sábado, 12 de março de 2016

Dilma nega renúncia e diz que teria orgulho de Lula no governo

• Presidente classificou de ‘ofensa’ a ideia de deixar o cargo

• Ela fez um apelo para que os protestos de amanhã sejam pacíficos

Em tom de desabafo e às vésperas das manifestações contra seu governo, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que nunca passou por sua cabeça a renúncia ao cargo. Ela tomou a iniciativa de tocar no assunto ao falar para reitores de universidades federais. E, em entrevista, voltou a negar com veemência a ideia de renunciar, o que chamou de “ofensa”. Dilma afirmou ainda que seria um orgulho ter o expresidente Lula em seu Ministério e fez um apelo para que não haja confronto nas manifestações de amanhã.

Dilma: ‘Não sairei desse cargo

• Presidente descarta renúncia e diz que teria o ‘maior orgulho’ em ter Lula no seu governo

Eduardo Barretto e Evandro Éboli - O Globo

BRASÍLIA - Às vésperas de um protesto nas ruas pelo seu afastamento e sob o risco de perder o apoio do PMDB, o que aumentaria seu isolamento político, a presidente Dilma Rousseff reagiu ontem aos que pregam sua saída da Presidência e negou que pretenda renunciar a seu mandato, ideia que considerou uma “ofensa” à sua trajetória de vida. Dilma disse que nunca lhe passou pela cabeça renunciar e que faltam argumentos aos que pedem sua saída do cargo. Para a presidente, solicitar sua renúncia é reconhecer que não existe base para o pedido de impeachment feito pela oposição. A presidente afirmou também que teria o “maior orgulho” em ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu governo como ministro e criticou o pedido de prisão preventiva de Lula, feito pelo Ministério Público de São Paulo na quinta-feira, afirmando que “passou de todos os limites”. Dilma pediu serenidade nas manifestações de domingo.

Antes da coletiva de imprensa, em encontro com reitores de universidades federais e o ministro da Educação, Aloizio Merdacante, Dilma fez um longo desabafo e anunciou aos presentes que não iria renunciar. Na entrevista, foi enfática em rejeitar a hipótese:

— Nunca. Isso é uma invenção. Não tenho o menor interesse, a menor propensão. E não há nenhuma justificativa. Para mim, isso, inclusive, é uma ofensa... Agora, por favor, pelo menos testemunhem que eu não estou com cara de quem vai renunciar.

A fala de Dilma começou a ser planejada na noite de quinta-feira, quando a presidente reuniu-se no Palácio da Alvorada com ministros depois de voltar do Rio e após tomar conhecimento do pedido de prisão preventiva de Lula pelo Ministério Público paulista. Os presentes, Jaques Wagner (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e o assessor especial Giles Azevedo defenderam que Dilma precisava ir a público para botar fim a boatos e apostas de que o governo estaria “no fim”.

Os fatos recentes, como a reunião entre a cúpula do PSDB com caciques do PMDB, em que concluíram que não seria possível superar a crise com Dilma à frente do governo, e o pedido de prisão do ex-presidente foram apontados pelos ministros como questões que mereciam resposta por parte da presidente. Ontem, notícias de que Dilma estaria resignada com a possibilidade de não terminar o mandato, foram a gota d'água para que a presidente se pronunciasse. Ao negar resignação, a presidente chegou a se confundir:

— É impossível, quem me conhece, achar que, pela minha trajetória pessoal, pela minha honradez e pelo respeito que eu tenho pelo povo brasileiro, eu me renuncie… eu me resigne.

Renúncia
“Eu acredito que não é absolutamente correto por parte de nenhum líder da oposição, de ninguém, ter o direito de pedir a renúncia de um cargo de presidente legitimamente eleito pelo povo. Sem dar elementos comprobatórios que eu tenha de alguma forma ferido qualquer inciso da Constituição. A renúncia é um ato voluntário. Aqueles que querem a renúncia estão reconhecendo que não há nenhuma base legal para pedir a minha saída desse cargo. Portanto, por interesses políticos de quem quer que seja eu não sairei desse cargo sem que haja motivo para tal. Solicitar a minha renúncia é reconhecer que não existe base para impeachment. Ou então, tentem o impeachment, e nós vamos disputar isso, nós vamos discutir com a sociedade, com o país inteiro. Por que querem tirar um presidente legitimamente eleito? Não há base para qualquer ato contra a minha pessoa”.

Pedido de prisão de Lula
“Eu acredito que o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula passou de todos os limites. E acho que isso é quase consenso entre os juristas. Não existe base nenhuma para esse pedido. É um ato que ultrapassa o bom senso. Um ato de injustiça. É um absurdo que um país como o nosso assista calmamente a um ato desses contra uma liderança política responsável por grandes transformações no país, respeitado internacionalmente. O governo repudia em gênero, número e grau esse ato praticado contra o presidente Lula”.

Lula ministro
“Não costumo discutir como eu formo meu ministério. Eu teria o maior orgulho de ter o presidente Lula no meu governo, porque é uma pessoa com experiência, com grande capacidade de formulação de políticas. E aí estou falando da capacidade gerencial do presidente Lula. E, por isso, posso garantir a vocês que teria um grande orgulho de tê-lo no meu governo. Não vou discutir se o presidente vai ser ou não vai ser (ministro). Também não vou discutir essa questão (se o convidou para ser ministro)”.

Resignação
“Vocês acham que eu tenho cara de quem está resignada? Que eu tenho gênio de quem está resignada? Acho que tem que ter uma certa responsabilidade. É impossível quem me conhece achar que, pela minha trajetória pessoal, honradez, respeito que tenho ao povo brasileiro, eu me resigno. Fui presa, fui torturada pelas minhas convicções. Eu devo ao povo brasileiro o respeito pelos votos que me deu. Eu não estou resignada diante de nada. Não tenho essa postura diante da vida. Acredito que por isso represento o povo brasileiro, que não se resigna. O povo brasileiro é lutador, combatente e teimoso”.

Manifestações
“Não temo confronto. Acredito e peço que não haja confronto. Faço um apelo às pessoas para que não haja confronto, que sejam capazes de se manifestar de forma pacífica. A manifestação é importante para o país como afirmação democrática. Não deve ser manchada por nenhum ato de violência. Eu peço como presidenta da República: a gente tem que manter aquelas que são vitórias da democracia brasileira. Uma delas é o direito de livre manifestação. Não cabe de jeito nenhum a gente perder essa oportunidade”.

Ministro da Justiça
Eu não discuto ministro. A decisão do Supremo (que impediu que o procurador Wellington César Lima e Silva continue à frente do Ministério da Justiça se não pedir exoneração do Ministério Público da Bahia) eu não acho, eu cumpro. Vou fazer o seguinte: vou olhar para ele (Wellington) e falar: 'olha meu querido, você decida seu destino de acordo com suas convicções'. Ele tem 25 anos de Ministério Público. Não cabe a mim fazer nenhum apelo, não posso prejudicar ninguém. Não adianta jogar casca de banana. (Colaboraram Júnia Gama e Geralda Doca)

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