Partido deve assumir as
presidências da Câmara e do Senado a partir do próximo ano. Para o Palácio do
Planalto, a hegemonia peemedebista pode evitar turbulências na gestão de Dilma
Rousseff e no seu projeto de reeleição em 2014. Os nomes mais cotados são o do
deputado Henrique Eduardo Alves (RN) e o do senador Renan Calheiros.
PMDB acalenta o
sonho da hegemonia
Se não houver contratempos, o partido assumirá as presidências da Câmara e
do Senado e terá papel fundamental para evitar que turbulências no Legislativo
atrapalhem as pretensões de Dilma Rousseff disputar a reeleição em 2014
Paulo de Tarso Lyra
O Planalto cedeu às pressões do PMDB para ter dois anos de paz no Congresso
e menos queixas por mais espaço na Esplanada. A contragosto, Dilma Rousseff
concordou que o partido presida a Câmara e o Senado a partir de fevereiro de
2013. Coincidirá, justamente, com o segundo biênio do mandato da presidente,
que decidirá se ela terá ou não chances de se reeleger em 2014. O preço da
fidelidade é alto: um orçamento total de R$ 8,43 bilhões sob o comando dos
futuros presidentes da Câmara e do Senado, provavelmente os peemedebistas
Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL), respectivamente. O montante
para investimentos é menor: R$ 287,19 milhões.
Os presidentes da Câmara e do Senado ditam a pauta de votações, autorizam a
instalação de comissões parlamentares de inquérito e comandam acordos com os
parlamentares para a aprovação ou a derrubada de projetos de interesse do governo.
Em casos extremos, decidem pela abertura ou o arquivamento de pedidos de
impeachment contra o presidente da República. O PT sempre temia que o PMDB
tivesse tanto poder nas mãos. Não teve jeito. Dilma espera, com isso, que o
partido diminua a pressão por mais espaço na Esplanada.
Desde que o atual governo assumiu, em janeiro de 2011, o PMDB reclama que
está subrepresentado. No segundo mandato de Lula (2007-2010), o partido
comandava seis ministérios. Hoje, tem cinco. O problema é a gritante queda de
orçamento sob a tutela peemedebista. Na era Lula, eles tinham sob controle
próprio R$ 20,12 bilhões em investimentos (valores das respectivas pastas
contidas na peça orçamentária em tramitação no Congresso). Atualmente, são R$
594,4 milhões.
O PMDB sempre cobiçou duas pastas: o Ministério dos Transportes e o das
Cidades. Somados terão, em 2013, uma previsão de orçamento para investimentos
de R$ 21,9 bilhões. Dilma descartou a ambição peemedebista. Em jantar com
integrantes do PP, avisou que o partido continuaria no comando das Cidades,
ocupada hoje por Aguinaldo Ribeiro. Nos Transportes, são remotas as chances de
a presidente mudar Paulo Sérgio Passos. Apesar de ser filiado ao PR, o
substituto do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) não tem atuação partidária.
Desta vez, a presidente fará apenas reformas pontuais. Mas poderá ampliar o
naco do PMDB na Esplanada se confirmar a indicação de Gabriel Chalita para o
Ministério da Ciência e Tecnologia. O MCT tem orçamento de R$ 1,3 bilhão para
gastar no ano que vem — bem mais do que tudo o que os peemedebistaas têm hoje.
Chalita, entretanto, entraria na cota pessoal do vice-presidente Michel Temer,
não sendo considerado um autêntico representante do partido. Ele queria se
candidatar à prefeitura de São Paulo e seu antigo partido, o PSB, não quis
oferecer a legenda para empreitada.
Expectativa
A esperança do governo é que o PMDB se acalme. "Eles foram confirmados na
chapa presidencial de 2014 e comandarão Câmara e Senado nos dois últimos anos
do governo Dilma. Isso já é muita coisa", declarou um aliado da
presidente. O raciocínio nas fileiras do partido é diferente: justamente por
ter tanto prestígio assim, a sigla acredita que merece um tratamento melhor na
Esplanada. "Nós queremos ter mais acesso à formulação das políticas
públicas do governo", defendeu o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).
A presidente está preocupada com solavancos no Congresso que possam
atrapalhar a reeleição em 2014. Com uma crise financeira internacional que não
dá sinais de melhora e uma série de medidas encaminhadas ao Legislativo na
tentativa de blindar ao máximo o país, Dilma sabe que uma boa relação com o
maior partido da base aliada — além do PT — é mais do que necessária, é
imperiosa. Entre as matérias importantes nas mãos do PMDB, está a medida provisória
que altera as regras das concessionárias de energia e desonera as contas de
pequenos e grandes consumidores.
Na quinta-feira, Dilma tomou café da manhã com o relator da proposta, Renan
Calheiros (PMDB-AL), com o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM)
e com o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP). Não quer nem saber de
desafino na orquestra, especialmente depois da politização feita pelo PSDB. No
comando de duas das principais estatais de energia elétrica estaduais — Cemig,
em Minas Gerais, e Cesp, em São Paulo —, os tucanos não querem reduzir as
margens da renegociação das concessões. Dilma reclama que, se isso não for
feito, não será possível desonerar em 20% as contas de luz. O PSDB ameaça
processar a presidente por estelionato eleitoral se ela não cumprir a promessa.
Renan sabe que não poderá vacilar nessa MP. Durante jantar com os
peemedebistas há quase dois meses, a presidente foi explícita ao avisar que não
aceitaria emendas à proposta: "Quero que seja aprovada exatamente como
veio", disse ela aos peemedebistas, incluindo Renan. O postulante à
cadeira de presidente do Senado sabe que esse também é um teste de lealdade que
ele precisa enfrentar.
Fonte: Correio Braziliense
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