dos donos do Grupo Schahin, afirmou em sua delação premiada que o pecuarista José Carlos Bumlai levou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares em reunião na sede da empresa durante as tratativas para empréstimo de R$ 12 milhões, concedido em 2004, que teria como destino final os cofres do PT. Todo negócio estaria “abençoado” pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que nega.

A operação de empréstimo, um dos motivos que levou Bumlai para a cadeia nesta terça-feira, 24, como alvo central da Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato, foi revelada pelo delator Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobrás. Ele relatou em outubro aos procuradores da força-tarefa que Bumlai junto com o operador de propinas do PMDB Fernando Baiano teriam dirigido um contrato da estatal de R$ 1,3 bilhão – para operação do navio-sonda Vitoria 10.000 – como compensação a uma dívida de “R$ 60 milhões” do PT com a Schahin. O empresário confirma a contratação como pagamento pelo empréstimo nunca pago feito pelo pecuarista amigo de Lula.

“Bumlai chegou a dizer a Fernando (Schahin) que o negócio estava ‘abençoado’ pelo presidente Lula”, registrou a Lava Jato, na delação de Salim. “O depoente e seu irmão Milton (Schahin) também receberam de (João) Vaccari (ex-tesoureiro do PT) a informação de que o presidente estava a par do negócio.”

Alvo da Lava Jato, Salim Schahin contou o que sabia no início do mês e relatou que o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu – preso pela Lava Jato e condenado no mensalão -, ligou pessoalmente para ele, após encontro com Bumlai e Delúbio. “A conversa tratou de amenidades não abordando a operação de José Carlos Bumlai, mas a mensagem estava entendida.”

“Em meados de 2004, José Carlos Bumlai foi trazido ao Banco Schahin por Sandro Tordin um executivo do Banco na época, buscando tomar um financiamento de R$ 12 milhões de reais”, contou Salim, em depoimento prestado no dia 12, para procuradores da força-tarefa da Lava Jato. “Na ocasião foi apresentado um pedido de empréstimo, alegando-se, inclusive, que se tratava de um pedido do Partido dos Trabalhadores e ele, José Carlos Bumlai, tomaria o empréstimo em nome do Partido, pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente”, registra a força-tarefa.
Em 2004, o PT participaria das primeiras disputas eleitorais nos municípios, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, em 2002. “O empréstimo foi concedido porque abriria oportunidade de retorno em negócios para o grupo empresarial junto ao governo.”

O empresário, que decidiu fazer delação premiada, após membros da família terem sido citados por delatores da Lava Jato como envolvidos no esquema de propinas na Petrobrás, disse que o encontro com Delúbio ocorreu numa segunda reunião para tratar do assunto do empréstimo milionário. Ele havia ficado “incomodado com duas questões: a primeira era a de que o valor era muito grande para ser concentrado em apenas uma operação a uma pessoa física; e o segundo era que essa pessoa física estava sendo intermediário de empréstimo para o Partido dos Trabalhadores”.

Mesmo assim, Salim Schahin concordou com o empréstimo pois “poderia ser útil aos interesses do Grupo, aproximando-o efetivamente ao governo do PT e abrindo a possibilidade de retorno em negócios e oportunidade futuras”.

Ligação do ministro. “Dias depois foi realizada uma nova reunião na sede do Banco Schahin”, conta Salim. “Como novidade, Bumlai veio acompanhado de Delúblio Soares.” A presença do ex-tesoureiro do PT – que foi condenado em 2012 no processo do mensalão – “trouxe um pouco de mais de conforto”, disse Schahin. “Tendo em conta que ele, diferentemente de Bumlai, tinha relação direta com o PT.” No novo encontro, o empresário afirmou que Bumlai e Delúbio insistiram na necessidade de urgência no empréstimo.

“Nessa ocasião o próprio Delúbio Soares confirmou o interesse do Partido para que a operação fosse concluída o quanto antes.”

Schahin conta que nesse segundo encontro, Bumlai e Delúbio informaram que como “evidência adicional” a Casa Civil procuraria um dos acionistas do Banco Schahin. “Dias depois o depoente (Salim Schahin) recebeu um telefonema de José Dirceu. A conversa tratou de amenidades não abordando a operação de Bumlai, mas a

Preso, amigo de Lula apareceu em outros escândalos da era petista

• Bumlai fez carreira com o ex-rei da soja e é visto como supersticioso

Bela Megale, Mario Cesar Carvalho e Ricardo Mendonça

SÃO PAULO - É o próprio José Carlos Bumlai, 71, que costuma contar como foi sua aproximação com o PT. O episódio-chave foi em 1998, quando um desconhecido Zeca do PT foi eleito para comandar o Mato Grosso do Sul, na primeira geração de governadores petistas.

