O advogado entrega uma extensa peça de defesa, o Conselho de Ética recebe
solenemente, o relator apresenta um parecer recheado de formalidades, os
membros se reúnem e decidem sobre o mandato do senador Demóstenes Torres,
ex-DEM, hoje sem partido.
É só um ritual, um teatro. O julgamento do Conselho de Ética é político, não
jurídico, e o destino de Demóstenes já está selado: ele foi condenado pelas
evidências, pela opinião pública, pelo seu partido. Virou uma alma penada,
constrangendo os colegas com sua presença.
Num processo jurídico, um senador escapa da primeira e da segunda instâncias
e cai direto no Supremo Tribunal Federal, onde valem as brechas da lei, a
esperteza dos advogados, eventuais deslizes da investigação policial, algum
detalhe fora de lugar dos procuradores. É longa a fila de políticos absolvidos
pela Justiça.
Num processo político, o que vale são as evidências, e é pelas páginas de
jornais e revistas, pelos vídeos da TV e pelos áudios do rádio que a população
e os "juízes" se informam e tiram suas conclusões. A imprensa não é
juiz, mas o canal de veiculação de investigações da PF e do Ministério Público
e de gravações que não deixam dúvidas. Não há advogado genial que possa anular
provas no Conselho de Ética sob argumentos técnicos como é possível num
tribunal.
No caso de Demóstenes, a troca de presentes e de favores entre ele e
Carlinhos Cachoeira é inquestionável: geladeiras e fogões importados por
gestões para liberação de verbas oficiais; aluguéis de jatinhos por
intermediação. E a informação na Folha de hoje de que um assessor dele recebeu
pelo menos R$ 100 mil do esquema, em dinheiro vivo.
Ou o Conselho pede a cassação, ou estará se autocassando. Não vai doer
muito. Basta os senadores julgarem como seriam julgados por Demóstenes -o
antigo Demóstenes, implacável arauto da moralidade.
Ele já é, virtualmente, ex-senador.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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