Os três promotores paulistas responsáveis pelo pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizaram proeza que ninguém julgaria possível no ambiente político atual.
Obtiveram um quase absoluto consenso. Foi tamanha a inépcia de suas pretensões que, do governo à oposição, de defensores intransigentes do impeachment a convictos militantes petistas, não houve quem não criticasse a iniciativa.
O trio de acusadores não terá obtido apoio exceto nas franjas mais rudimentares e fanáticas da internet, que sem dúvida alimentaram, tanto quanto o puro desejo de obter notoriedade, a desastrosa iniciativa.
Sustentando a necessidade de prender Lula preventivamente, o promotor Cassio Conserino e seus associados referiram-se, por exemplo, a declarações do ex-presidente reproduzidas por inadvertência em vídeo gravado pela deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ).
Depreendeu-se inicialmente que as invectivas de Lula, com tudo o que tinham de chulo, voltavam-se contra o processo da Lava Jato.
Já seria abusivo tomar tais declarações, proferidas em colóquio privado, como justificativa para a prisão. Aventou-se depois a possibilidade de o palavrão se referir ao destino que deveria ser dado ao acervo de presentes acumulado em sua passagem pela Presidência. Pouco importa; o recurso a expressões grosseiras jamais poderia fundamentar a acusação.
Decerto não há como sustentar a tese de que Lula é vítima de uma conspiração, quando sobejam os sinais de que empreiteiras o beneficiaram de variadas maneiras.
Diferentemente do que ocorre na Lava Jato, todavia, o ex-presidente comparece de forma acidental no caso investigado pela Promotoria paulista. Trata-se, aqui, de apurar as irregularidades numa cooperativa imobiliária dos bancários, a Bancoop, acusada de lesar seus mutuários.
Foi pela Bancoop que Lula manifestou interesse em adquirir o célebre apartamento no Guarujá.
Se o imóvel seria reformado pela construtora OAS em atenção a suas conveniências pessoais, as suspeitas contra Lula se dão dentro do quadro de interesses que o aliou a empreiteiras envolvidas no petrolão –um assunto para o Ministério Público Federal, portanto.
Às voltas com um conhecimento gramatical que nem mesmo o investigado invejaria, os promotores tropeçaram em citações risíveis do filósofo Nietzsche –cujo nome grafaram incorretamente e cujo pensamento sem dúvida ignoram– e caíram na já notória esparrela de confundir Hegel com Engels.
Seria apenas uma patetice, se não fosse um perigo. Com promotores assim, nenhum cidadão está livre de ter sérios problemas na Justiça.
Quando a sede de celebridade se junta à ignorância, e esta a uma feroz paixão persecutória, um trio de horrores ganha forma.
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