Sem experiência e sem poder contar muito com ajuda federal, já que o tucano Fernando Henrique acabara de ser reeleito presidente, Zeca procurou o engenheiro que fazia uma bem-sucedida carreira na Constran do "visionário" Olacyr de Moraes (1931-2015), também conhecido na época como "o rei da soja".

Bumlai foi prestativo. Na frente de Zeca, ligou para o mais improvável colaborador do PT, o economista ultraliberal Roberto Campos (1917-2001, parente de sua mulher morta precocemente), e pediu apoio para conseguir recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Apesar do estranhamento inicial do petista, Bumlai conseguiu viabilizar uma viagem de Zeca e Campos a Washington, investida que resultaria na liberação de US$ 250 milhões para projetos do Estado.

Na volta dos EUA, o governador teve que explicar a inusitada pareceria com Campos num congresso da sigla. Pendengas ideológicas à parte, o fato é que a encomenda feita a Bumlai havia sido entregue.

Quatro anos depois, Zeca do PT intermediaria a aproximação de Bumlai com Lula, que naquele ano disputava a Presidência pela quarta vez.

A empatia foi imediata. Lula gravou um programa numa fazenda do pecuarista em Rio Brilhante (MS) e o transformou em conselheiro/interlocutor para assuntos relacionados ao agronegócio.

Sete anos depois, numa entrevista à revista "Istoé Dinheiro", Bumlai definiu esse primeiro encontro como "um marco histórico". Disse que o petista passou quatro dias em sua fazenda e o comparou a Getúlio Vargas e JK. "Ficávamos conversando até as três, quatro da manhã [sobre como fomentar a agricultura]."

A ligação ficou mais evidente após a vitória de Lula. No início do governo, Bumlai foi um dos escolhidos para integrar, com sindicalistas, ativistas e outros empresários, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Envolveu-se com grupos de trabalho de bioenergia, pecuária, infraestrutura, reforma tributária e previdenciária.

Bumlai parecia ter algo mais que os outros 91 membros do Conselhão. Ainda no primeiro semestre de 2003 ele financiou, com o empresário José Alberto de Camargo (CBMM), a instalação da hoje esquecida ONG Apoio Fome Zero, que tinha a primeira-dama Marisa Letícia como presidente de honra e disparava cartas a empresários pedindo doações proporcionais ao faturamento de suas empresas.

Desde então, sua proximidade com Lula foi alardeada em variadas situações. Ora como fornecedor de churrasco para o arraial de São João que o petista promovia na Granja do Torto; ora como primo do empresário que cedeu ou alugou um escritório para montagem de uma firma por parte de filhos de Lula, Glaucos Costamarques.

Entre os amigos, Bumlai é visto como alguém muito religioso e supersticioso. Devoto de Santo Antônio, é do tipo que faz novena, vai à missa todos os dias e carrega uma imagem de Nossa Senhora na lapela –presente do ex-governador do Mato Grosso Blairo Maggi. Também tem mania com o número 9, presente na placa de seu carro, no prefixo do avião, no celular.

Eclético na vida profissional, foi sócio de figuras como o narrador Galvão Bueno, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), o ex-piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi e o piloto Hélio Castro Neves, este último na primeira franquia do Burger King em São Paulo.

A Lava Jato não é o primeiro caso em que ele ou firma de seu grupo aparece sob suspeita. Em 2010, funcionários de sua Usina São Fernando e de uma empresa de segurança foram apontados pela Funai e pelo MPF (Ministério Público Federal) como responsáveis pelo ataque um acampamento indígena guarani-kaiowá em Dourados (MS).

Barracos foram incendiados e um indígena de 62 anos foi ferido à bala. Os citados negaram envolvimento.

No ano seguinte, um inquérito mirou na desapropriação de outra fazenda de seu grupo no Estado, a São Gabriel. Entregue ao Incra por R$ 21 milhões (2005), era avaliada em R$ 14 milhões em perícia.

