Ex-ministro afirma no Diretório do PT que meta agora é superar o PSDB em SP;
Genoino deixa cargo no governo
Condenado pelo STF por corrupção ativa, o ex-ministro José Dirceu disse
ontem no Diretório Nacional do PT que a demanda do mensalão será "uma
batalha para muitos anos". Ao conclamar seus companheiros a se mobilizar
para o desafio das eleições municipais em São Paulo, ele declarou: "A
prioridade agora é o segundo turno, ganhar a eleição em São Paulo. O resto
vamos resolver durante toda a nossa vida". O ex-ministro agradeceu "o
apoio, a solidariedade" que vem recebendo do PT. Antes de destacar que o
importante agora é levar o candidato da legenda Fernando Haddad ao triunfo, ele
se disse "injustiçado, condenado sem provas". Também condenado, José
Genoino pediu ontem demissão do cargo de assessor especial do Ministério da
Defesa. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, autor dos pedidos de
condenação, disse que o resultado é "exemplar" e rebateu carta em que
Dirceu comparou a decisão do STF a um "juízo político de exceção".
Para ele, a afirmação é "absolutamente despropositada".
Dirceu diz a
dirigentes petistas que vencer eleição é mais importante que julgamento
Vera Rosa, Fausto Macedo , Fernando Gallo
Vinte e quatro horas após a condenação do núcleo político do PT no
julgamento do mensalão, a cúpula petista fez duro ataque ao Judiciário e
avaliou que a elite adota "dois pesos e duas medidas" para
criminalizar o partido. Mesmo assim, em reunião com o ex-chefe da Casa Civil
José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino - condenados pelo Supremo Tribunal
Federal por corrupção ativa -, o Diretório Nacional da legenda decidiu desviar
o foco do escândalo e adotar o pragmatismo, na tentativa de vencer as eleições
municipais.
"Nossa prioridade, agora, é ganhar o segundo turno, principalmente em
São Paulo, contra o PSDB. O mensalão será uma batalha para muitos anos",
afirmou Dirceu, ovacionado pela plateia, formada por cem dirigentes, senadores
e deputados. Com esse diagnóstico, o PT congelou a intenção de fazer desagravos
a ele, a Genoino e ao ex-tesoureiro Delúbio Soares, também condenado pelo
Supremo.
A portas fechadas, Dirceu garantiu que não cairá deitado nem abandonará a
política, mesmo que seja preso. Não foi só: disse que todo o ataque do PSDB
deve ter revide à altura, com a lembrança do mensalão tucano. Antes de chegar
ao PT, ele postou em seu blog texto no qual agradece a solidariedade recebida.
"O apoio (...) me dá forças e enche minha alma de luz e de vontade de
lutar", escreveu.
Enquanto a cúpula do PT atacava a "hipocrisia" e a
"intolerância" de "setores conservadores", a presidente
Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se debruçavam sobre
o mapa eleitoral. Dilma desembarcou em São Paulo para almoçar com Lula.
Os dois escalaram ministros e dirigentes do PT para apagar incêndios e
atrair o apoio do PRB de Celso Russomanno à candidatura de Fernando Haddad
(PT). Queriam, também, reverter a decisão do PDT de aderir a José Serra (PSDB).
Não conseguiram. O PRB, que se declarou neutro, e o PDT de Paulinho da Força
integram a base aliada e estão insatisfeitos com o espaço no governo.
Chamado às pressas por Lula e Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, deixou
a reunião do Diretório Nacional logo após ser aprovada a resolução política,
mas sem encaixar as emendas ao texto. No documento, que não menciona a palavra
mensalão, os petistas se dizem vítimas de uma "intensa campanha promovida
pela oposição de direita e seus aliados na mídia, cujo objetivo explícito é
criminalizar o PT".
Hipocrisia. A resolução que passou pelo crivo de Lula, na véspera, dá o tom
da estratégia do PT para enfrentar os adversários nas 22 cidades onde o partido
disputa o 2.º turno. A tática para o duelo ético é bater na tecla de que a
democracia não aceita "dois pesos e duas medidas" e, portanto, o mensalão
tucano tem de ser julgado com rigor.
"Não é a primeira nem será a última vez que os setores conservadores
demonstram sua intolerância, sua falta de vocação democrática, sua hipocrisia,
os dois pesos e medidas com que abordam temas como a liberdade de comunicação,
o financiamento das campanhas eleitorais, o funcionamento do Judiciário, sua
incapacidade de conviver com a organização independente da classe trabalhadora
brasileira", diz o texto petista.
Na terça-feira, em reunião com candidatos do PT e prefeitos eleitos, Lula já
havia classificado o julgamento do mensalão como "uma hipocrisia".
Genoino propôs que o PT convocasse militantes e movimentos sindicais contra a
"injustiça monumental" cometida pelo Supremo. Dirigentes do PT
argumentaram, porém, que não seria conveniente tratar desse assunto na campanha
eleitoral. Delúbio não foi à reunião, mas estava representado pela mulher,
Mônica.
"Não sei mais se vai ter desagravo. Isso não é uma coisa pessoal. É
política", afirmou o deputado Pedro Eugênio (PT-PE). O Estado apurou que a
iniciativa passou a ser questionada por grupos do PT não alinhados à corrente
majoritária Construindo um Novo Brasil, de Lula e Dirceu. "De qualquer
forma, quem usar a desgraça dos outros para ganhar a eleição vai quebrar a
cara", previu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).
Fonte: O Estado de S. Paulo
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