SIMON SCHWARTZMAN l SÃO PAULO. O sociólogo e presidente do Conselho do
Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman, diz ser
contra a adoção de cotas raciais em universidades. Na opinião dele, elas acabam
gerando mais discriminação.
Marcelle Ribeiro
O GLOBO: Por que o senhor é contra as cotas nas universidades ?
SIMON SCHWARTZMAN: Não acho que cotas sejam uma coisa boa em geral.
Considero correta a ideia de uma política de ação afirmativa que dê atendimento
especial para pessoas em situação de carência.
O que não acho correto é diferenciar as pessoas pela cor da pele ou pela
raça.
l Que medidas seriam mais adequadas que as cotas?
SCHWARTZMAN: Mais adequado seria melhorar a educação para as pessoas poderem
chegar à universidade e não precisarem desse tipo de ajuda. Na falta disso,
poderiam ser criados cursos que preparassem melhor para as universidades, e
poderiam dar ajuda financeira para quem não tem recursos, de modo a permitir
que as pessoas continuem estudando. Simplesmente criar cota e colocar a pessoa
na universidade sem esse tipo de apoio, não significa que ela aproveitará. Vai
ter aquela situação de o "fulano é cotista", ou o "fulano não é
cotista". Vai criar discriminação.
l Por que o senhor acha que a discriminação pode aumentar com as cotas?
SCHWARTZMAN: Quando você cria uma situação em que você divide as pessoas
entre cotistas e não cotistas, você está dividindo a população e tem gente que
diz "ah, o fulano entrou pela janela". As pessoas começam a se olhar se
estranhando.
Cria situações de pessoas que se sentem discriminadas, que tiveram
desempenho melhor nas provas e não conseguiram entrar na universidade, como
aconteceu em uma das ações em avaliação pelo STF.
l Há quem diga que as cotas são uma forma de reparar um problema histórico,
desde a escravidão. Como o senhor vê isso?
SCHWARTZMAN: Temos um presente extremamente complicado, com pobreza, pessoas
que não completam o ensino médio ou que completam e não sabem quase nada. Parte
dessas pessoas é negra, parte é branca. Temos que lidar com o problema da má
qualidade de educação. Se tivéssemos uma educação de melhor qualidade, esse
problema não se colocaria.
l O senhor acha mais provável que o cotista abandone o curso?
SCHWARTZMAN: Pode ficar difícil para ele acompanhar, porque supõe-se que são
pessoas que não têm condições de entrar pelo processo tradicional. Ou você não
deixa entrar ou você deixa e dá apoio.
FONTE: O GLOBO
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