Em seguida, Bumlai foi acusado de atuar como distribuidor de propina pelo delator de um esquema de corrupção na Prefeitura de Campinas. Grampeado, um dos investigados do caso disse que o pecuarista estudava virar delator para "proteger Lula".

O Ministério Público paulista chegou a pedir a prisão de Bumlai na época, mas o juiz do caso rejeitou sob o argumento de falta de elementos mais consistentes.

Nesta terça (24), quando a notícia de sua prisão e embarque para Curitiba começou a circular na sede da Polícia Federal, um dos presos da Lava Jato voltou a especular sobre uma possível delação de Bumlai. "Ele é tão medroso que pode começar a delatar ainda no avião", disse.

Para oposição, prisão de Bumlai aproxima escândalo ao Planalto

• Líder do Democratas diz que “o cerco está se fechando”

Por Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — Para líderes da oposição, a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, na terça-feira na Operaçao Lava-jato, é mais um passo que aproxima o escândalo da Petrobras ao ex-presidente Lula e ao Palácio do Planalto. O líder do Democratas, senador Ronaldo Caiado (GO), disse que “o cerco está se fechando” e a prisão de Bumlai é bem significativa, porque ele tinha passe livre — nome que foi batizada a 21ª fase da operação — no Palácio do Planalto na gestão de Lula.

— Ele tinha passe livre para chegar ao mandante. Fica claro que toda aquela operação feita junto ao BNDES tinha autorização direta do ex-presidente Lula. O Bumlai servia para levar os interlocutores dessas empresas até o presidente — acusou Caiado.

Já o presidente do Democratas, senador José Agripino (RN), avalia que o nome da operação Passe Livre é uma clara provocação da Polícia Federal, que é subordinada ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que “não gosta de Lula e é unha e carne” com a presidente Dilma.

— A curto prazo, esse epsódio terá uma reação difícil de prever. Foi um fato novo de grande gravidade nas relações internas do PT. É o PT de Dilma contra o PT de Lula. É um recado. A gente vê essa preocupação no semblante dos colegas petistas aqui no plenário — disse Agripino.

Amigo de Lula é preso, acusado de fraude para financiar o PT

Bumlai cometeu fraude para financiar PT, diz Moro em decreto de prisão

Mario Cesar Carvalho, Graciliano Rocha e Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai se insere em um esquema de corrupção e fraude para pagar dívidas da campanha da reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme os depoimentos de delatores e provas que embasaram a decretação da prisão do pecuarista pelo juiz Sergio Moro.

Preso pela Polícia Federal em Brasília nesta terça-feira (24), no âmbito da Operação Lava Jato, o pecuarista, que é amigo de Lula, chegou nesta tarde a Curitiba e foi encaminhado ao IML para exame de corpo de delito.

"José Carlos Bumlai se insere totalmente neste quadro [corrupção, fraude e lavagem sistêmica], pois as provas indicam que disponibilizou seu nome e suas empresas para viabilizar, de maneira fraudulenta, a partido político, com todos os danos decorrentes à democracia", escreveu Moro no decreto de prisão.

Num dos depoimentos de sua delação premiada, citados por Moro para justificar a prisão, o ex-gerente da área internacional da Petrobras Eduardo Musa afirmou que havia uma dívida de R$ 60 milhões da campanha presidencial de 2006, na qual Lula foi reeleito, com o banco Schahin. Para quitá-la, o governo utilizaria o contrato de operacionalização da sonda Vitória 10.000.

Musa afirmou, em delação, que recebeu US$ 720 mil no exterior a título de propina.

Também delator, o acionista do grupo Salim Schahin afirmou que o negóciofoi avalizado por Lula, conforme antecipou na Folha na semana passada.

"Bumlai chegou a dizer a Fernando [Schahin, diretor do grupo] que o negócio estava 'abençoado' pelo presidente Lula", disse o delator, em depoimento.

'Simulação' de empréstimo
Um dos empréstimos feitos por Bumlai no banco Schahin foi destinado ao PT e teve inclusive um aval "informal" de José Dirceu, segundo o Ministério Público Federal. Na época, Dirceu era ministro da Casa Civil.

Dirceu fez um telefonema ao empresário Salim Schahin para assegurar o empréstimo, de R$ 12 milhões, em 2004. A ligação, relatada por Schahin em delação premiada, foi precedida por uma visita de Delúbio Soares ao banco.

