- Folha de S. Paulo
Petistas e simpatizantes se queixam, não sem uma ponta de razão, de que a Justiça está pendendo para um lado. Enquanto pessoas ligadas à legenda são investigadas com rigor máximo pelas autoridades, suspeitas que pairam em relação a políticos oposicionistas são tratadas com mais brandura.
Não dá para negar a existência de um viés, mas lembro que isso está longe de constituir uma defesa. Até posso ter razão quando reclamo de que apenas eu fui multado por não recolher o cocô do cachorro quando milhares de pessoas fazem o mesmo sem ser incomodadas, mas isso não me isenta de ter de pagar a sanção.
A verdade é que quase tudo no Judiciário (e na vida) passa por uma combinação de aplicação de regras impessoais com considerações políticas. Se hoje o PT está sendo prejudicado porque enfrenta uma conjuntura econômica das mais adversas, com forte impacto negativo sobre a popularidade de seus dirigentes, vale observar que o partido foi beneficiado em 2005, quando o ciclo favorável reduziu o ímpeto dos investigadores de incluir Lula entre os réus no mensalão.
Reconhecer que fatores políticos influem nas apurações não significa que devamos nos conformar com isso. É dever das instituições oficiais pelo menos tentar ser tão republicanas quanto possível. Até dá para aceitar que procuradores mirem antes naqueles que entendem ser os alvos mais importantes, mas isso não os desobriga de apurar também eventuais delitos cometidos por membros de todas as agremiações.
Teremos uma medida da maturidade de nossas instituições em breve, quando vierem à luz os termos das delações premiadas de empreiteiros. Aí saberemos se os investigadores tentaram extrair informações de forma republicana, cobrindo todos os lados do espectro ideológico, ou se ainda estamos num estágio mais primitivo, em que só os que se tornaram fracos precisam temer.
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