quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Após condenação, PT corre para conter dano eleitoral


Cúpula do partido se solidariza com Dirceu e Genoino, que deixa cargo na Defesa

Presidente do STF conclui votação e diz que mensalão foi tentativa de golpe do PT para se perpetuar no poder; Celso de Mello fala em "utilização criminosa do aparelho de Estado"

Com aval de José Dirceu, o PT decidiu ontem não reagir à condenação de seus dirigentes pelo STF para não atrapalhar o desempenho nas eleições. Tanto Dirceu quanto José Genoino, no entanto, foram aplaudidos na reunião do Diretório Nacional do partido. Emocionado, Genoino disse ser inocente e "não se envergonhar de nada". Ele deixará o cargo de assessor especial do Ministério da Defesa. Na conclusão de mais um item do julgamento, o presidente Ayres Britto disse que o mensalão foi um golpe na democracia.

PT: hora de reduzir danos

Partido se solidariza com réus do mensalão e diz que o importante agora é ganhar as eleições

Tatiana Farah, Thiago Herdy

SÃO PAULO Um dia depois da condenação dos dirigentes petistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o diretório nacional do partido se reuniu ontem, com a presença de dois dos réus, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino, e decidiu que uma eventual reação do partido ao julgamento do mensalão só será feita depois do segundo turno das eleições. O PT está em campanha em 22 cidades, sendo seis capitais, entre elas São Paulo. Ex-presidentes do PT, Dirceu e Genoino participaram da reunião do diretório e foram aplaudidos pelos companheiros de partido.

- O importante agora são as eleições - disse Dirceu ontem aos dirigentes petistas.

Em resolução divulgada após a reunião, os dirigentes sequer citam o nome dos políticos condenados e não contestam a decisão dos ministros do Supremo. Eles criticam o uso do julgamento por seus adversários, afirmando que o objetivo do processo é "criminalizar o PT". Em texto de oito parágrafos, destinaram apenas um para tratar do tema:

"Nosso desempenho nas eleições municipais ganha ainda maior significado quando temos em conta que ele foi obtido em meio a uma intensa campanha promovida pela oposição de direita e seus aliados na mídia cujo objetivo explícito é criminalizar o PT. Não é a primeira nem será a última vez que os setores conservadores demonstram sua intolerância; sua falta de vocação democrática, sua hipocrisia, os dois pesos e medidas com que abordam temas como a liberdade de comunicação, o financiamento das campanhas eleitorais, o funcionamento do Judiciário; sua incapacidade de conviver com a organização independente da classe trabalhadora", diz o texto.

Mais adiante, os dirigentes concluem: "aos ataques e manipulações contraporemos a defesa enfática de nosso projeto estratégico", deixando claro que o partido ainda não decidiu abraçar a defesa da inocência de José Dirceu ou mesmo a tese defendida na terça-feira por ele, segundo a qual teria sido vítima de um "julgamento de exceção" e sem contar com a "presunção da inocência".

Dirceu participou da reunião e fez dois breves discursos, ambos orientando o partido a priorizar o processo eleitoral e adiar qualquer decisão sobre a eventual defesa pública da legenda aos principais réus do mensalão. No final da tarde, divulgou em seu site uma nota de agradecimento aos militantes e pediu mais uma vez foco nas eleições.

"Agora, o que conta e interessa é o segundo turno nas capitais e demais cidades, começando por São Paulo. Vamos às ruas e à luta para consolidar nossa vitória do primeiro turno, apoiando nossos candidatos ou aliados", escreveu o petista, que, anteontem, afirmou que levará aos últimos recursos sua defesa no processo.

Antes de Dirceu falar aos petistas, o ex-deputado José Genoino leu uma carta, na qual afirma ser inocente. Alguns dirigentes chegaram a chorar com Genoino.

A fala de Dirceu, no entanto, foi mais pragmática. Ele defendeu que, a despeito do julgamento do mensalão, o PT aumentou em 12% sua presença nas prefeituras do país na comparação com 2010 e que crescer ainda mais deveria ser, no momento, a prioridade do partido. Suas declarações soaram como uma senha para que nenhum petista, principalmente candidato, sinta-se na obrigação de defendê-lo.

- Esta é uma disputa política de médio e longo prazos. Vai ser feita no determinado momento - disse o deputado Paulo Ferreira (PT-RS), referindo-se à defesa do PT no mensalão.

Ferreira, no entanto, não se conteve ao criticar a condenação dos petistas no STF:

- São condenações profundamente injustas. Nenhum deles é quadrilheiro.

Apesar de prometer dedicar a vida à sua "sede de justiça" e à defesa de sua inocência, Dirceu não contará com os principais companheiros do partido em sua luta pública, pelo menos por agora. Entre petistas, há quem duvide que até mesmo depois das eleições o partido atue com veemência na sua defesa. Caso do deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), para quem o ex-ministro deve usar todos os mecanismos possíveis para tentar provar sua inocência, mas sem que o partido abrace sua tese:

- O fato concreto é que já tem uma decisão, e ela está transitado em julgado. A história do Zé Dirceu é de quem resiste, e ele não vai seguir de cabeça baixa, o que não significa que ele não vai aceitar a decisão, até porque não tem outra alternativa. O Zé vai tentar provar sua inocência. O PT vai continuar sua história, sua vida, independentemente da ação de indivíduos.

Ao sair da reunião ontem, Dirceu foi alvo da manifestação de sete pessoas ligadas a uma associação de policiais reformados, que gritaram palavras de ordem contra ele.

Fonte: O Globo

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