Andréia Sadi, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A ausência do assessor mais próximo da presidente Dilma Rousseff numa reunião dos coordenadores da sua campanha à reeleição, em São Paulo, gerou mal-estar no Palácio do Planalto, criando ruído entre aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora.
Ex-chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo não participou de um encontro de Lula com coordenadores da campanha petista há cerca de dez dias, realizado logo após reunião do Instituto Lula em cerca de 30 pessoas discutiram a conjuntura econômica.
Lula aproveitou a presença dos coordenadores da campanha de Dilma para tratar de assuntos da eleição presidencial em seguida.
A ausência de Giles Azevedo, fiel escudeiro da presidente que deixou o governo em abril para participar do comando da campanha, não agradou à presidente Dilma, informada do encontro depois que ele foi realizado.
Participaram da reunião com Lula o presidente do PT, Rui Falcão, o tesoureiro da campanha, Edinho Silva, o ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana.
Interlocutores de Dilma acham que Lula isolou Azevedo para discutir à vontade mudanças que julga necessárias na campanha. Nas palavras de um auxiliar da presidente, Azevedo representa "os olhos e ouvidos de Dilma" no comando da campanha.
Petistas ligados a Lula confirmaram o mal-estar, mas buscaram contemporizar argumentando que a reunião não estava agendada oficialmente. Lula teria apenas aproveitado presença dos peetistas para "pacificar" divergências que os separam.
O ex-ministro Franklin Martins, escalado para cuidar da comunicação da campanha na internet e mais alinhado a Lula, quer que Dilma assuma a linha de frente do embate político com seus adversários na disputa eleitoral. O marqueteiro João Santana discorda da tática.
Há também diferenças sobre a melhor maneira de formatar a mensagem da presidente. "O desafio é: como vamos mostrar uma Dilma diferente, que continuará mudando, sem se distanciar do Lula?", afirmou um coordenador da campanha, que pediu para não ser identificado.
Para os lulistas, a notícia da ausência de Azevedo no encontro foi transmitida de forma distorcida à presidente, levando-a a crer que o objetivo do encontro era fazer uma avaliação crítica do seu comportamento no governo.
Embora neguem publicamente a existência de qualquer divergência entre eles, a relação de Dilma com o PT não é das melhores, e ela tem sido alvo frequente de críticas de Lula nos bastidores.
Lula, que afastou em maio a possibilidade de se candidatar à Presidência agora no lugar de Dilma, tem defendido mudanças na economia em conversas com empresários e até mesmo em público.
Num seminário recente, ele cobrou do secretário do Tesouro, Arno Augustin, medidas para aumentar a oferta de crédito. As críticas causaram estranheza, porque Augustin não é responsável pela liberação de crédito, e Lula disse depois que tinha apenas feito uma brincadeira com ele.
Mas seu discurso foi interpretado no governo como um recado dirigido à presidente.
Procurado, o Instituto Lula informou que o encontro realizado em São Paulo não era uma reunião da coordenação de campanha de Dilma, tanto que entre os participantes estava o ex-ministro Walfrido Mares Guia, que não participa da campanha.
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