quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Conservadores – Urbano Patto

Antigamente quando se falava em forças e classes sociais, notadamente no campo de esquerda, era costumeiro buscar identificar quais eram elas e quem as representava no cenário político, principalmente para vincular as chamadas forças politicamente “progressistas” às classes ditas “revolucionárias”.


Nos anos 80 e 90 do século passado houve grande reverência e quase endeusamento da categoria dos metalúrgicos, e dentro dela com enorme destaque dos metalúrgicos das montadoras de automóveis, tida como a vanguarda econômica do operariado brasileiro. Daí deve-se uma parte importante da gênese e força do PT e de Lula, o seu líder maior.

Acontece, simplificadamente, que essa noção de vanguarda política progressista corresponde ao entendimento de que isso é decorrente de um papel de pólo dinâmico da economia, que aponta para a transformação, para o aumento da produtividade, para o futuro, para a substituição de formas de gestão e poder antigas por novos modelos e que tudo isso possibilitaria mudanças significativas na equação do poder na sociedade.

E o que se percebe hoje é que do pouco que havia de verdade nisso há algumas décadas não há quase mais nada hoje. Pelo contrário, em termos sociais e de perspectivas de futuro para a humanidade a indústria automobilística e a indústria do petróleo a ela vinculada representam, perdendo apenas para a indústria armamentista, um dos setores mais retrógrados para economia e para o desenvolvimento sustentável. É direcionada para pouquíssimos consumidores, é altamente prejudicial ao meio ambiente, não é mais geradora de novas tecnologias, sobrecarrega a já esgotada infra-instrutora urbana das cidades e metrópoles, não aponta para novas formas de gestão da produção, etc etc

Outro setor econômico que também historicamente é caracterizado como trava para o desenvolvimento, sem desconhecer sua enorme importância para o funcionamento do sistema, é o setor financeiro e bancário, comumente acusado de sempre ganhar sem produzir.

Quando vemos a política econômica do governo federal na qual o esteio principal, dizendo ser para tapar os buracos da crise, chamando-a de anticíclica e repetindo-a indefinidamente, é a redução de encargos sobre a produção automobilística para venda de carros a crédito dá para saber o que essa política sustenta: montadoras e bancos. E, mais que no governo, salta aos olhos na composição da direção do PT, a preponderância dos sindicalistas ligados ao setores metalúrgico, petroleiro e bancário descontando-se, é óbvio, os ligados ao serviço público.

Conservadores e prudentes, não querem colocar em risco sua galinha dos ovos de ouro.

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com

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