- O Estado de S. Paulo
O governo não tem jeito. No sentido amplo e na acepção literal do termo quando aplicado à habilidade de lidar com questões, notadamente as adversas. Perdeu a primeira fase do embate do impeachment porque insistiu na dinâmica da imposição, apostou numa força que já não tem e subestimou a capacidade de Eduardo Cunha de se valer do cargo para manobrar as circunstâncias.
Mesmo diante da evidência de que não está em condição de impor coisa alguma, o Planalto achou que a parada estava ganha: bastava combinar com os líderes das bancadas indicações governistas para a composição da Comissão Especial que examinará liminarmente o assunto, sem abrir espaço para os deputados de posição divergente.
De novo, quis interditar o contraditório e deu-se mal. Os articuladores palacianos mantiveram-se indiferentes ao fato de que a hora é de agir na maciota, com alguma malícia e muita, mas muita mesmo, disposição de dialogar. Na força, já se viu, a coisa não vai. Ou melhor, pode ir para o rumo mais desfavorável ao governo se a presidente Dilma Rousseff continuar acreditando que seja possível repetir atos errados esperando resultado positivo.
Pelo visto, os novos conselheiros políticos ou não têm poder de convencimento sobre a presidente ou sofrem da mesma doença infantil da prepotência que acometia os antecessores. Dilma buscou respaldo em juristas, governadores e acertos com líderes, ignorando a realidade: nenhum desses senhores exerce influência decisiva sobre o conjunto dos deputados, cuja disposição ao enfrentamento cresce na proporção direta do enfraquecimento político do governo.
Isso ficou claramente exposto na votação da qual saiu vitoriosa a chapa dissidente para a Comissão Especial e, depois, confirmado na destituição do líder do PMDB.
Não há quem controle parlamentares motivados por convicção, por pressão do eleitorado, por mágoas acumuladas, por desejo de dar o troco à soberba presidencial e partidária (do PT), principalmente quando o outro lado não dá sinal de que se disponha a mudar. E se o governo não arreda pé do uso da força, não pode esperar que os adversários abram mão de dar seu jeito. Demonstrando, com isso, que o confronto é o pior dos conselheiros para quem está com a cabeça a prêmio.
O presidente da Câmara incorreu no mesmo equívoco nesta quarta-feira, 9, ao tentar, com um ato de força, destituir o relator de seu caso no Conselho de Ética. No revide, o presidente do colegiado indicou para o lugar um deputado do PT, cujos sentimentos na atual conjuntura não são os mais favoráveis a Eduardo Cunha.
O uso abusivo do poder por parte de Cunha acirra o ânimo dos parlamentares defensores de sua cassação, explicita ato de interferência no trabalho do conselho, acrescenta razões ao repúdio da opinião pública e inibe de vez a oposição de voltar a lhe emprestar apoio em troca de facilitações regimentais na tramitação do pedido de impeachment da presidente.
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