"Ele [Dirceu] falou amenidades. Mas mostrou-se como responsável por esse empréstimo", disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

Em troca do dinheiro, segundo as investigações, Bumlai ajudou a viabilizar a contratação da empresa Schahin para a operação da sonda Vitória 10.000. A dívida do pecuarista com o banco nunca chegou a ser paga.

O procurador diz que o comentário à época entre os funcionários da Petrobras era que a ordem para a contratação da empresa "veio de cima" –mas não há indicação de quem eram as pessoas responsáveis pela ordem.

De acordo com Moro, a garantia oferecida pelo pecuarista –uma mera nota promissória– foi precária.

Em depoimento, Sandro Tordin, que presidiu o banco entre 1998 e 2007, afirmou que os petistas Delúbio Soares e José Dirceu intercederam para que a instituição concedesse o empréstimo a Bumlai.

A quitação, escreveu o juiz, se deu por meio da contratação do grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000, de US$ 1,6 bilhão.

No papel, o empréstimo de Bumlai foi quitado, sem juros, em 27 de janeiro de 2009, um dia antes da celebração do contrato entre a Petrobras e o grupo Schahin.

Em entrevista publicada pela Folha no último domingo, Bumlai disse que liquidara a dívida com a entrega de embriões de gado bovino de elite.

A versão de Bumlai é contestada por Salim Schahin, um dos sócios do grupo e também delator. Segundo ele, o empréstimo teve como destinatário final o PT e jamais foi pago. Salim Schahin diz que os embriões invocados por Bumlai como meio de pagamento jamais existiram.

"Tem-se, em tese, os crimes de corrupção ativa e passiva. Não na concessão fraudulenta do empréstimo, mas na sua quitação. A concessão pela Schahin da quitação fraudulenta do empréstimo em 27/1/2009 caracteriza vantagem indevida concedida a José Carlos Bumlai e, por conseguinte, ao Partido dos Trabalhadores", disse.

Não teria sido possível entregar a operação da Vitória 10.000 à Schahin como parte de um acordo político sem o funcionamento de uma engrenagem de fraude dentro da Petrobras, segundo os autos.

Relatório de auditoria da Petrobras confirmou que houve direcionamento indevido para a contratação da Schahin. O grupo já operava uma outra sonda e teve índices de produtividade inflados artificialmente para ser convidado a operar a Vitória 10.000, sem concorrência.

A investigação interna da companhia também mostrou que os Schahin recebiam bônus de performance de 15%, mais altos do que os praticados praticados para contratos similares.

O caminho do dinheiro
De acordo com a investigação, Bumlai recebeu R$ 12,1 milhões do Banco Schahin em outubro de 2004 e, no mesmo ano, realizou um suposto empréstimo à Fazenda Eldorado S.A., pertencente a Natalino Bertin, um dos ex-sócios do Frigorífico Bertin.

"Causa certa estranheza que alguém obtenha um empréstimo em uma instituição financeira de R$ 12 milhões e, ao mesmo tempo, conceda em empréstimo esse mesmo valor a terceiro", escreveu Moro. Segundo as declarações de renda de Bumlai, o suposto empréstimo feito aos Bertin lhe foi gradativamente restituído entre 2005 e 2007.

Nova fase da Lava Jato foca Lula e pode prejudicar Dilma, avalia Planalto

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto avalia que a prisão do pecuarista José Carlos Bumlainesta terça-feira (24) abre uma nova vertente de investigação na Operação Lava Jato, com foco no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e desdobramentos políticos sensíveis para o governo Dilma Rousseff.

Bumlai é amigo de Lula e tornou-se alvo da Lava Jato depois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora do ex-presidente e ajudado a quitar dívidas do PT, o que o pecuarista nega ter feito. Além disso, Bumlai é descrito pelo delator Fernando Soares, o Baiano, comouma espécie de lobista na Sete Brasil, empresa que administra o aluguel de sondas para a Petrobras no pré-sal.

Segundo a Folha apurou, o núcleo mais próximo a Dilma avalia que o fechamento do cerco a Lula na Lava Jato tem o objetivo de desmoralizá-lo e enfraquecer sua capacidade de mobilização social.

Os auxiliares da presidente reconhecem que, num eventual cenário de abertura de processo de impeachment contra Dilma, o ex-presidente "é o único" capaz de mobilizar a militância petista e os movimentos sociais para defender o mandato da sucessora.

