Flávio Ferreira, Bela Megale – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A empreiteira Odebrecht bancou metade da mão de obra usada na construção de um anexo com quatro suítes no sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Lula e sua família.
Os trabalhos tiveram início no fim de 2010, quando o petista ainda ocupava o cargo de chefe do Executivo.
Segundo a Folha apurou, a construtora forneceu 15 de seus funcionários e o engenheiro que conduziu as obras, Frederico Barbosa, que depois ficou conhecido nacionalmente pela direção do projeto do estádio do Corinthians em São Paulo.
O próprio Barbosa reconheceu o fato em depoimento à força-tarefa de procuradores da Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, em fevereiro.
Porém, nenhum dos envolvidos no caso admitiu até agora ter sido o responsável pelo pagamento dos materiais de construção usados nas obras da propriedade.
Como a Folha revelou em janeiro, cerca de R$ 500 mil (R$ 700 mil em valores atualizados) foram gastos só em itens de construção, segundo a ex-dona de uma loja da cidade que realizou vendas para o sítio.
O empresário Fernando Bittar, um dos donos do imóvel no papel, já afirmou à força-tarefa que a mulher de Lula, Marisa Letícia, coordenou a construção do anexo com quatro suítes.
Assim, segundo Bittar, somente a ex-primeira-dama pode esclarecer quem bancou a compra dos materiais usados nas obras, uma vez que ele não arcou com esses custos, apesar de ser o proprietário.
O engenheiro Barbosa também revelou aos procuradores que atuou na propriedade rural para atender a um pedido de seu superior Emyr Diniz Costa Junior, diretor de Contratos da CNO (Construtora Norberto Odebrecht).
Segundo Barbosa, no sítio ele recebeu orientações do então assessor do presidente Lula, Rogério Aurélio Pimentel, que era o responsável pela execução de pagamentos em dinheiro vivo para fornecedores de produtos e serviços.
Fora do padrão
Barbosa apontou aos procuradores circunstâncias das obras que saíram do padrão da Odebrecht.
Segundo petição do Ministério Público que embasou a 24ª fase da Lava Jato, o engenheiro disse que o trabalho na propriedade rural era "uma reforma em imóvel particular, que fugia do escopo de trabalho da Odebrecht".
Ainda de acordo com Barbosa, "os trabalhadores foram pagos pela empreiteira, mas não era 'uma obra da Odebrecht'".
Por fim, também chamou a atenção de Barbosa o curto período de tempo entre o contato inicial com o assessor de Lula e o começo das obras, sem que houvesse a assinatura de contrato entre a Odebrecht e uma outra pequena construtora chamada Rodrigues do Prado.
Segundo o engenheiro, a Rodrigues do Prado forneceu a outra metade da mão de obra que executou os serviços no sítio.
Em entrevista à Folha, Carlos Rodrigues do Prado, dono da pequena empreiteira, disse que o assessor de Lula lhe pagou R$ 167 mil (R$ 233 mil em valores atualizados) pela mão de obra. Porém, afirmou desconhecer a origem do dinheiro.
Quando o caso foi revelado pela Folha, a Odebrecht afirmou não ter ligação com as obras no sítio.
Após o depoimento de Barbosa, a empresa mudou de versão e admitiu a atuação do engenheiro a mando de um superior da construtora.
Outro lado
O advogado de Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Martins, disse que o ex-presidente soube que a família Bittar e Jonas Suassuna haviam adquirido o sítio em 13 de janeiro de 2011 e esteve pela primeira vez no local dois dias depois.
O defensor do ex-presidente diz que o petista "não teve conhecimento e nem participou de qualquer reforma" antes dessa data.
As versões da Odebrecht
29 de janeiro
Em entrevista à Folha, o engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa admitiu que deu "apoio informal" para uma empresa que atuou em obra no sítio, porém, disse que o trabalho não teve ligação com a empreiteira. A Odebrecht também negou relação com a obra
24 de fevereiro
Após depoimento de Barbosa à Lava Jato no qual ele admitiu ligação com o sítio, a Odebrecht também confirmou que o engenheiro "realizou acompanhamento técnico de obras", mas que as pessoas envolvidas foram remuneradas pela empreiteira Rodrigues do Prado, apontada como principal responsável pelos trabalhos
12 de março
A Folha confirmou com fontes internas da Odebrecht que a empreiteira cedeu, além de Barbosa, mais 15 funcionários –metade da mão de obra empregada no sítio. A Odebrecht também foi a responsável pelo pagamento desses funcionários
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