O dólar bateu R$ 2,451, com alta de 2,38% e no maior patamar desde dezembro de 2008. Após a divulgação da ata do Federal Reserve, cresceu a percepção de que estímulos à economia americana serão retirados logo, e o dólar subiu. O real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo
Dólar em disparada
Após ata do Fed, moeda americana chega a R$ 2,451, maior patamar desde dezembro de 2008
Daniel Haidar, Bruno Villas Bôas
Em um dia de tensão no mercado financeiro e de desvalorização das moedas de países emergentes, o dólar disparou e fechou em alta de 2,38%, a R$ 2,451, o maior patamar desde 9 de dezembro de 2008, quando havia alcançado R$ 2,471. A moeda americana já iniciou os negócios em alta, mas ganhou novo fôlego após a divulgação da ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Prevaleceu no mercado a interpretação de que o processo de retirada de estímulos à economia americana, que envolve a compra mensal de US$ 85 bilhões em títulos, pode começar em setembro. E mesmo diante de sinais de divisão entre os integrantes do Fed, os investidores foram às compras. Nem mesmo a intervenção do Banco Central (BC) foi capaz de frear a subida do dólar.
Entre 174 moedas monitoradas pela Bloomberg, o real teve ontem a maior desvalorização, com queda de mais de 2% frente ao dólar. No fim da tarde, o BC anunciou que fará hoje intervenções no mercado à vista de até US$ 4 bilhões, com leilões equivalentes a uma operação de empréstimo de dólares com compromisso de recompra no futuro. É a segunda vez nesta semana que a autoridade monetária recorre a esta estratégia. Além disso, deve renegociar 20 mil contratos de swap cambial - operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro. O Tesouro informou ainda que fará um leilão de recompra de títulos prefixados, como Letras do Tesouro Nacional (LTNs) e NTNs-F (Notas do Tesouro Nacional - série F).
Ontem, o BC rolou US$ 987,9 milhões em contratos de swap durante a manhã e vendeu 35.600 novos contratos, no valor de US$ 1,7 bilhão, durante a tarde, após a divulgação da ata do Fed. Desde o fim de maio, o BC já injetou quase US$ 40 bilhões em operações no mercado futuro.
- A atuação do BC já não surpreende. Então isso de certa forma torna o anúncio inócuo. O mercado está em direção única - avalia o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Segundo o chefe da mesa de operações de um grande banco, a atuação do BC ontem foi muito aquém da da última terça-feira, quando a autoridade forçou uma baixa da moeda americana. Ele diz que, ontem, as incertezas sobre a o rumo da política monetária americana foram mais intensas do que a atuação do BC.
- O mercado esperava que a ata desse um norte sobre o que iria acontecer nos próximos meses. Mas veio um vazio. Houve uma corrida por proteção após o comunicado, com empresas buscando hedge (proteção), o que levou o BC a realizar um leilão de swap cambial no fim do pregão, o que não é comum - explicou o operador.
Para Eduardo Suarez, estrategista sênior de câmbio do Scotiabank, a cotação do dólar deve superar nas próximas semanas a marca de R$ 2,536, que foi o pico da moeda na crise financeira internacional, em dezembro de 2008:
- Tem espaço para mais desvalorização do real. É difícil entender a estratégia do BC, na verdade, mas acho que vai ter que vender dólar à vista em algum momento, vai gastar reservas.
Um dos fatores que influenciaram a percepção dos investidores ontem foi o trecho da ata do Fed em que o órgão revela estar avaliando uma nova ferramenta para ajudar a drenar recursos do sistema bancário e manter as taxas de juros de curto prazo no nível desejado quando alterar sua política monetária. Ontem, o rendimento dos títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries , com vencimento em dez anos subiu para 2,89%.
Bolsas caem no Brasil e nos EUA
Em relatório, o Barclays avaliou que a ata tem poucos elementos para mudar a percepção do banco de que os estímulos devem começar a ser reduzidos em setembro. "A ata foi bastante não comprometedora, oferecendo pouco a sugerir que o comitê esteja pronto para elevar expectativas sobre a redução em setembro, embora haja pouco que indique que os participantes não considerem isso apropriado."
Para Mike Moran, estrategista de câmbio do banco Standard Chartered, em Nova York, o mercado ficou mais confiante numa retirada de estímulos em setembro. Ele avalia que o dólar deve chegar a R$ 2,60 no fim de setembro como resultado da turbulência.
No mercado americano, a reação nas Bolsas foi negativa. O Dow Jones recuou 0,7%, o S&P caiu 0,58% e a Nasdaq registrou queda de 0,38%. No Brasil, a Bovespa registrou o segundo dia seguido de queda. O Ibovespa, índice de referência do mercado, inverteu a alta após a ata do Fed e fechou o dia em baixa de 0,2%, aos 50.405 pontos.
A disparada da moeda americana também elevou os juros futuros. Contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2015 fecharam em 10,46%, ante 10,26% no pregão anterior. Segundo a gestora Quantitas, os contratos DI apontam que a Selic deve terminar o ano entre 10% e 10,25%.
- O mercado tem dúvida se o Banco Central vai manter o ritmo de elevação de 0,5 ponto percentual na próxima reunião caso o câmbio continue em desvalorização. Acho pouco provável que eleve o ritmo - disse Rogério Braga, gestor de renda fixa da Quantitas.
Fonte: O Globo
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