Por Thiago Resende – Valor Econômico
BRASÍLIA - A ala do PMDB na Câmara que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff conseguiu ontem derrubar o líder do partido na Casa, Leonardo Picciani (RJ), que tinha aberto um canal de comunicação direto com a presidente Dilma Rousseff e, na avaliação de pemedebistas, se afastado do presidente da sigla, o vice-presidente Michel Temer.
Leonardo Quintão (MG), que assume a vaga de Picciani, no entanto, disse que a maioria da bancada é que vai decidir sobre a posição a respeito do pedido de impeachment de Dilma que tramita na Câmara. Logo depois da troca, ele e o grupo que o apoio foram até o Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer, para informar da mudança. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), assinou o documento para a substituição.
Picciani já estava desgastado com essa parte da bancada, mas a gota d'água foi a decisão de indicar os membros do PMDB para a comissão especial que vai analisar o impeachment sem consultar os colegas. Num ato monocrático, ele escolheu apenas deputados pró-Dilma. Como reação, o grupo que defende a saída da presidente começou a articular uma chapa paralela - que saiu vitoriosa no plenário da Casa - e uma lista com assinaturas suficientes para derrubar Picciani.
Um dos principais deputados que encabeçaram o movimento, Darcísio Perondi (RS) explicou: "O líder anterior [...] fez uma ligação absolutamente direta com a presidente Dilma. Numa política que não achamos ser a boa política. E nós estamos identificados com o programa 'Ponte para o Futuro' do diretório nacional, programa Temer. O PMDB tem uma proposta, uma agenda nova, que o outro líder [Picciani] não valorizou".
Ontem, Quintão já começou a atuar contra o governo. Ele pediu, por mensagem de celular, que deputados da sigla tentassem evitar que a sessão da Casa fosse aberta, o que atrasa a votação de projeto de interesse do Palácio do Planalto.
Já como ex-líder, Picciani avaliou que o grupo do partido que defende o impeachment de Dilma saiu mais forte após a articulação que o destituiu do cargo. Mesma ala que "tem transformado o PMDB num amontoado de oportunistas", criticou.
A parte do partido aliada a Picciani ainda tentará desbancar Quintão da liderança do partido na Casa. "O PMDB há muito tempo tinha encerrado a prática da feitura de listas. Foi reaberta pode ser que a qualquer momento surja outras. Hoje a maioria, ainda que pequena margem, se expressou. Pode ser que a qualquer momento mude", avisou.
Um documento assinado por 35 deputados do PMDB foi protocolado à tarde na Câmara. O número supera a metade da bancada e, com isso, Picciani foi destituído. O ex-líder tentou convencer deputados a retirarem os nomes da lista. Não funcionou.
Mas o Valor apurou que uma várias movimentações estão sendo negocias para que Picciani volte a ter o apoio da maioria da bancada. Ele já articulou o retorno de dois deputados pemedebistas que estavam em secretarias na capital e no Estado do Rio de Janeiro. E até um deputado do PTB assumiria um cargo de confiança no Estado para que o suplente - do PMDB - assuma o mandato na Câmara.
O ex-líder da sigla disse que não se surpreendeu com a decisão de Cunha ao assinar o documento para a substituição por Quintão. O presidente da Casa disse que a troca foi reflexo de uma crise própria do partido e para a sigla não "virar apêndice do governo".
"A situação tinha chegada a um nível que a bancada não estava sendo representada. As indicações feitas pela comissão [do impeachment] causaram um racha na bancada e isso estava dilacerando o partido", completou Cunha. Ele alegou ainda que só assinou a lista depois de ter sido atingido o número mínimo para destituir Picciani.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), lamentou o ato da ala oposicionista do partido. "Acho que é uma medida de desrespeito a maior bancada do PMDB que é a do Rio de Janeiro. Foi um gesto de desconsideração a tudo que o RJ representou para o PMDB nacional".
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