• Apesar da situação melhorada, quantidade de emprego formal regride pela 1ª vez desde 1999-2000
- Folha de S. Paulo
Desde o final do século passado a quantidade de gente com emprego formal não diminuía de um ano para o outro, como aconteceu em fevereiro, depreende-se dos números divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho. Como em tantas outras estatísticas, o emprego "com carteira" parece afundar com força, direção e sentido semelhantes aos dos colapsos de 1999 ou 2008-09.
Obviamente a coisa nem de longe é tão feia como em 1999, quando havia mais desemprego, mais empregos de má qualidade e os salários eram menores e distribuídos de modo mais desigual. Mas, em termos políticos e sociais, interessa quase nada o desemprego do passado, mas o risco de perder o trabalho mais adiante ou, claro, a demissão de fato.
O emprego formal, e por falar nisso mesmo o informal, ainda não diminui de modo desastroso, mas parece não haver anteparos para evitar degradação maior no restante do ano. Ao contrário.
Os números são especialmente ruins na construção civil, setor no qual a velocidade de piora é o triplo da média da indústria, que vai mal, como se sabe. A situação ruinosa de muita empreiteira envolvida no petrolão contribui para a torrente de demissões nesse setor que é costumeiramente mais volátil. Isto é, ali o número de empregos aumenta ou decai muito mais violentamente, além de a rotatividade ser mais alta. De certa forma, embora não sempre, o setor é uma espécie de alarme da situação.
Há apartamentos e lojas sobrando, para alugar e vender.
A freada forte do mercado imobiliário também não contribui, assim como a perspectiva de queda ainda maior do ritmo das obras pesadas, pois o governo corta e cortará investimentos.
O emprego formal na indústria, tanto a extrativa como a de transformação, também já entrou no vermelho em relação a 2014 (isto é, se comparado o total de empregos, o estoque, de fevereiro deste ano com o do ano passado). Comércio e especialmente serviços ainda têm saldo positivo, embora minguante. No entanto, note-se que o ajuste pelo qual vai passar a economia deve talhar empregos no setor de serviços, um tanto inflado pelo padrão de crescimento da última década.
Por ora não há rede de proteção para os tombos da economia e do emprego. O crédito ainda vai encolher, assim como o gasto do governo e das famílias. A desvalorização do dólar pode incentivar exportações, mas antes vai criar mais confusão.
No início dos anos FHC, um terço dos trabalhadores tinha emprego formal, grosso modo. Ao final dos anos Dilma 1, eram dois terços. Foi um progresso de vida, um avanço civilizatório, da segurança econômica e uma alteração importante da relação dos brasileiros com o Estado: passaram a pagar mais impostos, mas também a ter direitos sociais.
Não se sabe qual vai ser o tamanho da regressão. Por ora, não há motivos para acreditar que a economia brasileira venha a sofrer um colapso semelhante àqueles do século passado. Mas vamos passar por uma fase em que não apenas emprego e salário serão talhados mas também direitos, como o direito a um contrato formal de trabalho. Além de penoso, deprimente, é um insulto lançado a uma geração que em mais de uma década se acostumou à ideia de melhorias contínuas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário