BRASÍLIA - O Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, é a nova referência de poder em Brasília. A outra é o Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff tenta salvar seu mandato com uma maioria a cada dia mais precária no Congresso. No Jaburu respira-se a expectativa de poder. No roteiro do impeachment, a prioridade do grupo de Temer, no momento, é tentar a união do PMDB em torno do vice.
"Se nós não tivermos maioria sólida, não vamos construir a maioria necessária para um governo de pacificação nacional", disse um integrante do grupo ao Valor PRO.
A ideia não é conseguir a unanimidade do PMDB. Com a autoridade de quem preside o partido há mais de dez anos, Temer sabe que esse caminho leva a nada. Mas é preciso construir uma maioria sólida, para consolidar o Jaburu como polo de poder. "Só temos futuro juntos", diz um aliado de Temer.
Não é tarefa fácil, como se vê na disputa pela liderança do partido na Câmara, onde Temer e seu grupo atuaram decisivamente para a destituição do líder Leonardo Picciani (RJ) e sua substituição por Leonardo Quintão (MG). Um quadro que ainda pode mudar, mas que mostra o quanto o Palácio do Planalto se equivocou ao interferir na disputa interna do PMDB e negociar com o agora ex-líder Picciani, o apoio do partido à manutenção de Dilma no cargo.
Quintão ontem à tarde mesmo fez o trajeto da nova fonte de poder. Ouviu do vice que o PMDB não deve romper com o governo, por enquanto. O novo líder também disse que ninguém da bancada deve aceitar uma indicação para o ministério da Aviação Civil. A expectativa de todos era com o encontro com Dilma Rousseff que Temer teria à noite. Para a conversa que terá à noite com a presidente Dilma, o vice Michel Temer foi aconselhado a evitar falar em gabinete o que não puder falar à saída.
Além de unir o partido, Temer enfrenta um novo desafio: as especulações sobre a formação de um eventual governo do vice-presidente. Na avaliação do grupo do vice, este é um assunto que divide e pode atrapalhar a formação de uma maioria para o impeachment e para Temer governar. Por isso deve ser evitado o máximo possível.
Os personagens centrais do roteiro do impeachment, no entanto, no entanto, são conhecidos e devem integrar a elite de um governo Temer. O senador José Sera, do PSDB de São Paulo, por exemplo, é o nome considerado para o comando da economia. Entre os tucanos, é o mais comprometido com um futuro governo Temer.
Outros nomes-chave devem ser Moreira Franco, ex-governador do Rio e ex-ministro da Aviação Civil de Dilma, e Eliseu Padilha, sucessor de Moreira na SAC, que devem compor o círculo mais próximo. O senador Romero Jucá (RR) e o ex-presidente do Supremo Nelson Jobim são outras duas figuras carimbadas. Se o impeachment de Dilma for inevitável e Temer assumir, deve haver espaço também para o PT do presidente Lula. Apesar das ameaças, não se acredita que o PT irá para a oposição renhida. Poderia ser Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, mas aliados de Temer gostam de atribuir essa informação a Aécio Neves, o virtual candidato do PSDB em 2018 e adversário de Serra no partido.
Outro desafio crucial para Temer e seu grupo e levar os senadores governistas do PMDB para o impeachment. A situação hoje é diferente de ontem, antes da derrota do governo na disputa pela composição da comissão do impeachment. Mas ainda assim os senadores jogavam suas fichas em eventual entendimento entre Dilma e Temer, na conversa prevista para ontem.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, por exemplo, acha que o governo tem errado, mas o PMDB também. "É preciso construir compromissos em torno de uma agenda", disse. Para Renan, há um esgotamento do modelo político que requer mudanças estruturais. A presidente poderia ter liderado esse processo, porque não é candidata em 2018. "Falei isso a ela".
Em tempo: Temer e seu grupo comemoraram a decisão do Supremo de marcar uma data, a próxima quarta-feira, para definir as regras do impeachment. Depois disso, ninguém mais poderá falar que impeachment é golpe.
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