segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dino busca aliança com Dilma, Aécio e Campos

Fábio Brandt e Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Para derrotar o grupo político da família Sarney no Maranhão, o ex-juiz e ex-deputado federal Flávio Dino (PCdoB) quer ser candidato a governador com o apoio dos três principais pretendentes à Presidência da República: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Para se dedicar integralmente à construção da aliança, Dino deixará nesta ou na próxima semana o cargo que tem no governo federal - é presidente da Embratur, órgão vinculado ao Ministério do Turismo, desde junho de 2011. O pedido de exoneração já foi entregue ao ministro Gastão Vieira, mas Dino continuará no exercício do cargo até que o documento seja assinado.

Dilma já sabe da demissão e da negociação com os adversários, afirmou Flávio Dino em entrevista exclusiva ao Valor. Ele disse que mantém, com os três presidenciáveis, um "namoro firme". E todos eles sabem disso? Sim. "O importante é ter transparência". As provas de que o relacionamento aberto existe, afirmou Dino, são a recepção pública que deu a Eduardo Campos no Maranhão, em 2013, e o plano declarado de tirar fotos com Aécio Neves. Com Dilma, ele esteve pela última vez em novembro, no congresso realizado pelo PCdoB em São Paulo. Foi nessa ocasião que comunicou à presidente que sairia da Embratur.

Para Dino, a contradição da aliança com PT e PSDB não é um problema. "Nós temos que ver a dimensão do desafio. Qual é a dimensão do desafio? É vencer o grupo que está há mais tempo no poder, o segundo político mais longevo da história brasileira, atrás apenas de Dom Pedro II. Tenho que reunir forças com a amplitude necessária para dar conta disso".

Essa longevidade dos rivais também explica boa parte da recente crise de segurança pública enfrentada pelo Maranhão, afirmou Dino. Pelo menos 63 detentos morreram no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, desde 2013. "Ficou evidente que as omissões estão diretamente associadas ao desperdício de dinheiro público, ao desvio de dinheiro público, à apropriação, à corrupção". Outro problema que o grupo que está no poder tem, acusou o presidente da Embratur, é a falta de valores como "separação entre o público e o privado e não utilizar os bens públicos para acumular riqueza".

Dino não esconde a frustração com a aliança firmada por seus aliados do PT com seus arquirrivais da família Sarney. Após descrever um cenário em que o grupo da atual governadora é responsável pela destruição do Maranhão, ele concordou que o PT tem colaborado para a situação ser essa. "Existem fronteiras que, ao meu ver, essa aliança [do PT] com o grupo Sarney ultrapassa", afirmou. "O PT, em algum momento, não sei se vai ser nesta eleição, vai ter que rever essa política de alianças, porque ela conduz a absurdos".

É público que o PT tem evitado apoiar a pré-candidatura de Flávio Dino por causa do compromisso que tem com a governadora do Estado, Roseana Sarney (PMDB). Até o momento, tudo indica que ela tentará fazer de seu secretário de Infraestrutura, Luis Fernando Silva (PMDB), o próximo governador. Quando fala sobre esse assunto, Dino diz que o PT "está mais para o lado de lá", mas que a militância petista, os filiados distantes da cúpula partidária, vão ajudá-lo. Dino também minimiza o afastamento dos petistas. Avalia que a situação é diferente de 2010, quando o PT esteve ao lado de Roseana. "A gente acumulou força social e política para caminhar independentemente do PT. Eu desejo e quero o apoio do PT. Mas não é algo que subordine a minha atuação política".

Além dos partidos, Dino disse que também tenta obter apoio da iniciativa privada para seu projeto de ser candidato a governador. Apesar de ser filiado a uma sigla de inspiração comunista - o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) -, Flávio Dino considera as parcerias público-privadas essenciais para resolver problemas de setores básicos, desde presídios a saneamento e habitação. "O Estado é insubstituível. A crise de 2008 demonstrou isso. Porém, ele sozinho não dá conta das tarefas fundamentais. Na Embratur o que mais fiz foi parceria com o setor privado. Porque é impossível implementar uma política pública sem o setor privado".

Será a segunda disputa de Dino contra a família Sarney pelo comando do governo do Maranhão. Em 2010, enfrentou nas urnas a governadora Roseana, em uma eleição acirrada. Dino ficou a apenas 4.877 votos de disputar o segundo turno com Roseana, que foi reeleita em primeiro turno com 50,08% dos votos válidos.

Fonte: Valor Econômico

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