MEMÓRIA - Câmara do Recife reempossa seis ex-vereadores
Débora Duque
Seguindo o exemplo da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa, a Câmara
do Recife irá promover um ato simbólico, amanhã, para reempossar os vereadores
cassados durante o regime militar. A data escolhida pela autora da iniciativa,
a vereadora Marília Arraes (PSB), é emblemática por se tratar do Dia
Interacional dos Direitos Humanos. Na solenidade, que acontecerá no plenário da
Casa Joaquim Nabuco, serão "devolvidos" os mandatos de seis
vereadores, entre eles o do jornalista e analista político Jarbas de Holanda e
do advogado João Bosco Tenório.
Ambos confirmaram presença na homenagem. Os outros quatro ex-vereadores, já
falecidos, serão representados por familiares. Integram a lista de homenageados
o ex-funcionário da rede ferroviária Ivan Gonçalves Cidreiras (PST), Felício
Coelho Medeiros (PTN), Luiz Sebastião Cavalcanti (PSB) e Alfredo Francisco da
Silva (PSD), ex-sindicalista portuário.
Morando em São Paulo, o ex-vereador Jarbas de Holanda relembra a história de
sua cassação. Na época, era bastante visado pelos militares por pertencer aos
quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi eleito, no entanto, pelo PTB
janguista, já que o "partidão" estava na clandestinidade. "Eu
fiquei como líder da bancada pró-Pelópidas. Ele e Arraes já haviam sido presos
e fui o único a votar contra a cassação. Ainda consegui fugir da Câmara, mas
dias depois terminei sendo preso no Cais de Santa Rita", recorda. Enviado
à sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), terminou conseguindo,
posteriormente, o direito à prisão domiciliar.
Em 1968, chegou a ser preso novamente, na capital paulista. Quando veio a
anistia, em 79, Jarbas conta que seu radicalismo político já estava se esvaindo.
Defendeu, ao lado de Roberto Freire (PPS), a reforma na linha programática do
PCB, o que lhe rendeu acusações de "direitista" dentro da antiga
legenda da qual desligou-se no início dos anos 90. "Hoje tenho uma visão
crítica sobre esse esquerdismo", repensa.
Cassado em 1967, João Bosco Tenório era líder estudantil e foi eleito, à
época, pelo MDB. Quando saiu a notícia de sua cassação, estava no Rio de
Janeiro. "Fui cassado por absoluta fidelidade ao que queria fazer e não
deixavam. Chamava a administração municipal de corrupta", conta. Mesmo
após a anistia, Tenório, que hoje mantém um escritório de advocacia na Boa
Vista, diz que nunca se desvinculou do PMDB nem de suas lideranças, como o
senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). "Ninguém se perde no caminho da volta.
Voltar à Câmara é uma maneira de renascer", afirma.
Na solenidade de reemposse, marcada para às 9 horas, também estarão
presentes o presidente da Comissão Estadual da Verdade, Fernando Coelho, e a
secretária municipal de Direitos Humanos, Amparo Araújo. Na ocasião, a
vereadora Marília Arraes informou que pedirá à Comissão uma investigação a
respeito da deposição do ex-governador Miguel Arraes (PSB), seu avô, e também
sobre a morte dos líderes estudantis Ivan Rocha Aguiar e Jonas Albuquerque.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário