Igor Gielow - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A degradação do cacife político do governo Dilma Rousseff levou o Brasil a viver a quarta-feira (18) sob uma variante tropical de parlamentarismo branco.
O governo amanheceu com a pesquisa Datafolha indicando o apoio à presidente no chão e fechou a tarde informando de forma obsequiosa o presidente rebelde da Câmara de que o ministro da Educação seria demitido.
A rigor, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comandou o auto-de-fé de Cid. Talvez tenha bastado para conter o ânimo peemedebista por ora, de olho na reforma ministerial. Ou não, já que na Casa ao lado Renan Calheiros (PMDB-AL) mantinha a pressão sobre o governo.
O cálculo político do Planalto no episódio é obscuro. Era evidente que Cid não se aguentaria na sessão para explicar por que chamou deputados de "achacadores".
A morte pela boca é um tradição familiar dos Gomes. É parte do folclore político a derrocada do irmão e antiga estrela do clã, Ciro, após chamar um eleitor de "burro" quando presidenciável em 2002.
Se demitisse Cid antes, Dilma seria acusada de prostrar-se diante de Cunha. Acabou na mesma situação, com o bônus de horas de humilhação pública. Algo que pode se repetir, se o presidente da Câmara mantiver a ideia de chamar outros ministros.
O tamanho do custo de negociação para o governo ficou evidente. Um deputado, antes de provocar a saída de Cid da sessão, o acusou de fugir de um "barco que está prestes a afundar". Detalhe: ele é do PSD, sigla símbolo da "nova base aliada". Mas, antes, é da turma de Cunha.
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