• Titular da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho diz que animosidade com presidente se espalha pelas classes sociais porque o PT é alvo de ‘pancadaria diária’; segundo ele, governo não conseguiu fazer contraponto de comunicação
Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Principal interlocutor do Palácio do Planalto com movimentos sociais, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou nesta quarta-feira, 18, que os xingamentos à presidente Dilma Rousseff na Arena Corinthians durante a abertura da Copa do Mundo, na quinta-feira passada, não vieram apenas “da elite branca”.
“Essa pancadaria diária é o que resulta no palavrão para Dilma no Itaquerão. No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui (ao estádio) e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô”, afirmou Carvalho, que participou ontem de duas mesas de debate com blogueiros, ativistas e lideranças de movimentos juvenis no Palácio do Planalto para discutir o polêmico decreto sobre os conselhos de participação popular. As discussões não foram abertas à imprensa, mas transmitidas pela internet.
“Essa coisa desceu, (essa coisa) de que nós somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou, na classe média, na elite, e vai descendo (a outras classes sociais), porque não conseguimos fazer contraponto. Esta eleição agora vai ser a mais difícil de todas, porque enfrenta o resultado desse longo processo”, disse.
Após os xingamentos dirigidos à Dilma no estádio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a atribuir as ofensas à “elite” do País. Chegou a reciclar seu slogan eleitoral da campanha vitoriosa de 2002: substituiu “a esperança vai vencer o medo” por “a esperança vai vencer o ódio”. A própria presidente sugeriu ser vítima de ataques de quem “não suporta” ver “mulheres, negros, jovens e crianças” passando a ter “direitos antes negados”.
Bastidores. Dentro do Palácio do Planalto, vaias eram consideradas certas - tanto que Dilma evitou discursar -, mas a agressividade verbal de parte da torcida surpreendeu. Mesmo assim, assessores acreditam que Dilma conseguiu reverter a situação, ao ser vitimizada pelas ofensas e, assim, fortalecer-se perante a opinião pública.
Enquanto aliados de Dilma apostam na vitimização, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, vem dizendo que não vai cair na “armadilha da luta de classes”.
O tucano afirmou inicialmente que o País tinha “uma presidente sitiada”. Depois afirmou, ainda se referindo aos xingamentos do estádio, que ela colhia o que tinha plantado. Declaração semelhante foi dada pelo candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos. Aécio, porém, recuou nas críticas e passou a dizer que não se pode ultrapassar limites da ofensa pessoal.
O PSDB, presidido por ele, rebateu em nota as declarações de Lula segundo as quais as elites têm ódio do PT. Acusou o partido do governo de disseminar o ódio.
Nesta quarta, Campos comentou as acusações entre petistas e tucanos. Disse que pretende ficar de fora desse debate do ódio. Assim, o candidato do PSB espera obter algum dividendo eleitoral. “Todas as vezes que o Brasil avançou, foi por que o povo se uniu”, disse.
Decreto. Na discussão com movimentos sociais, Carvalho reconheceu que foi surpreendido pela reação contrária ao decreto de consulta popular assinado pela presidente Dilma Rousseff, mas ressaltou que o governo está disposto a insistir no debate e descarta a possibilidade de voltar atrás.
“Tratávamos desse decreto como simplesmente ‘arrumação da casa’, simplesmente um texto para dar organicidade àquilo que na prática já existe”, afirmou Carvalho, ao defender o decreto, acusado de “autoritário” e “bolivariano” pela oposição. O decreto de Dilma pretende “fortalecer e articular” mecanismos de “atuação conjunta” entre a administração pública federal e a sociedade civil, definindo diretrizes gerais de atuação. O texto orienta todos os órgãos federais a adotar consultas populares, como conselhos e audiências públicas.
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