• Cid Gomes pula de um barco à beira do naufrágio, na opinião de nove entre 10 aliados da presidente Dilma. O governo atingiu a mais alta taxa de reprovação desde 1992, vésperas do impeachment de Collor
- Correio Braziliense
Um dos sintomas de agravamento da crise do governo Dilma Rousseff é a sucessão de fatos fora do controle, que surpreendem quem deveria estar no comando da situação. Foi o que aconteceu ontem com o Palácio do Planalto, que começou o dia com uma solenidade cheia de pompa e circunstância, na qual a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram o pacote anticorrupção do governo, e terminou o expediente com o anúncio de que o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), depois de arrumar um bafafá na Câmara dos Deputados, havia pedido demissão.
Apesar da veemente defesa que fez da presidente Dilma na Câmara, o ex-governador do Ceará foi o primeiro integrante do governo a pular fora do barco no segundo mandato. Fez isso em grande estilo, afrontando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e os demais deputados. O piquenique no plenário da Casa apenas roubou a cena do dia armada para melhorar a imagem de Dilma, que anda ruim ou péssima para a maioria dos cidadãos.
Cid Gomes surfou a crise entre a presidente e o Congresso com um olho na rua e outro na Praça dos Três Poderes. Abandonou o plenário da Câmara depois de fazer, da tribuna, um apelo aos deputados “oportunistas”, que detêm cargos na administração federal mas não dão apoio ao governo no Congresso, para que “larguem o osso, saiam do governo”.
Foi à Câmara por convocação, devido a uma declaração dada no último dia 27, durante palestra a estudantes da Universidade Federal do Pará. Na ocasião, Cid afirmou que a Casa tem de 300 a 400 parlamentares que “achacam”. “Eles querem é que o governo esteja frágil, porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”, disse em Belém.
No plenário da Câmara, depois de relatar a “conversa informal” com os estudantes, reiterou tudo o que disse, para desconforto de Eduardo Cunha. Houve reação generalizada dos líderes de bancada, mas era tudo o que o ex-governador do Ceará queria para se retirar em protesto e depois pegar o boné em grande estilo.
Quando foi ao Palácio do Planalto, apenas consumou uma decisão que já havia tomado. “A minha declaração na Câmara, é óbvio que cria dificuldades para a base do governo. Portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento. Pedi demissão em caráter irrevogável”, declarou.
Mas aproveitou para fazer média com a presidente da República: “O que a Dilma está fazendo é limpar o governo da corrupção. Essa crise de corrupção é uma crise anterior a ela. Ela está limpando e não esta permitindo isso. Está mudando isso. E isso, óbvio, cria desconforto.”
Reforma ministerial
A efêmera passagem pelo Ministério da Educação foi tumultuada pelas mudanças nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), com estudantes tendo dificuldades para conseguir o benefício, e uma série de ações na Justiça feitas pelas mantenedoras. Cid disse que não daria o Fies para faculdade que reajustasse a mensalidade acima de 4,5%, mas depois teve de recuar e subir o limite para 6,4%. Ainda assim, o contencioso com as mantenedoras continua.
Cid Gomes não estava preparado para ocupar o cargo de ministro da Educação. A reivindicação dele era o Ministério da Integração Nacional, posição pleiteada também pelo líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE). Acabou na pasta por obra e graça da estratégia montada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com objetivo de enfraquecer o PMDB, que também passou pela entrega do Ministério das Cidades ao ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).
Na queda de braço de Dilma Rousseff com o PMDB, as duas pastas eram vistas como mais importantes, em termos de orçamento, do que os ministérios sob controle da legenda. Com a saída do ex-governador do Ceará, abre-se caminho para uma mudança ministerial que aumente a presença da legenda no governo.
Cid Gomes, porém, pula de um barco à beira do naufrágio, na opinião de nove entre 10 aliados da presidente Dilma Rousseff. O governo atingiu a mais alta taxa de reprovação desde 1992, pouco antes do impeachment de Collor, segundo o Datafolha. Para 62% dos entrevistados, a gestão da presidente é ruim ou péssima.
Feita nos dois dias após as manifestações de domingo, a pesquisa mostra que a desaprovação de Dilma subiu 18 pontos desde o começo de fevereiro. Com somente 76 dias de segundo mandato, a aprovação da petista chegou a 13%, queda de 10 pontos em seis semanas. O pessimismo da população é alto: para 69% dos entrevistados, o desemprego deve crescer. A inflação tamnbém, para 77% (em fevereiro, 81% tinham essa opinião). A nota média dada a Dilma é de 3,7%.
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