- Folha de S. Paulo
Vinicius de Moraes (1913-80), poeta, compositor, diplomata e recordista de casamentos, continua a ser lembrado e querido pelos brasileiros. Além das dezenas de fabulosas canções que deixou, Vinicius incorporou-se ao, digamos, pensamento nacional com frases que as pessoas citam no dia a dia, às vezes sem saber que foi ele quem as inventou.
Uma das mais conhecidas é: "O melhor amigo do homem é o uísque. O uísque é o cachorro engarrafado". Ou esta, sobre o avião: "É mais pesado que o ar, tem motor a explosão e foi inventado por brasileiro. Não pode dar certo". Ou esta outra, sobre o carioca: "Ser carioca é ter, como programa, não tê-lo". Ou ainda esta, sobre seu pai: "Quem nunca teve um pai que ronca não sabe o que é ter pai".
Um de seus versos mais famosos, "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", ainda não levantou sobrolhos nas feministas de plantão – como se, vindo de Vinicius, tudo fosse permitido. Mas, se o poeta vivesse hoje, eu me pergunto como elas reagiriam a certas frases que ele, um amoroso incorrigível, despejava com a maior naturalidade.
Exemplo: "Paixão por mulher com sotaque dura só dois meses". Ou esta: "Existem feias potáveis. Mas há outras que só servem para fazer sabão". Ou ainda esta, sobre a Virgem Maria: "Tenho grande apreço por Nossa Senhora. Aliás, sempre achei Nossa Senhora a coisa mais engraçadinha do mundo". Em nosso tempo, um homem precisa pensar duas vezes antes de se referir a uma mulher– inclusive para elogiar.
Ao falar para a imprensa estrangeira na terça-feira (19), a presidente Dilma disparou o argumento que lhe faltava em defesa própria: atribuiu ao fato de ser mulher as perseguições que lhe movem.
Dilma está sonhando. Nunca se soube de ninguém que lhe tenha concedido a graça dessa acusação.
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