quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Declínio anunciado:: Regina Alvarez

A Sondagem de Investimentos da Indústria divulgada ontem pela FGV reforçou o que já estava evidente em outros indicadores: o agravamento da crise no setor industrial e as previsões sombrias para 2012, com redução de investimentos, do faturamento e das contratações. O pior dos mundos para uma economia que, nas palavras do ministro da Fazenda, chegou ao fundo do poço neste fim de ano e precisa se recuperar no próximo.

O declínio da indústria não é fato novo. É um processo que começou no ano passado e agravou-se a partir do segundo semestre deste ano. A crise externa pegou de jeito um setor fragilizado pela baixa competitividade e um câmbio desfavorável. O cenário externo adverso e o acirramento da concorrência com os produtos asiáticos tornou agudos os problemas crônicos.

- Fomos muito tolerantes com a baixa competitividade e avançamos muito pouco na redução dos custos tributários, dos custos do trabalho, do capital e da burocracia - observa Flávio Castelo Branco, da CNI.

Julio Almeida, economista do Iedi, considera a crise muito grave e sem volta a curto prazo. Ele lembra que outros segmentos atingidos pela crise externa têm escapes que a indústria não tem. No setor agroindustrial, por exemplo, os preços internacionais são competitivos e a produtividade, muito mais elevada.

O que preocupa esses especialistas não é apenas o declínio da indústria, mas os efeitos da crise no conjunto da economia. O impacto no emprego já apareceu nos números de novembro divulgados pelo Ministério do Trabalho.

- O emprego perdido hoje significa consumo menor amanhã de bens, de serviços, queda nas vendas do comércio. Não dá para dizer que a crise é só na indústria, porque esse processo acaba transbordando para outros setores com efeitos encadeados - destaca o economista do Iedi.

A curto prazo, os economistas só enxergam duas possibilidades para amenizar o problema: segurar a taxa de câmbio e reforçar a defesa comercial para brecar as importações, especialmente a invasão de produtos asiáticos que estão ferindo de morte alguns segmentos industriais.

Mas isso não resolve os problemas estruturais. Para crescer, a indústria precisa produzir melhor e mais barato e isso pressupõe uma ação coordenação do governo e do setor produtivo para reduzir custos de insumos e a carga tributária, investir em inovação e aumentar a produtividade e competitividade. Se esses problemas estruturais não forem resolvidos, o futuro é incerto, ou talvez nem exista.

Vilões da inflação

Os economistas são unânimes ao apontar o vilão da inflação deste ano. Ele atende pelo nome de serviços, deve acumular alta de 9% e seguir crescendo forte em 2012, por conta do aumento do salário mínimo. Fazer essa inflação desacelerar é o grande desafio do governo. O aumento dos preços dos alimentos, que desaceleraram em relação a 2010, mas devem fechar o ano com alta acima de 7%; do etanol e das passagens aéreas também pressionaram a inflação.

No limite

Para que a inflação fique dentro da meta este ano, o IPCA de dezembro terá de variar, no máximo, 0,50%. Assim, acumularia alta de 6,50%, encostando no teto. Mas a divulgação do IPCA-15, a prévia da inflação oficial, que subiu 6,56%, deixou os analistas pessimistas. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, prevê que o IPCA acumulará alta de 6,51%. Já Roberto Padovani, da Votorantim Corretora, projeta 6,53%.

Cartinha

Se a inflação ficar acima de 6,50% no ano, o BC terá de apresentar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda, explicando as razões de não ter atingido a meta, prática prevista no sistema. Isso não acontece desde 2004, mas o economista Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, diz que há chance de termos uma "cartinha" no início de 2012.

- Numa situação normal, é ruim, porque pode mostrar leniência com a inflação, mas o mundo está de pernas para o ar. Apresentar a carta não é a situação ideal, mas temos de lembrar que inflação em alta não é um problema só do Brasil.

Mau negócio

A Petrobras já deixou claro que a importação de gasolina crescerá em 2012. Isso significa que pretende comprar lá fora mais de 45 mil barris diários do produto, que foi a média de 2011. O especialista em energia Adriano Pires lembra que para cada barril importado, a Petrobras perde R$0,30, porque vende no mercado interno mais barato do que compra. Segundo ele, o Brasil passou a ser autossuficiente em petróleo e importador de derivados.

FONTE: O GLOBO

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