• Presidente da Câmara afirma que MPF fez ‘ilações’ em denúncia
Isabel Braga e Júnia Gama - O Globo
-BRASÍLIA- Depois de ler as 85 páginas da denúncia do Ministério Público, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), reagiu divulgando uma nota que estava sendo elaborada desde anteontem e que só ganhou os retoques finais. Na nota, além de reafirmar que continuará presidindo a Casa, Cunha acusa o governo e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de atuarem juntos para que ele fosse o primeiro da lista de políticos a ser denunciado na Operação Lava-Jato. Cunha lembra que Janot acaba de ser indicado pela presidente Dilma Rousseff para ser reconduzido ao cargo, e será sabatinado na próxima semana no Senado.
“Não participei e não participo de qualquer acordão e certamente, com o desenrolar, assistiremos à comprovação da atuação do governo, que já propôs a recondução do procurador, na tentativa de calar e retaliar minha atuação”, acusou Cunha. “Respeito o Ministério Público Federal, como a todas as instituições, mas não se pode confundir trabalho sério com trabalho de exceção, no meu caso, feito pelo procurador-geral”.
Cunha afirmou estar absolutamente sereno e refutar, com veemência, as “ilações” da denúncia. Disse estar com a consciência tranquila e garantiu que continuará presidindo a Câmara “com a mesma lisura e independência que sempre nortearam” seus atos. Lembrou que, em 2013, foi denunciado pelo MP por outro motivo; a denúncia foi aceita e, em 2014, ele foi absolvido por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal. Cunha encerra a nota dizendo confiar “plenamente na isenção e imparcialidade” do Supremo para “conter essa tentativa de injustiça.”
Na nota, Cunha disse “estranhar” a divulgação da denúncia no dia das manifestações de rua ligadas ao PT, e o fato de ainda não haver denúncia contra petistas e membros do governo com foro privilegiado. “O PT tem dentre seus objetivos o de me atacar”, escreveu.
Tensão amainou após leitura
Durante todo o dia, deputados estiveram no gabinete do presidente da Câmara para prestar solidariedade e aconselhá- lo sobre a reação. Alguns deputados recomendaram que ele reagisse em tom sereno. Outros pediram que não abandonasse seu estilo, para não dar a impressão de estar acuado.
Segundo deputados, o clima de tensão que predominou nos momentos que precederam a apresentação da denúncia foi amenizado depois da leitura da acusação do MPF. Aos colegas, Cunha comentou que a denúncia lhe pareceu vazia, porque não traz provas concretas.
— Ele achou a denúncia ridícula, inconsistente. Não viu nenhuma situação para ser denunciado — disse o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).
— Ele ficou tranquilo depois de ler a denúncia. Disse que ela não traz elementos probatórios, mas só fatos colhidos nas delações. Não tem um recibo, uma cópia de cheque, nada — acrescentou um parlamentar.
Aos deputados que estavam com ele, Cunha reafirmou que permanecerá na presidência da Câmara diante de denúncias “tão vazias”. Foi apoiado. O peemedebista, segundo um dos parlamentares que foram ao gabinete, disse que, se o Supremo decidir aceitar a denúncia, terá que adotar o mesmo procedimento para os demais parlamentares que estão sob investigação na Lava-Jato.
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