Policial foi flagrado em grampo com doleiro suspeito de
ser ligado à quadrilha que vendia pareceres técnicos de órgãos públicos a
empresas
Fausto Macedo
A Justiça decretou a prisão preventiva do agente da
Polícia Federal Marcus Vinícius Gonçalves Alves, sob suspeita de tentar vazar a
Operação Porto Seguro - investigação sobre tráfico de influência e corrupção
envolvendo Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República
em São Paulo.
Alvo de outra operação da PF, a Durkheim - investigação
contra 33 doleiros e arapongas que espionavam políticos e empresários -,
Vinícius caiu no grampo um dia antes do estouro da Porto Seguro, dia 23 de
novembro, uma sexta-feira.
Segundo a PF, o agente insiste em marcar encontro com
seu interlocutor, identificado como doleiro que teria contato com algum alvo da
Porto Seguro. "Eu preciso falar com você porque amanhã vai acontecer uma
coisa", disse Vinícius, na ligação do dia 22, quinta-feira. "Mas hoje
eu não posso, tenho compromisso, um churrasco no clube", respondeu o
doleiro.
A PF afirma que não antecipou a Porto Seguro por causa
da arapongagem em seus próprios domínios. Mas usou a interceptação que flagrou
Vinícius como argumento para requerer judicialmente o decreto de sua prisão
preventiva no âmbito da Durkheim - deflagrada três dias depois da missão que
desmantelou o esquema de malfeitos no escritório da Presidência.
O agente, um veterano na carreira, fora preso em
caráter temporário por cinco dias pela Durkheim. Relatório de inteligência da
PF atribui a Vinícius papel central no núcleo financeiro da organização que
bisbilhotou e quebrou o sigilo do líder do governo no Senado, Eduardo Braga
(PMDB-AM), do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) e do ex-ministro
Carlos Gabas (Previdência Social). A PF liga Vinícius a Itamar Damião, apontado
como grampeiro maior da Durkheim.
Na sexta-feira, o juiz Raphael José de Oliveira Silva,
substituto da 2.ª Vara Criminal Federal, decretou a prisão preventiva do
agente, acolhendo representação da PF na qual é citada a ação do araponga
infiltrado na própria corporação. "Surge fato novo descrito pela
autoridade policial a fundamentar a prisão cautelar. Em data próxima à
deflagração da Operação Durkheim foi interceptada conversa travada entre Marcus
Vinícius que faria referência a uma operação que estaria sendo preparada pela
PF. In casu, tatava-se da Operação Porto Seguro, deflagrada poucos dias antes
desta."
Para o juiz, "mostram-se verossímeis as alegações,
pois, ressalte-se, no curso das interceptações telefônicas, já havia sido
constatado que Vinícius abastecia a organização criminosa de informações
privilegiadas". Ao decretar a prisão preventiva do agente da PF - fica
recolhido até o final da ação -, o juiz asseverou: "Verifica-se que o
investigado, diante do acesso às informações constantes do banco de dados da
PF, inclusive de cunho sigiloso, representa ameaça à ordem pública e à
instrução criminal".
O advogado Maurício Hortêncio, que defende Vinícius,
não se manifestou. "Não posso me pronunciar em razão do sigilo determinado
no inquérito." O advogado Ladisael Bernardo, que defende Itamar, disse que
seu cliente "é primário, não representa nenhum perigo à sociedade".
"A Porto Seguro não tem nada a ver com essa (Durkheim), não tem conexão.
Pegaram pesado com o Itamar enquanto a principal personagem da Porto Seguro não
foi sequer presa."
Fonte: O Estado de S. Paulo
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