Depois de um PIB no chão e cinco trimestres seguidos de queda nos
investimentos, o governo Dilma anuncia mais dois pacotes - regras de regulação
para portos e mais R$ 100 bilhões para o BNDES financiar investimentos. Quantos
são os pacotes em dois anos? Já se perdeu a conta. O Ministério da Fazenda
inventou o empacotamento em série, e a cada resultado econômico negativo tira
mais um pacote do armário, onde outros estão prontinhos aguardando o próximo
fiasco do PIB. E, junto com o mais novo pacote, o ministro Guido Mantega repete
a mesma ladainha: agora vai, os investimentos vão explodir, o futuro sorri, é
promissor. Nestes dois anos, o futuro promissor não chegou. E ninguém mais nele
acredita.
Dentro e fora do governo crescem as pressões políticas pela demissão de
Guido Mantega. Na edição desta semana, a revista inglesa The Economist deu voz
a essas pressões: argumenta que ele perdeu a confiança dos investidores e
sugere à Dilma que nomeie um novo ministro capaz de recuperá-la.
Não faltaram tentativas de virada, mas no jogo do crescimento econômico
Dilma só acumulou derrotas nestes dois anos. Restam-lhe mais dois anos para
virar o jogo no segundo tempo e não sair com o placar de mais baixa taxa de
investimento e crescimento mais medíocre desde Collor. Porém, é preciso
reconhecer que desgastado e desacreditado não está só Mantega, mas o modelo
escolhido pela presidente para desenvolver o País. É certo que não faltaram
nela ânimo e disposição para acelerar a economia, e a queda da taxa de juros
Selic para 7,25% foi a jogada mais acertada. Mas, no resto, o modelo já deu
provas e provas de equívocos.
No campo dos investimentos, o exemplo mais evidente vem das primeiras
rodovias e aeroportos licitados. Pelas regras do leilão, venceram os grupos que
apresentaram custo de operação mais baixo e tarifa mais barata. Todos os demais
fatores foram submetidos a esses dois objetivos. Só que, ao definir o preço da
tarifa, é preciso calcular custos de investimentos futuros em ampliação e
manutenção. Sem obras, as rodovias se deterioram, como aconteceu na Região Sul.
E, na licitação dos Aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos, o governo só
conseguiu atrair grupos de segunda linha, sem experiência em operar grandes
terminais. Agora, para os Aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ), ele tenta
corrigir o erro com regras capazes de atrair as operadoras dos maiores
aeroportos do planeta, mas submetendo-as ao comando da Infraero. Óbvio, todas
avisaram que não aceitam.
Se o governo não tem dinheiro e precisa do investidor privado, ele deve
vê-lo como amigo, não como inimigo, e definir regras que conciliem os
interesses do País e dos usuários do serviço com as necessidades do negócio.
Trabalhar em parceria implica negociação e diálogo, não imposição. Recusar
esse princípio de boa convivência tem sido outro equívoco do governo Dilma. Por
falta de negociação com as geradoras elétricas, a redução de 20% nas contas de
luz ameaça parar na Justiça, ou todos os brasileiros (o Tesouro) bancarão a
queda da tarifa que eles próprios vão usufruir. Que vantagem Maria leva?
O cacife de manter a taxa de desemprego baixa e a ascensão salarial, ao
longo de seu mandato, está se esgotando. Dilma precisa reagir com urgência e
tentar virar o jogo no segundo tempo. Afastar a equipe econômica identificada
com o modelo fracassado, e buscar um ministro de fora do governo, pode ser uma
saída. Mas não é suficiente. Ao escolher um país para sediar seu negócio, o investidor
precisa de certas previsibilidades de que o governo Dilma tem descuidado.
Previsões certeiras do governo dos indicadores econômicos são uma delas. Ao
projetar um crescimento de 4,5% e entregar 1%, o governo gera descrença e
afasta o investidor. Decisões de investimento dependem também de segurança
jurídica e estabilidade de regras - e as miúdas mudanças do governo só
alimentam desconfiança.
Dilma tem dois anos para acelerar o PIB, elevar a medíocre taxa de
investimentos (18,7%) e aproximá-la do Peru (30%) e do Chile (27%). A ver.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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