Por Camilla Veras Mota e Robson Sales - Valor Econômico
SÃO PAULO e RIO - A taxa de desemprego continuou em julho a abrir distância dos níveis registrados em 2014 e chegou a 7,5%, 2,6 pontos percentuais acima do apurado em julho do ano passado. Com 662 mil demissões líquidas sobre igual período do ano anterior, o total de desempregados aumentou 56%, a maior elevação da série histórica.
Essa deterioração se manifesta em todas as seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), grupos de idade, níveis de instrução e setores, inclusive os serviços, que aprofundam a perda de dinâmica observada desde o fim do ano passado.
A renda média real caiu pelo sexto mês consecutivo, 2,4% sobre o mesmo intervalo do ano passado - para R$ 2.170,70 -, e, junto da queda de 0,9% na população ocupada, na mesma comparação, levou a massa salarial a recuar 3,5%. Entre janeiro e julho, o rendimento médio real tem perda de 2,1%.
O cenário de julho, para o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, ainda não é o fundo do poço. Em sua avaliação, o movimento observado desde o início do ano deve atravessar os próximos meses e levar a taxa de desemprego a 8% em dezembro - 3,7 pontos acima do percentual do mesmo mês de 2014. "Todos os indicadores estão acelerando as perdas [nos últimos meses], inclusive a taxa de desemprego", diz ele, ressaltando o impacto do "processo recessivo muito forte" que a economia brasileira enfrenta neste ano.
Para ele, apesar do crescimento de 1,9% da população economicamente ativa (PEA) em julho, no confronto com mesmo intervalo de 2014, a queda reiterada da ocupação é a principal razão para o aumento do desemprego neste ano. A geração fraca de vagas levou a população ocupada a encolher 0,1% em 2014. De janeiro a julho, ela já acumula perda de 0,8%.
O aumento significativo da PEA foi a principal surpresa para a projeção do Santander, de desemprego de 7%. Para Rodolfo Margato, economista da instituição, o nível de aumento de julho não deve se repetir nos próximos meses. Depois de encolher 0,7% em 2014, a força de trabalho avançará neste ano, mas mais em linha com crescimento demográfico, em torno de 1% em relação ao ano anterior, afirma.
A ocupação deve encolher em ritmo parecido, 1%, conduzindo a taxa de desemprego de dezembro a 8,1%. Margato destaca a queda da renda real, projetada em 3% neste ano - o último resultado negativo, de 2004, foi de 1,2% -, e da massa salarial, estimada em 4%. "A queda da renda vai provocar forte recuo no varejo. Na PMC [Pesquisa Mensal do Comércio], a queda nas vendas já aparece disseminada entre os setores."
O aumento do desemprego foi espraiado no levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele avançou em todas as seis regiões metropolitanas, com altas acima da média do país em Salvador e em São Paulo, onde o indicador cresceu 3,4 e 3 pontos percentuais, para 12,3% e 7,9%. O indicador subiu 2,6 pontos no Recife, para 9,2%, 2,1 pontos no Rio de Janeiro, para 5,7%, 1,9 ponto em Belo Horizonte, para 6% e 1,6 ponto em Porto Alegre, para 5,9%.
A alta se repete entre os todos os grupos de idade e níveis de instrução. No conjunto daqueles com 11 anos de estudo ou mais, o desemprego aumentou 55,5%, de 4,5% em julho de 2014 para 7%. Para aqueles que estudaram entre 8 e 10 anos, passou de 7,6% para 10,6%, e, entre aqueles com menos de oito anos de estudo, de 3,8% para 6,4%.
O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, destaca o comportamento do setor de serviços, cuja perda de fôlego, ao lado do comércio, tem sido um dos principais responsáveis pelo aumento do desemprego, já que absorveu grandes contingentes de mão de obra em anos anteriores. No agregado entre comércio, serviços a empresas, serviço doméstico e outros serviços feito pela consultoria, a média móvel em 12 meses da população ocupada cai 0,9% em julho, "fazendo companhia" à construção e à indústria, que estão em terreno negativo nessa comparação desde o fim de 2013.
O enfraquecimento desses setores é ainda mais evidente no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que acompanha apenas o mercado formal. Os serviços apontaram saldos negativos em abril, maio e junho - algo inédito desde o início da série, em 1992. Para o resultado de julho, que será divulgado hoje, a LCA estima mais uma contração, de 28,9 mil vagas com carteira.
A técnica da coordenação de emprego do IBGE Adriana Beringuy ressalta que a sequência de aumento da taxa neste ano já é maior do que a registrada em 2009. Entre dezembro de 2008 e março de 2009, ela subiu de 6,8% para 9%, mas começou a cair a partir de abril. "O que chama a atenção é essa aceleração não se interromper no segundo trimestre e ser tão mais elevada que em 2014."
Alguns indicadores sinalizam que esse desgaste ainda teria espaço para se aprofundar. Em julho de 2009, diz Adriana, a proporção de empregados com carteira entre o total de ocupados era maior do que neste ano - 45,1%, contra 49,7%. "Os avanços dos últimos anos garantiram um colchão que está sendo absorvido até o momento. Se ele vai permanecer nos próximos meses, a gente não sabe", diz.
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