Fábio Schaffner
Meio jurídico avalia
que proposta de deputado desrespeita o princípio da independência do Judiciário
BRASÍLIA - Descontentes
com o suposto ativismo cada vez mais frequente do Supremo Tribunal Federal,
deputados querem aprovar uma proposta de emenda à Constituição que permite ao
Congresso vetar decisões do Judiciário. A reação foi imediata. OAB, juristas e
magistrados afirmam que a ação viola o princípio da independência entre os
poderes e ressaltam a resistência do parlamento de enfrentar temas espinhosos.
De autoria do
deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), a PEC foi aprovada quarta-feira pela
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O texto, agora, será discutido em
uma comissão especial, antes de ser levado ao plenário. O deputado afirma que
há uma "desigualdade nas relações do Legislativo com os outros
poderes" e defende o poder do Congresso de "sustar atos normativos
viciados emanados do Judiciário".
Para o presidente da
OAB, Ophir Cavalcante, a proposta viola uma cláusula pétrea da Constituição, ao
interferir na separação dos poderes. Ophir acredita que os deputados estão
agindo por insatisfação com o Judiciário, sobretudo por causa de decisões
tomadas no vácuo de ação do Congresso.
– Esse projeto cria
sério conflito entre os poderes. O Judiciário não pode ser objeto de controle
do Legislativo. Se for aprovado, haverá desequilíbrio em prejuízo da sociedade
– diz Ophir.
Dipp afirma que
proposta fere a democracia brasileira
Ministro do Superior
Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral, Gilson Dipp foi surpreendido
com a aprovação do texto. De acordo com o magistrado, o Congresso não pode
interferir em decisões do Judiciário, sob pena de cometer um atentado ao Estado
democrático de Direito.
Dipp afirma que, caso
o Congresso não concorde com alguma legislação modificada pelo Judiciário, cabe
aos parlamentares criarem uma nova norma constitucional sobre o mesmo tema.
– Essa PEC é um
acinte. Trata-se de uma reação motivada pela própria omissão do Congresso. O
Judiciário só se manifesta quando é provocado, não age espontaneamente – afirma
Dipp.
FONTE: ZERO HORA (RS)
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