Segundo a polícia, negócio responsável por desvios em contratos com a estatal renderia 40% aos 2 partidos
Lava Jato apura a ‘Brasil Trade’, o ‘negócio criminoso’ que renderia 40% ao ‘PT/PMDB’
Polícia Federal encontrou elementos de que filho de ministro do TCU - alvo da Operação Abate II, deflagrada nesta quarta -, Vaccarezza, operador de Lobão, ex-executivos da Petrobrás e operadores de propinas organizaram uma 'empresa' ligada a desvios em contratos na Petrobrás
Ricardo Brandt, Julia Affonso, Luiz Vassallo e Fausto Macedo | O Estado de S. Paulo
A Operação Lava Jato encontrou documento com “diretrizes” para criação de uma empresa, denominada “Brasil Trade”, que pode ser a formatação de uma sociedade entre corruptos, corruptores e operadores de propinas, responsáveis por desvios em contratos com a Petrobrás, que beneficiaria PT e PMDB: 40% para os partidos.
O achado faz parte da 45ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira, 23. Batizada de Operação Abate II, a Polícia Federal fez buscas e apreensões em endereços dos advogados Tiago Cedraz Leite de Oliveira – filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz – e Sergio Tourinho Dantas, e da ex-assessora de Cândido Vaccarezza (ex-PT) Ana Claudia de Paula Albuquerque.
Os dois advogados, que são sócios, fariam parte da sociedade capitaneada pelos lobistas Jorge Luz e Bruno Luz – pai e filho -, presos desde fevereiro, pela Lava Jato.
Além deles, a firma tinha participação de um executivo da empresa norte-americana Sangeant Marine, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, de outro ex-gerente da estatal, de um operador do ex-ministro Edison Lobão, entre outros.
“Referência a ambos (Cedraz e Dantas) foram encontradas no próprio documento que estabelecia as diretrizes iniciais do grupo denominado de ‘BRASIL TRADE’, assim como em outro que estabelecia aparente participação nos lucros a cada um dos envolvidos em oportunidade negocial ainda não identificada”, informa o delegado da PF Filipe Hille Pace, em seu pedido de buscas na Abate II.
“Em decorrência do nível de cognição investigativa que havia se alcançado até aquele momento, julgou-se provável que dirigentes da empresa norte-americana Sargeant Marine tivessem se beneficiado indevidamente com recursos gerados mediante a contratação, mediante corrupção, da empresa pela Petroprás com o auxílio do grupo criminoso então denominado ‘Brasil Trade'”, informa a PF.
“40% do comissionamento era destinado ao pagamento de propina a Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza e outro agente político e 20% a Paulo Roberto Costa”, informa o pedido enviado ao juiz federal Sérgio Moro.
Em outro registro encontrado pela PF referente a Trade Brasil, há uma divisão: “CONVERSADO / 40% POL (PT/PMDB) / 40% COORDENAÇÃO / 20%: CASA”.
O documento com as “diretrizes” tem 12 itens sobre a formação da firma. “Formação da TRADE BRASIL – Como explanado por CH e BO, o custo para implementação de uma Trading no Brasil é alto, razão pela qual a Trade Brasil deverá ser constituida inicialmente de forma OFF SHORE para as operações iniciais”, informa o item 6, da lista de “diretizes” apreendida pela PF. “E logo que se teha sustentação própria viabilizaria-se uma empresa no Brasil visto ser intenção de que a Fundação venha entrar de sócia ou mesmo operar com a Trade Brasil.”
Há referência ainda ao local de funcionamento, que seria no Rio, menção a uma reunião inicial em 2010, com aporte inicial de R$ 100 milhões previstos, negócios com “BR Distribuidora”, Petrobrás, fornecimento de asfalto para Salvador (BA) e Fortaleza (CE) e na Argentina e em Tampa.
Os registros estão todos em siglas, que a polícia tenta confirmar. Casa seria a propina para os agentes da Petrobrás, entre eles Paulo Roberto Costa, Márcio Aché e Murilo Barbosa Sobrinho. , José Raimundo Pereira Brandão
A formação da Brasil Trade tem relação com o negócio alvo da Operação Abate, 44ª fase da Lava Jato, fechado com a empresa Sargeant Marine, que levou para a cadeia Vaccarezza, no dia 18.
A atuação do grupo em favor da empresa norte-americana com a Petrobrás culminou na celebração de doze contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximadamente US$ 180 milhões. A empresa fornecia asfalto para a estatal e foi citada na primeira delação do escândalo, feita pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa em agosto de 2014.
Segundo Jorge Luz, Edison Lobão teria sido, ao lado do ex-deputado Cândido Vaccarezza, padrinhos políticos do contrato. Vaccarezza não desfruta mais de foro especial. Na sexta-feira, 18, ele foi preso por ordem do juiz federal Sérgio Moro. Na noite desta terça, 22, o ex-líder dos Governos Lula e Dilma na Câmara foi solto.
No âmbito do termo para fornecimento de asfalto, Vaccarezza é investigado por propinas de US$ 500 mil; já Lobão e seu suposto representante, Murilo Barbosa Sobrinho, são atrelados a repasses de US$ 450 mil em planilhas de pagamentos via offshore entregues pelos operadores de propinas.
“Em virtude da proximidade do então agente da Petrobrás Márcio Aché com o Murilo, que seria o representante dos interesses de Lobão, foi acomodado uma parte dos valores que eram recebidos da comissão pelos contratos da Sargeant Marine para o senador. Isso foi dito pelos operadores, já está em sigilo e contra isso não foram tomadas medidas nenhuma aqui na primeira instância”, afirmou o delegado da PF.
Desdobramento. A segunda etapa da Abate alcança o filho do ministro do TCU e seu sócio na Trade Brasil. O suposto envolvimento de Cedraz, e também do advogado Sérgio Tourinho – igualmente, alvo de buscas na Abate II -, foi revelado pelos operadores de propinas do PMDB Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho.
“Os operadores informaram que participaram das tratativas iniciais da contratação da Sargeant Marine”, disse o delegado Fillipe Pace, da Polícia Federal.
Jorge Luz e Bruno Luz aparecem nos documentos com as siglras “JL” e BL”, segundo a PF. Cedra e Dantas seriam “ST” e “TC”. Outras siglas são: de “MA” e “RA”, referência ao ex-executivo da Petrobrás Márcio Aché e seu filho Rafael Aché; “LD” seria Luiz Eduardo Loureiro Andrade, representante da Sargeant Marine no Brasil, conhecido como Ledu; “BO” e “CH”, seriam Carlos Henrique Nogueira Herz e Bo Hans Vilhelm Ljungberg.
Para a PF, Cedra e Tourinho “também tinham funções específicas dentro do ‘Brasil Trade’ para acompanhamento de outros assuntos negociais de interesse do grupo.
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