Juro real baixa à "meta" da candidata Dilma em meio ao conflito do
governo com a banca e revela impasse
A taxa real de juros "básicos" no Brasil foi abaixo de 3% nos
últimos dias, pelo menos segundo uma das duas ou três maneiras relevantes de
fazer essa conta (nesse caso, uma taxa do mercado futuro menos a expectativa de
inflação nos próximos 12 meses). Por outras contas, o juro real está na casa de
uns 3,5%.
Na campanha eleitoral de 2010, o pessoal de Dilma Rousseff dizia que uma das
prioridades macroeconômicas da agora presidente era levar a taxa real para algo
entre 2% e 3% até o fim do mandato, além de baixar a dívida do setor público
para 30% do PIB e conseguir equilíbrio nas contas do governo (deficit zero ou
perto disso).
"Missão cumprida" (no caso dos juros), como disse George Bush,
filho, sobre o Iraque?
Melhor que responder é perguntar: 1) como os juros "básicos"
baixaram tanto (um recorde histórico no Brasil); 2) e daí?
Como os juros baixaram?
Primeiro, o juro real está baixo porque o Banco Central é hoje mais
pragmático, digamos. Dadas as condições em que assumiu, a presente diretoria
considerou que seria custoso demais dar uma paulada na inflação no curtíssimo
prazo (o que exigiria uma paulada nos juros).
Na prática, para o bem ou para o mal, tolerou uma inflação mais alta por
mais tempo. Além do mais, recorreu a instrumentos que não a taxa de juros para
controlar a inflação. Juros mais contidos e inflação mais alta dão em juro real
menor.
Segundo, e mais controverso, diz-se que seria possível hoje controlar um
certo nível (ou alta) de inflação com um nível (ou alta) menor de juros. Apesar
das querelas estatísticas, é o que vem acontecendo no Brasil na última década
-ou pelo menos a tendência vinha sendo essa. Se tal coisa continuou a acontecer
nos dois últimos anos, já é mais difícil de saber ou de estimar.
Terceiro, o contexto monetário internacional é extravagante. Como Dilma
gosta de dizer, há um "tsunami" monetário varrendo o planeta,
resultado das políticas de estímulo econômico no mundo rico. Grosso modo, sobra
dinheiro sem uso e taxas de juros reais são negativas nos EUA e na Europa. O
Brasil pega um pouco de carona nessa história.
E daí? Os juros "básicos" caíram (a meta do BC; o piso dos juros
na praça do mercado, negociado entre os donos do dinheiro grosso). Mas os dias
são dominados pela grande querela dos juros, na qual se batem governo e bancos
privados.
Os juros reais "básicos" caíram, mas nossos problemas de restrição
e regulação de crédito continuam. Despioraram, mas estão aí. Não corre leite e
mel em bancos e empresas.
Os juros reais estão na casa de 3% e os "spreads" flutuam na
estratosfera de 35% (menos, decerto, se a gente deixar de lado as taxas malucas
de cartão de crédito e cheque especial). Será, porém, muito difícil o juro real
cair ainda mais e, mesmo que caísse, isso não refrescaria a situação de quem
toma crédito.
Dar um susto e uma corrida nos bancos talvez ajude a cortar uns pontos das
taxas médias para o tomador final. Muito mais não se consegue. Motivo? Faltam
dinheiro, poupança, um mercado de crédito melhor, com mais garantias e mais
competição. O juro real baixo e os limites do sucesso da campanha do governo
vão enfim tornar evidente o nosso impasse, que depende de "reformas"
para ser resolvido.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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