A inquestionável maioria dos brasileiros já está convencida de que é preciso acabar com o ciclo de poder lulopetista antes que o governo Dilma acabe com o País. Trata-se agora – e essa tarefa depende muito da participação popular – de construir o caminho, necessariamente balizado pelos preceitos constitucionais, para transferir o poder o mais rapidamente possível ao mais parecido possível com uma aliança de salvação nacional que promova as correções de rumo que o governo do PT não deseja nem tem competência para implantar.
Na construção desse caminho, é indispensável conter o açodamento e agir com ponderação e cautela, de modo a evitar que as paixões predominem e acabem comprometendo o caráter legalista e democrático de um movimento que, vale repetir, responde ao mais legítimo anseio de mudança que domina o País.
Lamentavelmente, discrepa desse procedimento cauteloso a decisão dos três representantes do Ministério Público paulista que solicitaram a prisão preventiva do ex-presidente Lula e de vários outros investigados no caso da Bancoop, cujo desdobramento politicamente mais relevante é a suspeita de que Lula e sua família tenham sido indevidamente beneficiados pela construtora OAS no episódio do condomínio Solaris, no Guarujá.
Não se trata de discutir a seriedade do trabalho dos promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo, que têm em mãos um caso escabroso em que petistas levaram à quebra, em circunstâncias suspeitas, a cooperativa habitacional dos bancários, o que acabou prejudicando, segundo a denúncia, mais de 7 mil famílias de cooperados, mas beneficiando a família Da Silva. Depois que os empreendimentos da cooperativa foram transferidos, em condições também suspeitas, para a OAS, esta decidiu “presentear e paparicar” Lula “com um tríplex na beira da praia”, como consta da denúncia.
O caso do tríplex do Guarujá está sendo investigado também pela Lava Jato, em Curitiba, como extensão das investigações de que a OAS está sendo alvo e que já resultaram na condenação de seu ex-presidente, Leo Pinheiro. As conclusões dos promotores paulistas coincidem com as da Lava Jato. Ocorre que a denúncia que apresentaram à juíza titular da 4.ª Vara Criminal da capital, Maria Priscilla Oliveira, é vazada em termos que a transformam numa peça vulnerável a críticas. E foi o que realmente aconteceu, com reações negativas por parte de especialistas reconhecidamente competentes e insuspeitos e até mesmo de setores políticos de oposição.
Para o líder do PSDB no Senado, Cassio Cunha Lima, “em momentos de turbulência, não são recomendáveis movimentos bruscos. É preciso serenidade de todas as instituições que têm responsabilidade com o País”. De fato, a antevéspera do domingo em que estão programadas em todo o País manifestações populares de apoio ao impeachment de Dilma Rousseff não é certamente a melhor ocasião para a divulgação de uma denúncia que pede a prisão preventiva de Lula. Dias antes, a condução coercitiva do ex-presidente para depoimento à Polícia Federal, apesar de todas as precauções tomadas pelos próprios policiais para evitar que o episódio se transformasse num show, já havia propiciado a Lula a oportunidade de se apresentar como vítima e convocar sua tigrada a sair às ruas para protestar contra a perseguição de que ele estaria sendo vítima. Esse tipo de reação não intimida os democratas, mas mostra que há obstáculos a evitar para que os meliantes do lulopetismo não encontrem alento.
Há nos meios políticos um crescente consenso de que o governo Dilma agoniza pela falta de sustentação política, que se torna maior a cada dia, da mesma forma que se acredita que a maciça participação da população nas manifestação de amanhã será determinante para a aceleração do processo de impeachment.
Um pedido de prisão de Lula poderá ser inevitável num futuro talvez próximo, a julgar pela extensão de seu envolvimento nos escândalos que abalam o País. Este, porém, não era o melhor momento para que os promotores paulistas tomassem a iniciativa de pedir sua prisão, principalmente nos termos em que o fizeram. Só pode haver Justiça onde há bom senso.
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