Petistas dizem que ex-ministro pôs em prática estratégia de cooptação para
garantir a reeleição de Lula
Maria Lima, Fernanda Krakovics
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA - Passados quase dez anos da subida do PT ao poder, líderes e
ex-parlamentares do partido relembram cenas e fatos dos primeiros anos de
governo Lula. A percepção de alguns é que, já naquela época, vários episódios
indicavam que o comando com mão de ferro de José Dirceu, nas reuniões do
Planalto e do partido, desembocaria num escândalo. Desde o início do governo
Lula, em 2003, Dirceu tinha a meta de criar uma base para a reeleição de 2006,
que passava pela eleição de cerca de mil prefeitos em 2004, projeto ambicioso
para um partido que tinha 140.
A base no Congresso já era grande - 93 petistas e, somados os aliados, 130 a
140 deputados. Dirceu, porém, dizia que era pouco para garantir a
governabilidade. Daí começou a corrida aos partidos, primeiramente com o PMDB.
- Nas reuniões com a bancada e com o diretório, não havia transigência com
os críticos da política de alianças ou política econômica do governo. O Zé
chegou a criar a imagem do transatlântico. Dizia que, para manobrar um
transatlântico, era preciso fazer devagar, e isso levava tempo - diz um dos
petistas que participava das discussões.
Nos planos, uma "imprensa petista"
Raul Pont, ex-deputado do PT gaúcho, que era um crítico ácido da estratégia
de tudo ou nada para as alianças, diz que Dirceu executava uma política
endossada pelo então presidente Lula.
- Essa política permitiu que Lula fosse reeleito em 2006 e Dilma, eleita em
2010. Mas o preço que se paga é muito alto. O Zé Dirceu foi uma das vítimas
disso, de fazer alianças com partidos contraditórios que só se movem por
compensações financeiras, cargos e ministérios - diz Pont.
Ex-aliados que conviveram com Dirceu naquela época contam que ele gostava da
"estatística da dominação". Ele teria ainda lançado a tese de que era
importante criar uma imprensa petista.
- Isso tudo nasceu da mentalidade do Lula, que fala as coisas nas reuniões e
espera que apareça alguém que faça. Era uma coisa chavista, kirchnerista. Muita
gente no PT caiu nisso e continua pregando o método - relata um ex-membro do
diretório nacional do PT.
Em entrevista à revista "Piauí" em 2008, ao falar sobre críticos
como Pont e a ex-senadora petista Heloisa Helena, Dirceu disse que eles e
outros chegavam para Delúbio (Soares, então tesoureiro do PT) e diziam
"preciso de R$ 1 milhão, mas não queriam saber como ele se virava para
conseguir".
- Aí estourou o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem
da mala. O que não dizem é que a mala era para eles - afirmou Dirceu.
O episódio de outubro de 2004, quando Lula cortejou o então deputado Roberto
Jefferson, num jantar em sua casa, em Brasília - com o anfitrião tocando ao
piano "Eu sei que vou te amar" - é citado como o mais significativo.
- Naquele jantar, Lula liberou o vale tudo. Ele dava as ordens e Dirceu ia a
campo executar. O que na boca de Lula eram metáforas, nas de Zé Dirceu viravam
verdade - diz um deputado petista, que diferencia o papel de Genoino: - O
Genoino, não. Ele era diferente, afável, aberto a ponderações, muito diferente
do Zé, que agia de forma impositiva.
Delúbio, dizem esses petistas e aliados, pouco aparecia nas reuniões de
bancadas e do Planalto. Só atuava nos bastidores ou com alguns parlamentares
mais ligados a Dirceu.
Fonte: O Globo
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