quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dirceu, na linha de frente do 'vale tudo'


Petistas dizem que ex-ministro pôs em prática estratégia de cooptação para garantir a reeleição de Lula

Maria Lima, Fernanda Krakovics

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA - Passados quase dez anos da subida do PT ao poder, líderes e ex-parlamentares do partido relembram cenas e fatos dos primeiros anos de governo Lula. A percepção de alguns é que, já naquela época, vários episódios indicavam que o comando com mão de ferro de José Dirceu, nas reuniões do Planalto e do partido, desembocaria num escândalo. Desde o início do governo Lula, em 2003, Dirceu tinha a meta de criar uma base para a reeleição de 2006, que passava pela eleição de cerca de mil prefeitos em 2004, projeto ambicioso para um partido que tinha 140.

A base no Congresso já era grande - 93 petistas e, somados os aliados, 130 a 140 deputados. Dirceu, porém, dizia que era pouco para garantir a governabilidade. Daí começou a corrida aos partidos, primeiramente com o PMDB.

- Nas reuniões com a bancada e com o diretório, não havia transigência com os críticos da política de alianças ou política econômica do governo. O Zé chegou a criar a imagem do transatlântico. Dizia que, para manobrar um transatlântico, era preciso fazer devagar, e isso levava tempo - diz um dos petistas que participava das discussões.

Nos planos, uma "imprensa petista"

Raul Pont, ex-deputado do PT gaúcho, que era um crítico ácido da estratégia de tudo ou nada para as alianças, diz que Dirceu executava uma política endossada pelo então presidente Lula.

- Essa política permitiu que Lula fosse reeleito em 2006 e Dilma, eleita em 2010. Mas o preço que se paga é muito alto. O Zé Dirceu foi uma das vítimas disso, de fazer alianças com partidos contraditórios que só se movem por compensações financeiras, cargos e ministérios - diz Pont.

Ex-aliados que conviveram com Dirceu naquela época contam que ele gostava da "estatística da dominação". Ele teria ainda lançado a tese de que era importante criar uma imprensa petista.

- Isso tudo nasceu da mentalidade do Lula, que fala as coisas nas reuniões e espera que apareça alguém que faça. Era uma coisa chavista, kirchnerista. Muita gente no PT caiu nisso e continua pregando o método - relata um ex-membro do diretório nacional do PT.

Em entrevista à revista "Piauí" em 2008, ao falar sobre críticos como Pont e a ex-senadora petista Heloisa Helena, Dirceu disse que eles e outros chegavam para Delúbio (Soares, então tesoureiro do PT) e diziam "preciso de R$ 1 milhão, mas não queriam saber como ele se virava para conseguir".

- Aí estourou o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles - afirmou Dirceu.

O episódio de outubro de 2004, quando Lula cortejou o então deputado Roberto Jefferson, num jantar em sua casa, em Brasília - com o anfitrião tocando ao piano "Eu sei que vou te amar" - é citado como o mais significativo.

- Naquele jantar, Lula liberou o vale tudo. Ele dava as ordens e Dirceu ia a campo executar. O que na boca de Lula eram metáforas, nas de Zé Dirceu viravam verdade - diz um deputado petista, que diferencia o papel de Genoino: - O Genoino, não. Ele era diferente, afável, aberto a ponderações, muito diferente do Zé, que agia de forma impositiva.

Delúbio, dizem esses petistas e aliados, pouco aparecia nas reuniões de bancadas e do Planalto. Só atuava nos bastidores ou com alguns parlamentares mais ligados a Dirceu.

Fonte: O Globo

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