Está cada vez mais difícil de entender o
silêncio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da Operação
Porto Seguro, da Polícia Federal, que flagrou um esquema de corrupção comandado
e operado por integrantes de agências reguladoras e da Advocacia-Geral da
União. De acordo com a investigação policial, uma das principais facilitadoras
do esquema de venda de pareceres era a chefe de gabinete da Presidência da
República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, nomeada por Lula durante o
seu governo e mantida no cargo por Dilma Rousseff a pedido do ex-presidente. A
proximidade entre os dois era tão grande, que a ex-secretária acompanhou Lula
em 24 viagens internacionais e não escondia de ninguém sua intimidade com o
líder petista.
Lula sempre manifestou sentimentos contraditórios em relação às irregularidades
praticadas por correligionários e assessores próximos. No célebre episódio do
mensalão, chegou a pedir desculpas à nação em 2005, dizendo-se “traído por
práticas inaceitáveis” sobre as quais nunca tivera conhecimento.
Posteriormente, porém, passou a dizer que o mensalão era uma farsa e que, após
sua saída do governo, faria o possível para desmascará-la. Com a confirmação do
episódio pela Justiça e com a punição exemplar dos envolvidos, silenciou.
Mas a cúpula dirigente do PT, estimulada pela ambiguidade do ex-presidente e
confiante de que sua popularidade é eterna, continua a campanha de
desmoralização de opositores. Em recente discurso a prefeitos e vereadores do
partido, o presidente Ruy Falcão garantiu que o projeto petista para 2013 é
promover uma reforma de Estado que atinja a “mídia monopolizada e o Judiciário
conservador”. O próximo alvo talvez seja a Polícia Federal, que, ao que se
saiba, não foi pressionada por ninguém nem teve qualquer motivação política
para desencadear a Operação Porto Seguro.
Será possível que todos estejam errados e só as lideranças mais autoritárias do
PT estejam certas? Será que Lula concorda com esse posicionamento?
Presidente mais popular da história do país, protagonista de uma verdadeira
revolução social que resgatou milhões de brasileiros da pobreza durante sua
administração, líder do partido que ocupa o poder há uma década, o senhor Luiz
Inácio Lula da Silva não tem o direito de silenciar neste momento, sob o risco
de manchar definitivamente sua biografia. E, desta vez, vai ser difícil
convencer os brasileiros de que ele não sabia de nada.
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