Caso Lula esteja enfraquecido e desgastado pelas suspeitas de corrupção, por exemplo, o governo Dilma poderia ficar inviabilizado.

O ex-presidente, por sua vez, nega que tenha atuado como intermediário de empresas ou autorizado lobby em seu nome.

Pouco depois da prisão de Bumlai, na manhã desta terça, ministros petistas já discutiam que, se a investigação chegar de vez ao ex-presidente, o resultado prático não será apenas prejuízos ao governo Dilma, mas também significará a derrocada do PT e do projeto político do partido.

Lula x Dilma
Da última vez que se encontraram pessoalmente, há quase vinte dias no Palácio da Alvorada, o ex-presidente e Dilma conversaram sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato.

Lula tentou não demonstrar preocupação e disse que os problemas do governo da sucessora têm origem na crise econômica e no que ele avalia ser a má condução da política pela equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy,

Dilma, porém, insistiu que o grande celeuma de sua administração é a Operação Lava Jato, que desgastou a imagem do PT e, consequentemente a sua e de seu governo, além de ter prejudicado a Petrobras, a principal empresa pública, considerada a menina dos olhos da presidente.

Lula saiu do encontro bastante irritado com o que chamou de "teimosia" da presidente.

Risco de contágio preocupa Planalto

Por Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto acompanha com preocupação os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que na nova fase deflagrada ontem, levou à prisão o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em mais de uma reunião com Lula, a presidente Dilma Rousseff já expressou sua avaliação de que o centro nervoso da crise política, que desestabiliza seu governo, é o escândalo de corrupção investigado pela Lava-Jato, e não a estagnação econômica.

Auxiliares presidenciais ouvidos pelo Valor afirmam que os novos rumos da Lava-Jato miram Lula, mas podem respingar em Dilma, porque contaminam de forma geral o projeto de poder do PT. "Se atingir Lula, o desgaste do projeto como um todo é devastador", reconheceu um assessor de Dilma, dizendo que é preciso cautela para aguardar os próximos passos da operação.

Dilma já afirmou a Lula, na presença de ministros petistas, que o principal fator de instabilidade de seu governo é a Lava-Jato, e não a crise econômica. Era o dia 14 de julho, Lula havia aterrissado em Brasília para um almoço com a presidente e ministros mais próximos no Alvorada, e a Polícia Federal deflagrara a Politéia, nova fase da Operação Lava-Jato que atingiu senadores e deputados.

Naquele dia, agentes realizaram buscas e apreensões nas casas dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, Fernando Bezerra (PSB-PE) e do deputado Eduardo da Fonte (PE), líder do PP. Mas, segundo relatos ao Valor de um dos presentes, Lula rebateu Dilma, ponderando que a investigação não poderia paralisar o governo, porque tinha potencial para se prolongar por mais dois anos. O fundamental, segundo o ex-presidente, era focar na recuperação da economia e da popularidade de Dilma.

Ontem de manhã, Dilma desceu a rampa do segundo andar do Planalto, para uma solenidade relativa à migração de rádios AM para FM, com a expressão contrariada. Ela só distensionou o semblante minutos depois, ao retribuir a um aceno de um convidado. À tarde, ela cancelou a segunda agenda pública do dia - a entrega de um selo de "equidade de gênero e raça" - e deixou o gabinete no Planalto para despachar no Palácio da Alvorada.

Dilma reuniu-se com o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e com o assessor especial Marco Aurélio Garcia, para tratar das próximas viagens internacionais, a Paris, ao Vietnã e ao Japão. Sua assessoria explicou que ela estava gripada, com febre e garganta inflamada.

Uma liderança petista com trânsito no Planalto destacou ao Valor que Lula tem afirmado, em conversas reservadas, que Bumlai pode ter usado seu nome indevidamente. Este petista cita trecho da decisão do juiz Sergio Moro, que decretou a prisão do pecuarista, que levanta essa hipótese.

O Palácio aguarda novos capítulos da operação, mas a orientação interna é manter o foco na recuperação da economia e da imagem do governo. Com esse objetivo, Dilma aterrissa na conferência internacional do clima, a CoP-21, para reafirmar o compromisso do Brasil com uma meta própria de redução de gases tóxicos. Mas chegará ao evento com a missão, também, de explicar a tragédia ambiental que gerou o mar de lama tóxica que devastou o Rio Doce e chegou ao litoral capixaba.

PF prende senador Delcídio Amaral, suspeito de atrapalhar Lava Jato

• Esta é a primeira vez que um senador, líder do governo no Senado, é preso no exercício do mandato

Por Andreza Matais, Beatriz Bulla, Ricardo Brito e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a Polícia Federal a deflagrar uma operação nesta quarta-feira, 25, que levou a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, investigado pela Operação Lava Jato. O parlamentar teria sido flagrado na tentativa de prejudicar as investigações contra ele, em uma tentativa de destruir provas contra ele.

Também foram presos o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, e Diogo Ferreira, chefe de gabinete do Delcidio do Amaral, e o advogado Edson Siqueira Ribeiro Filho, que defende o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró.

Esta é a primeira vez que um senador com mandato em exercício é preso. A PF também fez busca e apreensão no gabinete do petista, no Senado, em Brasília, e nos estados do Rio, de São Paulo e de Mato Grosso do Sul.

A prisão de Delcídio é resultado de uma operação deflagrada hoje pela Polícia Federal, que também tem como alvo empresários. As ações foram autorizadas pelo Supremo. Não se trata de uma fase da Lava Jato tocada em Curitiba, na 1ª instância.

O senador foi preso no hotel Golden Tulip, onde mora em Brasília, mesmo local onde na terça-feira, 24, a PF prende o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Delcídio do Amaral foi citado na delação do lobista Fernando Baiano, apontado pela Lava Jato como operador de propinas no esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014. Fernando Baiano disse que Delcídio do Amaral teria recebido US$ 1,5 milhão em espécie na operação de compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

O Estado apurou que pela amanhã que o ministro Teori Zavascki convocou uma reunião extraordinária da Turma dedicada à Lava Jato. A reunião da Corte será reservada, que é algo raro.

De acordo com fonte no tribunal, a sessão foi marcada pelo presidente da Turma, ministro Dias Toffoli, a pedido do ministro Teori Zavascki, relator dos casos relativos ao esquema de corrupção na Petrobrás.

Zavascki informou nesta terça, 24, o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, de que seria realizada sessão na quarta, 25, para debater uma decisão importante. O informe a Lewandowski foi feito pessoalmente pelo relator dos processos da Lava Jato na Corte e não pelo presidente da Turma, ministro Dias Toffoli, a quem cabe usualmente fazer os comunicados institucionais.

O advogado Mauricio Silva Leite, que defende o senador petista, disse que vai primeiro tomar ciência dos motivos da prisão de Delcídio, para depois se manifestar.

Reajustes do mínimo e de servidor podem ser adiados

• Governo estuda postergar aumento do piso de janeiro para maio

O governo estuda adiar o reajuste do salário mínimo e dos servidores no ano que vem para compensar a queda de receitas e cumprir a meta de superávit fiscal de 0,7% do PIB. No caso do mínimo, o aumento passaria de janeiro para maio e, no dos servidores, de agosto para dezembro. A medida, em análise pela equipe econômica, não é consensual porque técnicos alertam para o grande desgaste político que ela provocaria, já que a previsão de retração da economia é de 3,1% este ano e de 1,95% em 2016.

Equipe econômica do governo avalia adiar reajuste do mínimo para maio

• Para compensar frustração de receitas, proposta inclui postergar aumento de servidores

Martha Beck - O Globo

-BRASÍLIA- A equipe econômica está discutindo a possibilidade de adiar os reajustes do salário-mínimo e dos servidores no ano que vem. Interlocutores da equipe informaram ao GLOBO que a ideia seria passar o reajuste do mínimo de janeiro para maio. Já no caso dos servidores, a data mudaria de agosto para dezembro. As duas ações seriam uma forma de reduzir os gastos do governo para compensar a provável frustração de várias receitas que foram incluídas na proposta orçamentária de 2016, mas que não devem se confirmar.

A proposta de adiamento, no entanto, não é consensual. Parte dos técnicos afirma que provocaria um desgaste político muito grande e não resolveria o desequilíbrio nas contas de 2016. Além disso, o atraso dos reajustes reduziria ainda mais o poder de compra da população, agravando a recessão da economia. A projeção oficial do governo é de que o PIB terá uma retração de 3,1% em 2015 e de 1,9% em 2016. Mesmo nesse cenário, a equipe econômica está preocupada em garantir a realização de um superávit de R$ 43,8 bilhões, em 2016, ou 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

Sugestão do legislativo
Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a proposta de adiar o reajuste do salário-mínimo não partiu do governo. Segundo Levy, a ideia foi de técnicos do Poder Legislativo e é apenas “um exercício aritmético”.

— Alguns técnicos apontaram alguns números. É só disso que eu tenho conhecimento. (…) Técnicos legislativos. Como fazem todos os anos, e não tem nada de mais. É um exercício aritmético, tá certo? Ele adquiriu apenas mais ressonância na medida em que outras ações (para equilibrar o Orçamento de 2016) ainda não avançaram no ritmo necessário. Não sei de onde apareceu a ideia de que é proposta do governo — disse Levy.

O possível adiamento do reajuste do mínimo e dos servidores foi discutido com parlamentares nas últimas semanas. Segundo técnicos da área econômica, a sugestão para que a medida fosse adotada, embora tenha mesmo vindo de técnicos do Legislativo, foi acolhida como alternativa a se estudar. A proposta seria editar uma medida provisória até o fim do ano mudando a data. Procurado, o Palácio do Planalto admitiu que essa foi uma de várias ações propostas pelo Congresso para avaliação no governo. No entanto, não há nada decidido.
— Adiar (os reajustes) não está no radar — disse um integrante do Planalto.

Levy, no entanto, alertou para o fato de que o Congresso precisa votar logo o Orçamento de 2016 e as medidas propostas pela equipe econômica para cumprir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB. Segundo ele, sem as medidas, que incluem a recriação da CPMF, acabam surgindo “outras ideias”:

— Toda a base de apoio ao governo, incluindo evidentemente o PT, tem que se mobilizar pelo Brasil, para a gente ter o fiscal que a gente precisa, o orçamento que o Brasil precisa, as receitas que o Brasil precisa para não surgirem outras ideias, que daqui a pouco aparecem.

Até 2006, o reajuste do mínimo ocorria em maio. Naquele ano, o governo fez um acordo com as centrais sindicais para que a correção fosse antecipada em um mês a cada ano até chegar a janeiro. A correção sempre no primeiro mês foi formalizada em 2011. Pela regra em vigor, o salário é corrigido com base O valor é corrigido pela inflação do ano anterior, medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) mais a variação do PIB de dois anos antes. na inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos antes. Pela proposta orçamentária de 2016, a remuneração básica dos trabalhadores será de R$ 865,5.

A política de reajuste do salário-mínimo vigora até 2019 e é uma das principais fontes de pressão no aumento de gastos, pois impacta as contas da Previdência Social. Para cada três segurados, dois recebem benefícios equivalentes ao mínimo. O déficit projetado para o próximo ano só nas contas da Previdência é de quase R$ 125 bilhões.

CPMF e repatriação
Outra economia para o governo seria com o adiamento do reajuste dos servidores. O problema é que a equipe econômica já jogou para frente o reajuste de 2016. Inicialmente previsto para janeiro, foi adiado para agosto, como parte do esforço para reequilibrar o Orçamento. A proposta orçamentária foi enviada ao Congresso com déficit de R$ 30,5 bilhões, o que acabou provocando o rebaixamento da nota do país. Ao passar o reajuste para agosto, a economia com gastos obrigatórios foi estimada pelo governo em R$ 7 bilhões.

A equipe econômica tem grande preocupação com o cenário de receitas do ano que vem. Para assegurar o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do PIB, o governo precisa, entre outras coisas, aprovar no Congresso a recriação da CPMF e o projeto da repatriação, que permite a legalização de recursos enviados ao exterior sem aviso à Receita Federal. Essas propostas estão emperradas e não devem mais resultar na arrecadação esperada originalmente. No caso da CPMF, a Receita já enviou ao Congresso mensagem dizendo que a arrecadação inicial, estimada em R$ 32 bilhões, agora é de R$ 24 bilhões.

Desemprego chega ao interior, mostra Pnad

Por Camilla Veras Mota e Robson Sales - Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - Os números mais negativos do mercado de trabalho relativos à ocupação que há meses se repetem nas seis principais regiões metropolitanas, acompanhadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), começam a se espalhar para o restante do país. O volume de postos de trabalho contabilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que abrange cerca de 3,5 mil municípios, registrou no trimestre encerrado em setembro a primeira variação negativa da série, que começa em 2012, e encolheu 0,2% sobre o igual período de 2014. Com 179 mil vagas a menos, o total de empregados caiu a 92,1 milhões.

