O constrangimento da presidente Dilma Rousseff com
o persistente impacto da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal – que
esvaziou o anúncio na semana passada do programa Brasil Carinhoso, para menores
de até 15 anos, com o qual ela buscava retomar na mídia uma “agenda positiva”
de ações sociais após as manchetes sobre a dosimetria das penas dos réus do
mensalão, pelo STF – esse constrangimento tornou-se ainda mais agudo ao longo
da sexta-feira com a divulgação dos dados do IBGE sobre o desempenho da
economia no terceiro tri-mestre. Os quais registraram um crescimento de apenas
0,6% do PIB em relação ao trimestre anterior, com a agravante de uma queda de
2% nos investimentos, a quinta seguida. E levaram de pronto a uma nova projeção
dos diversos analistas para o PIB de 2012 – de um crescimento em torno de 1% ou
até menor, inferior aos dos demais integrantes dos BRICs e aos do México, do
Chile, da Colômbia, do Peru. Além de puxarem para baixo as expectativas de
expansão em 2013 – já para algo entre 3,5% e 3,3%. Redução que, se confirmada,
representará séria ameaça ao projeto reeleitoral de Dilma Rousseff. Com
implicações, políticas, a partir do estreitamento da base governista no
Congresso após a eleição dos novos presidentes das duas casas pelo PMDB. Cuja
postura na disputa maior de 2014 dependerá do contexto da economia – por sua
própria relevância e como condicionante da viabilização dos diversos programas
do Palácio do Planalto, em particular das ações de estímulo ao consumo e distributivistas,
principais responsáveis pelas altas taxas de popularidade da presidente.
Gestão e confiança. Para enfrentamento e superação
dessa ameaça, Dilma precisará dar uma virada na condução do governo. Cujos
resultados têm comprometido sua imagem de “gestora eficiente e ética”, seja
pelo atraso dos programas básicos prometidos (como os de infraestrutura
reunidos no PAC), seja pela sucessão de “malfeitos” na máquina federal, gerado
pelo abusivo aparelha-mento partidário, sobretudo por quadros de seu partido, o
PT. Seguem-se trechos de avaliação do governo e de seu relacionamento com o
mercado, em editoriais a respeito dos dados do IBGE sobre o PIB. Da Folha
de S. Paulo – “Desinvestimento”: “O desafio (de crescimento adequado)
impõe uma visão muito mais larga, com real esforço para reformular o papel do
Estado e encetar reformas. O país precisa de estrategistas, mas é governado por
gerentes – e mesmo assim com desempenho tacanho”. “Perdido em seu labirinto
pseudodesenvolvimentista, o governo Dilma Rousseff parece não estar à altura da
tarefa”. Do Valor – “Crise de confiança poderá explicar o fraco
investimento”: “..há indícios de que se criou um clima de desconfiança entre
parte do empresariado brasileiro e o governo Dilma Rousseff. A desconfiança
teria surgido pela percepção (dessa parte) de que o governo abandonou o tripé
da política econômica – o câmbio flutuante, o regime de metas de inflação e a
política fiscal – e adotou uma postura mais intervencionista e voluntarista na
economia”.
...
E abre espaço para Aécio, além de
apressar definição de Campos
Estes são dois dividendos dos problemas centrais do
governo Dilma – da gestão “tacanha” (do editorial da Folha) ao
intervencionismo estatal na economia (do editorial do Valor) ao
generalizado aparelhamento partidário da má-quina administrativa. E o
intervencionismo face à iniciativa privada manifesta-se também no reforço do
papel centralizador da União no relacionamento com os estados, no plano fiscal
e em áreas importantes de investimentos, como a das concessionárias
hidrelétricas. Por isso, a defesa de um novo pacto federativo, de par com
fortes críticas à “baixa” qualidade da gestão e ao aparelhamento político-partidário,
constituem ingredientes básicos da agenda que o senador Aécio Neves informa
estar montando para assumir a candidatura presidencial oposicionista (já
praticamente lançada pelo ex-presidente FHC num encontro de prefeitos do PSDB
realizado anteontem).
Por outro lado, o conjunto de complicações vividas
pelo atual comando do Palácio do Planalto estimula o presidente do PSB, Eduardo
Campos, a dar mais passos preparatórios da sua alternativa de candidato em
2014. Passos destacados em reportagem da Folha, de anteontem:
“Campos diz que falta ‘rumo estratégico’ ao governo de Dilma”. Com o subtítulo
“Governador de Pernambuco cri-tica política econômica e diz que consumo ‘por si
só’ não é suficiente para vencer a crise”
Jarbas
de Holanda é jornalista
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