• Defesa de Dilma ficou em segundo plano diante das críticas ao governo, sobretudo em relação à política econômica
Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari - Valor Econômico
SÃO PAULO: - As manifestações programadas para ontem em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff reuniram em torno de 73 mil pessoas em ao menos 25 Estados e no Distrito Federal. Os números levam em conta as projeções feitas pela Polícia Militar de cada Estado. Algumas cidades, no entanto, não divulgaram informações, como o Rio de Janeiro. Na soma das estimativas dos organizadores, 175 mil pessoas foram às ruas para criticar a tentativa da oposição de viabilizar o impeachment da petista.
Além da defesa de Dilma, os atos de ontem pelo país se concentraram nas críticas ao ajuste fiscal, conduzido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e à "Agenda Brasil", articulada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também esteve na mira dos manifestantes, no mesmo dia em que foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, investigados no âmbito da Operação Lava-Jato.
A capital paulista foi o epicentro das manifestações ao reunir aproximadamente 40 mil pessoas, segundo a PM. Trata-se do mesmo montante verificado no ato de março, quando o Datafolha registrou 41 mil participantes. Os organizadores falam em 100 mil. A defesa de Dilma, contudo, ficou em segundo plano em São Paulo diante das críticas ao governo federal, sobretudo em relação à política econômica. Os manifestantes também demonstraram desconforto com a presença de petistas. A legenda usou a inserção partidária, veiculada na terça-feira, para chamar os militantes para o ato.
O líder do MTST, Guilherme Boulos, reclamou da tentativa do partido de transformar o protesto em uma manifestação pró-governo. "Não é e nem será um ato a favor do governo. Nosso posicionamento é contra o ajuste fiscal, a Agenda Brasil. Não será a defesa do governo, mas sim a agenda dos trabalhadores", disse o líder dos sem-teto. No carro de som, Boulos ainda fez um dos discursos mais duros contra o governo e chamou Levy de "banqueiro prepotente". Além disso, ameaçou a presidente ao afirmar que se houver atraso no lançamento do Minha Casa, Minha Vida 3, o "país vai parar". "Não viemos defender governo, viemos defender a agenda dos trabalhadores". Boulos ironizou o ato que aconteceu na avenida Paulista no domingo, com a defesa do impeachment da presidente Dilma. "Aqui tem povo, pobre, nordestino. Não tem a turma dos Jardins."
Integrante do coletivo Juventude Anticapitalista, Gabriela Freller, de 20 anos, classificou como contraditória a participação do PT no protesto. "É um ato contra o ajuste fiscal e contra o avanço conservador", afirmou a estudante de ciências sociais da USP. O presidente da CUT-SP, Adi dos Santos, minimizou as divergências. "Queremos chamar a atenção daqueles que querem o impeachment. Não aceitamos. Não tem fundamento legal nem jurídico", disse o sindicalista.
Presente ao ato, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, desconversou sobre as divisões entre os grupos sociais e evitou comparações com a manifestação de domingo, quando cerca de 800 mil pessoas foram às ruas do país protestar contra o governo Dilma. "Não tem racha. Não estamos fazendo comparação. Estamos defendendo a democracia".
Na capital paulista, os manifestantes levaram bonecos de Renan, Cunha e dos senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) vestidos com roupa de presidiário e a inscrição "171" no peito, numa referência ao artigo do código penal que trata do crime de estelionato. Alguns carregavam faixas em que pediam "liberdade para o Vaccari já", referência ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava-Jato.
No Rio, os manifestantes se concentraram no centro da cidade e entoaram o coro de "não vai ter golpe". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi homenageado quando alguns grupos começaram a cantar "o Lula é meu amigo! Mexeu com ele, mexeu comigo". "Esse é só o início da nossa resposta àqueles que, em nome de uma disputa política já vencida, aceitaram reduzir a maioridade penal e entregar o Brasil ao caos econômico", discursou a ex-prefeita carioca, deputado Benedita da Silva (PT).
Assim como ocorreu no domingo, a PM não divulgou o número de participantes. Segundo os organizadores, entre 20 e 25 mil pessoas marcaram presença no ato realizado na capital fluminense. Os manifestantes também alternaram palavras de ordem contra Cunha e a favor de Dilma. O presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE) Leonardo Guimarães, aproveitou o ato para defender a taxação das grandes fortunas.
Em Belo Horizonte, o protesto reuniu 6 mil pessoas e concentrou-se na praça Afonso Arinos, onde manifestantes vestidos de vermelho defenderam o governo federal, mas reivindicaram a saída de Levy da Fazenda e de Cunha da presidência da Câmara. De cima de um carro de som, a presidente da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, rechaçou a hipótese de afastamento da presidente Dilma.
Com apenas 500 pessoas, a marcha em Brasília começou no Conic, um centro comercial popular. Rodrigo Rodrigues, secretário-geral da CUT no Distrito Federal, criticou o ajuste fiscal e reclamou dos pedidos de impeachment. "Não é um ato pró-Dilma, temos críticas a algumas medidas do governo, principalmente na política econômica. Mas isso não abre espaço para a tentativa de golpe que estão discutindo", disse Rodrigues.
No Recife, a manifestação teve como mote a defesa do governo Dilma, contra o impeachment e a favor dos direitos trabalhistas. Em Salvador, Cunha foi o principal alvo ao ser declarado como inimigo número um dos brasileiros. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli (PT) questionou as investigações da Lava-Jato. "A Constituição não está sendo obedecida. A prisão não pode ser para conseguir confissão. Execração pública não é pena tipificada no Código Penal".
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