A retração aconteceu a despeito do avanço expressivo do emprego por conta própria, destaca o economista da LCA Consultores Bruno Campos, de 3,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Outras modalidades também precárias do emprego, às quais os trabalhadores costumam recorrer em momentos de desaceleração da economia para garantir algum nível de renda, também cresceram - o emprego doméstico, por exemplo, subiu 0,6% em relação a julho-setembro de 2014.

O avanço, contudo, não compensou a perda de 1,2 milhão de vagas com carteira assinada, um corte de 3,4% no estoque. A terceira queda consecutiva no indicador reduziu o espaço do emprego formal de 39,7% para 38,5% do total da ocupação de um ano para outro. "E a tendência é que ele continue perdendo participação", pondera o economista, ressaltando que o ajuste pelo qual passa o mercado de trabalho deve se estender ao longo de todo o próximo ano.

Para o coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, os dados reforçam uma tendência de mudança na estrutura do mercado de trabalho. O escasseamento dos postos com carteira induz o aumento do contingente de trabalhadores por conta própria, ele diz, e empurra trabalhadores inativos de volta ao mercado na tentativa de recompor parte da renda familiar perdida.

Ao contrário da PME, que deve ser substituída como indicador oficial de emprego pela Pnad Contínua a partir do próximo ano, o levantamento segue mostrando uma procura por vagas bem mais intensa do que nas seis regiões metropolitanas. No trimestre até setembro, a força de trabalho avançou 2,1% em relação ao mesmo período de 2014 e acumula alta de 1,9% no ano - mais que o dobro do apurado pela PME, 0,8% até setembro. Assim, mesmo com a contração menor do total de vagas, o desemprego da Pnad Contínua aumentou 2,1 pontos percentuais sobre igual intervalo de 2014 e chegou a 8,9% em setembro, atingindo 8,9 milhões de pessoas.

A taxa continua avançando mais entre os mais novos, destaca Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados. Nas faixas de 14 a 17 anos e de 18 a 24 anos, ela subiu de 21% para 26,5% e de 15,3% para 19,7%, nessa ordem, de um ano para outro. E a tendência, ela afirma, é que a procura por trabalho avance ainda mais entre esses grupos, diante da redução dos subsídios à educação superior, relacionada à menor disponibilidade de crédito pelo Fies, e da desaceleração da renda familiar, que pressiona aqueles que antes se dedicavam apenas à qualificação a contribuir com as contas de casa. Nesse sentido, a alta do desemprego entre aqueles de 25 a 39 anos - de 6,4% para 8,6%, na mesma comparação - é considerada preocupante, já que inclui a maior parte dos chefes de família.

Tanto a Rosenberg quanto a equipe do Fator chamam atenção para o comportamento menos negativo da renda na Pnad Contínua. Para eles, ela pode ajudar a explicar a resistência da inflação, em especial a de serviços, que se mantém alta a despeito do aprofundamento da recessão.

No trimestre encerrado em setembro, o rendimento médio, que chegou a R$ 1.889, e a massa salarial caíram 0,1% sobre o mesmo período do ano passado, contra uma retração de 7% na renda e de 10,3% na massa apurada pela PME em setembro, na mesma comparação. A renda real de todos os trabalhos oscila bastante desde o início da série da Pnad. Só nos três trimestres anteriores ao encerrado em setembro, a variável subiu 1% (outubro-dezembro), manteve-se estável (janeiro-março) e cresceu 1,4% (abril a junho).

A tendência, contudo, é de aprofundamento da queda, com posterior efeito sobre os preços. "Como a ocupação está caindo mais rápido entre os empregos com carteira assinada, a deterioração do mercado de trabalho prossegue e sugere efeito claro sobre a inflação adiante", avalia o Fator em relatório.

Campos, da LCA, acrescenta que a contaminação das expectativas, o nível alto de indexação e a alta expressiva dos preços administrados também têm tido papel importante na resistência dos índices. Sua expectativa, entretanto, é de continuidade do ciclo de deterioração do mercado de trabalho observado desde o início deste ano - processo que levaria o desemprego da Pnad Contínua a 8,6% neste ano, contra 6,8% em 2014, e a 11,4% no próximo ano. A Rosenberg tem estimativa semelhante para 2015 e é um pouco mais otimista para o próximo ano, com taxa média de 10%.