Fazer do limão uma limonada. O limão representado pelo silencio da chefe do governo no ato de abertura da Copa, no Itaquerão, com medo de vaias. A limonada, pelo uso dos xingamentos que lhe foram dirigidos (sem dúvida condenáveis), convertidos em manifestação da “elite” contra a presidente/candidata dos “pobres”. Uso que, logo, o entorno de Lula e os marqueteiros do comitê eleitoral do Palácio do Planalto adotaram como antídoto aos crescentes problemas da campanha de Dilma Rousseff.
Na expectativa de que a “vitimização” dela possa conter a queda de popularidade e o aumento da rejeição. Sem que, entretanto, isso a anime a deixar de ausentar-se dos demais jogos da nossa seleção. Cabendo assinalar que essa rejeição tem um ingrediente adicional: reflete também a do petismo, que ocorre em grau ainda maior e que é tão ou mais preocupante para Lula.
As reações dos adversários básicos da candidata à reeleição aos referidos xingamentos foram semelhantes na primeira hora e distinguiram-se em seguida. Ambos, Aécio Neves e Eduardo Campos – ainda sob efeito da ostensiva instrumentalização da Copa feita por Dilma na véspera da abertura dos jogos, em mais uma cadeia nacional de televisão convocada pelo Planalto – associaram os xingamentos ao ditado popular “se colhe o que se planta”.
No dia seguinte Aécio afirmou: “Manifestação deve se dar no campo político, sem ultrapassar os limites do respeito pessoal”. Enquanto Campos, deixando de lado o episódio do Itaquerão, aproveitou o lançamento de seu candidato ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, realizado no domingo, para dirigir forte ataque à adversária governista (com o qual também justificou sua ruptura com o governo federal em 2013): “Não fico mais em projeto co-mandado por raposas que já roubaram tudo o que tinham que roubar”.
A dureza desse ataque pode ser atribuída a dois objetivos de Campos: primeiro, ganhar espaço na mídia que evite sua marginalização na disputa presidencial (que vai apontando para a polarização PT/PSDB); e, segundo – estender a Pernambuco e estados vizinhos o desgaste que Dilma vem sofrendo no Centro/Sul, e regionalizá-lo de modo a deslocar em seu favor o eleitorado nordestino de menor renda e dos programas assistencialistas federais que segue sob grande influência do lulismo.
A contundência do ataque de Campos dificultou mas não implicou, pelo menos ainda, o abandono das duas táticas do ex-presidente Lula em relação a ele. Nesta fase das campanhas eleitorais, combinar seu prestígio pessoal com ações da máquina do Planalto para impedir o avanço do candidato do PSB no eleitorado pernambucano e nordestino mas, ao mesmo tempo, alimentar a distinção que o candidato segue fazendo entre Dilma e ele (a cujo governo continua aplaudindo, certamente para atrair o eleitorado lulista, contrapondo-o ao da sucessora), com a preservação de bom relacionamento pessoal.
Relacionamento que espera explorar numa etapa posterior: a do provável 2º turno Dilma x Aécio, então pressionando o neto de Miguel Arraes a chocar-se com o mineiro, ou a uma neutralidade como a que Marina Silva adotou em 2010 na disputa final Dilma x José Serra. E relacionamento que também poderia, ou poderá, ser útil na hipótese, que ele segue rejeitando mas que vem passando a admitir, de ter que render-se ao “volta Lula”. Cenário que ensejaria pressões bem mais fortes para um realinhamento de Eduardo Campos.
Jarbas de Holanda é jornalista
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