• Cid Gomes bateu boca com deputados após chamá-los de achacadores
• Em situação inédita, demissão do titular da Educação foi anunciada em primeira mão pelo presidente da Câmara
Flávia Foreque, Aguirre Talento, Mariana Haubert, Valdo Cruz e Natuza Nery – Folha de S. Paulo
DE BRASÍLIA - Enfrentando protestos de rua e reprovada por 62% da população antes de três meses de governo, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a aceitar a demissão do seu ministro da Educação, Cid Gomes, para evitar que o PMDB deixasse de apoiá-la na Câmara e agravasse ainda mais a crise política.
Em uma situação inédita e constrangedora para o Planalto, a demissão de Cid (Pros-CE) foi anunciada em primeira mão pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto de Dilma.
O anúncio foi feito nesta quarta (18) depois de uma sessão tumultuada no plenário da Câmara convocada para que o então ministro explicasse sua frase de que na Casa há "400, 300 achacadores", gravada durante uma reunião dele com estudantes no Pará.
Cid chegou a ensaiar um pedido de desculpas a alguns parlamentares, mas acabou dando estocadas em deputados governistas infiéis, instando-os a "largar o osso", e atacou o PMDB.
"Tinha um que só tinha cinco [ministérios]. Criou dificuldades, criou empecilho, conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência."
Irritada, a cúpula do PMDB avisou a presidente que o partido abandonaria a base aliada caso o ministro, nome da cota pessoal de Dilma no seu segundo mandato e seu defensor de primeira hora, não fosse demitido.
Assim que Cid abandonou o plenário, após ter sido chamado de palhaço e de ter a palavra cortada por Cunha, o presidente da Câmara disse que iria votar um projeto que ameaça o ajuste fiscal --a extensão do aumento real do salário mínimo a todos os aposentados da Previdência.
A bomba estava armada, obrigando a intervenção de assessores de Dilma. Logo após deixar a Câmara, Cid atravessou a praça e foi para o gabinete da presidente no Planalto. Formalizou a demissão, já um fato consumado àquela altura.
Do gabinete presidencial, ao lado de Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) ligou para Cunha avisando que estava cumprido o que exigira o PMDB. Cunha deu a notícia ao plenário, de sua cadeira, antes do Palácio.
Para auxiliares de Dilma, Cid poderá sair bem do episódio junto à opinião pública, como alguém que enfrentou deputados, deixando o ônus do caso com a ex-chefe.
Reforma
Petistas e peemedebistas avaliam que foi dada a senha para a presidente promover uma reforma ministerial. Setores do PT e do PMDB defendem a volta de Mercadante para a Educação, liberando a sua vaga para Jaques Wagner, atualmente na Defesa.
Mercadante é visto pelos petistas ligados a Luiz Inácio Lula da Silva e pelo própio ex-presidente como um dos responsáveis pelos atritos com o PMDB. Outros setores peemedebistas, por sua vez, querem ficar com a Educação.
Dilma está sendo aconselhada a dar ao PMDB status de partido capaz de ser o fiador da aprovação do ajuste fiscal e, por tabela, da governabilidade.
Outra hipótese é a de entregar aos peemedebistas a Integração Nacional, que poderia ir para um aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi chamado por Dilma para uma conversa no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta.
Aliado de Cunha, o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) também é cotado para a pasta ou para o Turismo
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