Agora foi a Transcarioca, orçada em R$ 1,5 bi; outros dois contratos devem
ser desfeitos
Alfredo Junqueira
RIO - Após deixar o consórcio responsável pela reforma do Maracanã (orçada
em R$ 859 milhões), a Delta Construções abandonou outra grande obra no Rio de
Janeiro. Ontem a Prefeitura anunciou que a empreiteira também se retirou do
consórcio para a construção da Transcarioca - corredor exclusivo de ônibus
articulados que vai ligar o Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão à Barra da
Tijuca.
Com custo estimado em R$ 1,5 bilhão, a Transcarioca é uma das principais
obras estruturais em andamento na cidade para a Copa de 2014 e os Jogos
Olímpicos de 2016. São 39 quilômetros de via para os chamados BRTs (Bus Rapid
Transit), com 45 estações.
Em nota, a assessoria de imprensa do prefeito Eduardo Paes (PMDB) afirmou
que a empresa Andrade Gutierrez assumirá a responsabilidade pelas obras e que o
cronograma não será alterado. A informação foi confirmada por nota da
assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez.
Este é mais um revés da construtora, que mais recebeu recursos do governo
federal para realizar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nos
últimos três anos - R$ 2,4 bilhões somente entre 2009 e 2011.
Desde que a Operação Monte Carlo da Polícia Federal revelou as relações
entre Carlinhos Cachoeira e o então diretor da empresa para o Centro-Oeste,
Cláudio Abreu, em fevereiro, a Delta perdeu acesso a crédito, começou a ter
contratos auditados por vários órgãos de fiscalização e deverá ser um dos
principais alvos da CPI do Cachoeira.
O consórcio que a Delta integrava na construção da Transcarioca é
responsável pelo trecho de 26 quilômetros que liga os bairros da Penha à Barra,
orçado em R$ 798 milhões. A participação da empreiteira era de 42% (R$ 319,37
milhões). A Delta ainda mantém três contratos para obras com a Prefeitura do
Rio, e outro para aluguel de caminhões de lixo com a Companhia Municipal de
Limpeza Urbana (Comlurb). Nos últimos dez anos, a empresa recebeu R$ 450 milhões
dos cofres municipais.
Fora de cena. Além do Maracanã e da Transcarioca, a expectativa é que a
empresa também anuncie sua saída de outras obras importantes no Estado, como a
construção do Arco Rodoviário Metropolitano (R$ 1,17 bilhão). A Delta deve abandonar
sua pequena participação na construção do Complexo Petroquímico do Rio (R$ 36
bilhões). A empreiteira participa de 2 dos 24 consórcios responsáveis pela
obra.
O que parece inalterado e sem problemas é a contratação da empresa para
complexa reforma dos prédios do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). A empresa
já recebeu R$ 154 milhões para a obra e o TJ-RJ não pretende auditar os
contratos, informou a assessoria de imprensa.
A Delta não se havia manifestado sobre a saída do consórcio até o fechamento
desta edição. As suspeitas de irregularidades e investigações ainda provocaram
sérias instabilidades na empresa. O dono da Delta, Fernando Cavendish,
afastou-se anteontem da presidência do conselho. Número dois no comando, o
executivo Carlos Pacheco também saiu. Os dois foram mencionados em vários
contatos telefônicos entre Cachoeira e Abreu. O novo presidente da Delta, o
engenheiro Carlos Alberto Verdini, já foi ao Congresso entregar documentos para
a CPI do Cachoeira.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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