• PT incentiva movimento, mas enfrenta resistência de Dilma, que afirma não depender mais de seu mentor
• João Santana, que estava afastado da sigla, voltará da Argentina para fazer programa de TV que será exibido em agosto
Marina Dias, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A crise aguda do governo Dilma Rousseff elevou a possibilidade de uma intervenção branca comandada pelo seu antecessor no cargo, Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal pressão, estimulada pelo PT, enfrenta resistência da presidente. A dinâmica da relação, que sofre grande inconstância desde a reeleição de Dilma em 2014, tende a ficar mais tensionada.
Um indicador da gravidade inédita da crise atual e da relação criador-criatura foi atestado em Brasília na segunda passada (29).
Enquanto Dilma, nos Estados Unidos, tentava se livrar, sem sucesso, da agenda negativa decorrente das novas revelações do delator Ricardo Pessoa na Operação Lava Jato, Lula chegava à capital.
Em vez de alívio pela presença do político mais experiente do PT, o clima no Planalto foi de tensão sobre o que o ex-presidente iria falar aos congressistas do partido.
Isso porque dias antes ele havia feito críticas públicas ao governo, algo incomum, dizendo que ele e Dilma estavam no "volume morto".
O petista pediu "união em defesa do governo" a dirigentes do PT e em reunião com as bancadas. Ainda assim, horas depois interlocutores de Dilma o chamavam de "confuso", com atitude "descompensada".
Lula está irritado com o rumo do governo, que parece incapaz de responder à crise política e econômica que corroeu a popularidade de Dilma e tornou o Planalto refém de um Congresso hostil.
Mas, segundo interlocutores, o petista resolveu amainar as críticas porque percebeu que sangrar publicamente Dilma terá reflexos na sua provável candidatura presidencial em 2018.
De forma algo paradoxal, o PT incentiva a intervenção branca. O primeiro passo foi chamar de volta o marqueteiro João Santana, que, afastado desde a eleição, participou dos encontros na segunda.
Lula vinha reclamando da ausência de Santana, responsável pelas campanhas do PT ao Planalto desde 2006. Ele está na Argentina, onde atua na pré-campanha de José Manuel de la Sota, hoje azarão na disputa pela Casa Rosada.
Santana topou voltar. Fará o programa de TV petista que vai ao ar em 6 de agosto. Tem o desafio de evitar mais um "panelaço" contra o partido e ainda angariar simpatias.
As perspectivas de Lula e Dilma são diferentes. O ex-presidente já confidenciou a amigos que tem medo de perder as eleições e o capital político de alguém que encerrou o mandato com aprovação acima de 80%. Só sai candidato se a situação melhorar.
Já Dilma demonstra incômodo com a situação. Aos próximos, diz que não depende mais de Lula e que suas ambições políticas acabam com seu mandato --que, ao contrário de muitos no meio político, ela diz ter certeza de que encerrará integralmente.
Cada vez mais, cita que as denúncias de corrupção envolvendo o PT e até sua campanha à reeleição, alvo da Lava Jato, não a atingem pessoalmente. Repete que está "com a biografia mantida".
A situação do Planalto agravou-se com os depoimento de Pessoa, dono da UTC, que disse ter doado R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma no ano passado para resguardar negócios com a Petrobras.
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