- O Globo
Não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder, mais até, dizem os políticos, que o poder presente, que tem prazo de validade. É o caso de um presidente que disputa a reeleição.
Naturalmente ele atrai mais apoios, pois, em tese, o poder incumbente tem muitos instrumentos a seu favor, e a reeleição é mais provável. Por isso, a presidente Dilma reúne em torno de si uma miríade de partidos políticos que lhe darão um tempo de propaganda eleitoral muito maior que o de seus adversários.
Mas o sentimento no país é de mudança, e a popularidade da presidente vem sofrendo uma deterioração há cerca de um ano que está refletida nas pesquisas de opinião que vêm sendo divulgadas. Esses resultados invertem a lógica da reeleição e apontam para um futuro mais difícil para a candidata do PT, o que provoca dois tipos de reação.
Dentro do PT, o movimento “volta, Lula” continua aceso, mesmo que seja uma fantasia mais que uma probabilidade. Na base aliada, a reavaliação dos apoios faz com que seja possível, embora não provável, uma mudança de rota dos principais partidos de apoio.
O PMDB já mostrou o tamanho de sua dissidência, e o PR e o PSD continuam tentando entender para onde o vento sopra. O fato de marcar a reunião do diretório nacional do PSDB para escolher o candidato a vice na sua chapa para o dia 30, último dia para definição, significa que o candidato Aécio Neves acha que tem chance de ter o apoio do PSD de Gilberto Kassab.
As conversas sobre a participação do partido nas duas chapas, de presidente e de governador de São Paulo, continuam ocorrendo nos bastidores, com os sinais das pesquisas estimulando-as, isso porque a expectativa de poder está apontando para o PSDB.
Nos últimos dias, recortes da mais recente pesquisa do Datafolha dão boas indicações de futuro para a candidatura de Aécio Neves. Quando se destacam os eleitores que dizem conhecer “muito bem” ou “um pouco” os 3 principais concorrentes, que representam 20% do todo pesquisado, o resultado é Aécio Neves do PSDB com com 29%, Dilma Rousseff, do PT, com 23% e Eduardo Campos, do PSB, com 14%.
Um detalhe focado no estado de São Paulo mostra diferença maior para Aécio: ele tem 33%, Dilma e Campos ficam com 17% cada. Com todas as ressalvas de que a amostra é pequena e pode não se repetir quando todos forem bem conhecidos, são sinais que favorecem os argumentos do tucano e lhe abrem as portas para conversas com os partidos em dúvida sobre o resultado da eleição.
O único motivador para manter a aliança em torno de Dilma é a avaliação de que ela será a vencedora, ninguém está negociando nada para os seis meses que faltam para o governo. Os políticos começam a olhar as pesquisas de olho no 2º turno, que já é dado como certo. E os números são todos a favor dos candidatos de oposição, especialmente o do PSDB.
Numa disputa do 2º turno, a presidente Dilma já perde tanto para Aécio Neves quanto Eduardo Campos em São Paulo, e a diferença nacional vai se reduzindo à medida que o tempo passa. A mais recente pesquisa do Ibope mostrou o mesmo cenário que a do Datafolha, uma redução dramática da diferença.
Contra Aécio, a vantagem de Dilma caiu de 19 para 9 pontos porcentuais — em menos de um mês, o resultado passou de 43% a 24% para 42% a 33%. No confronto com Campos, a vantagem diminuiu de 20 para 11 pontos.
Essa tendência de queda futura antecipa a disposição do eleitorado para o primeiro turno, indicando uma tendência de queda da presidente e crescimento da oposição.
Com esse quadro, é previsível que os petistas pressionarão ainda mais Lula para assumir o posto de candidato, mas é também essa tendência antigovernista que fará Lula não encarar a tarefa.
Além das dificuldades inerentes à disputa, especialmente o quadro econômico adverso, que colocariam em risco a imagem de imbatível de Lula, usá-lo a essa altura poderia aniquilar, em caso de derrota, a expectativa de poder do PT.
Diante de um quadro adverso, e de um governo de difícil condução a partir de 2015, prevalece no entorno do líder petista a ideia de que é melhor resguardá-lo para eventualmente liderar a oposição e manter a expectativa de poder para a volta em 2018.
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