- O Globo
O PMDB decidiu dar uma espécie de “aviso prévio” ao governo da presidente Dilma. Na reunião de hoje que elegerá a nova Executiva Nacional, vai dar um prazo de 30 dias para que sejam analisadas as moções que serão apresentadas, em sua larga maioria a favor de um rompimento com o PT e da saída do ministério.
Como se trata do PMDB, é possível que o prazo acabe sendo um pouco maior — 45 a 60 dias —, mas de todo modo será uma decisão mais drástica do que simplesmente declarar-se independente, como era a ideia original do grupo dissidente, que hoje é tão majoritário que, acreditam seus dirigentes, se houver proposta no sentido de manter apoio ao governo Dilma, será a confirmação de que essa posição só conta com pouquíssimos adeptos.
Ficar independente, mas permanecer com os cargos no governo, seria mais cômodo, pois permitiria continuar usufruindo as benesses governamentais enquanto o partido caminhasse para o impeachment. Mas à medida que a crise vai se desenrolando, cresce a sensação de que o governo Dilma já está exaurido e não há futuro nele.
A fala dela ontem, negando que pense em renunciar, é sinal disso. Além do ato falho, quando disse “eu me renuncio”, toda sua fala confusa mostra que ela não digere bem o assunto, nem pessoal nem historicamente. Afirmar que sugerir a renúncia significa o reconhecimento de que nada há contra ela mostra que desconhece o caso emblemático de Nixon nos EUA.
Como o objetivo principal é manter a unidade “dentro da diversidade”, e a reeleição do vice Michel Temer na presidência do partido, postergar o rompimento definitivo para daqui a 30 ou 60 dias parece uma decisão sensata, enquanto se define o quadro político.
A tensão na família Picciani, uma das principais lideranças políticas do PMDB do Rio, com ares nacionais agora que o filho Leonardo assumiu a liderança do partido na Câmara, é exemplo da dificuldade que o partido tem para se posicionar. O chefe do clã, Jorge Picciani, não se policiou e disse com todas as letras que o governo Dilma estará no chão “em três meses”, deixando o filho em maus lençóis.
Certamente o prazo para o “aviso prévio” do PMDB ao governo Dilma tem um cálculo político que leva mais em conta esse prazo do Picciani pai do que a anunciada lealdade de Picciani filho, que de resto é muito relativa. As manifestações de domingo em todo o país certamente serão um dado fundamental nessa movimentação em direção à porta de saída do governo, que começou a se explicitar ainda no final do ano passado.
De acordo com a literatura sobre impeachment, a consistência e a extensão dos protestos de rua são os aspectos mais importantes para que processos desse tipo sejam bem-sucedidos. A situação do PMDB já não permite tanta tergiversação quanto o partido está acostumado, pois terá que se apresentar como uma alternativa real aos problemas que o governo Dilma enfrenta.
Foi o que começou a explicitar ao lançar seu programa “Ponte para o Futuro”, que reflete proposta de um governo liberal, diametralmente oposta à do PT, claramente estatizante, proposta de governo a ser implementada caso o vice Michel Temer chegue à Presidência da República com o impedimento da presidente Dilma.
Alguns pontos são historicamente polêmicos, como o que estabelece um limite para as despesas inferior ao aumento do PIB, ou o que defende as privatizações e concessões. O PMDB, que está deixando aos poucos o governo, buscando uma saída honrosa, parece ter chegado ao limite, levado pelas circunstâncias políticas que o reaproximaram do PSDB. Vai reafirmar seu protagonismo político e aguardar os acontecimentos, declarando-se à disposição “do Brasil”.
Pressão
Noticia-se que a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, depois que recebeu o processo do Ministério Público de São Paulo contra o ex-presidente Lula, se queixa de que está sofrendo pressão de militantes petistas, que até mesmo já localizaram a residência de sua mãe, uma senhora de 80 anos.
Essas atitudes agressivas, mais as manifestações em frente ao foro onde trabalha, e a ação de militantes do MST fechando estradas em alguns estados, podem convencer a juíza de que os procuradores têm razão de pedir a prisão preventiva de Lula.
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