Débora Bergamasco – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA – Em meio a manifestações populares e pedidos departe da população para que a presidente Dilma Rousseff saia do poder, o ex presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ao Estado que o processo de impeachment se dá pela ingovernabilidade, e não necessariamente pelo cometimento de um crime. Ainda assim, é preciso “ter uma base, se não é golpe”. Para o tucano, a insatisfação popular com o atual governo, somada a novas denúncias na Lava Jato, pode levar à queda da chefe do Executivo. Mas FHC acredita que a presidente ainda “não está sem condições de governar e ela ainda pode reagir”.
“Na democracia,não é só porque a maioria ficou contra que isso seria razão suficiente para tirar o presidente. O problema é quando se cria uma situação de ingovernabilidade”, disse o tucano. “Hoje, ela (Dilma) tem legalidade para governar, mas ainda não tem como prever de antemão como será o processo político e o que vai aparecer na Operação Lava Jato. Não digo que envolva ela diretamente, mas pode envolver mais gente do PT e de outros partidos.”
FHC citou como exemplo o processo que tirou o hoje senador pelo PTB Fernando Collor de Mello da Presidência da República, em 1992, quando era filiado ao inexpressivo PRN. “O impeachment não é o julgamento de um crime.Veja o presidente Collor: ele foi absolvido de um crime no Supremo Tribunal Federal por falta de provas,mas ninguém discutiu se o impeachment valeu ou não. Foi um julgamento político.Mas é claro que tem que ter uma base, se não é golpe”, observou.
Para o tucano, a situação de “caos político”– como a Secretaria de Comunicação da Presidência definiu o atual momento, conforme documento revelado pelo portal www.estadão.com. br – pode se arrastar até o fim do mandato. “É possível não haver nem saída (para a crise política) nem desabamento. Nós já vimos vários governos que se arrastaram, o que é ruim para os que comandam e para o País”, afirmou FHC. “O ponto é que vão ser quatro anos. Mas pode ser que aconteça de fazer uma medida aqui, fazer outra ali, o povo não acredita muito, mas vai levando. Só duvido que nesse clima você restaure a confian- ça no investidor.”
Arrogância. Enquanto a oposição e partidos da base criticam o estilo de Dilma fazer política, muitas vezes considerado arrogante, Fernando Henrique estende essa suposta característica ao PT.Para o ex-presidente, o partido nasceu “arrogante”, com uma proposta “salvacionista”, mas com o escândalo do mensalão e as novas evidências de corrupção na Petrobrás reveladas pela Lava Jato perdeu “a imagem de ser um partido capaz de purificar”.
Para fundamentar a crítica, o tucano voltou às origens. “Não gosto quando o ponto de partida é dizer ‘Eu sou o bom, eu sou o salvador’, porque isso é um mau começo e o PT foi muito arrogante nesse sentido. Porque se tem uma ideia autoritária.”E continuou: “Eu, como democrata, acredito no ‘Nós temos que ser capazes’, definição que implica discordância. O PT não tem essa visão democrática. E para quem tem uma visão salvacionista, ter dois de seus tesoureiros sendo comprometidos, não é brincadeira.”
No decorrer da trajetória, a agremiação petista se tornou “autoritária”,segundo o ex-presidente. “O PT tem realmente um resquício de visão hegemônica no sentido autoritário, não no sentido de ter capacidade de influir via ideias e valores, mas no sentido de impor, via organização e poder.”
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