Por Marina Falcão e André Guilherme Vieira | Valor Econômico
RECIFE E SÃO PAULO - No dia em que o presidente Michel Temer anunciou um ambicioso programa de privatizações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em Arapiraca (AL), que o Brasil é governado por um "incompetente" e que, se depender dele, "vão vender a Petrobras, vão vender a BR e vão entregar os poços de petróleo do pré-sal para que empresas multinacionais venham explorar o nosso petróleo". A escalada verbal de Lula contra Temer, até então relativamente poupado nos pronunciamentos do petista em sua caravana pelo Nordeste, ficou ainda mais evidente na entrevista divulgada pela agência "Reuters" ontem, em que afirmou: "Quando nada mais restar para vender, eles irão vender nossas almas ao diabo."
Lula disse na entrevista que "ninguém é insubstituível", sinalizando que poderá não disputar as eleições presidenciais do próximo ano. De acordo com Lula, que percorre o Nordeste em uma caravana de pré-campanha e está hoje em Alagoas, "se acontecer algum problema, o PT terá que estar apto para lançar outro candidato".
Começou ontem a tramitar em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), a apelação à ação penal em que Lula foi condenado a 9,6 anos por corrupção e lavagem. Se a sentença da primeira instância for mantida, o ex-presidente começará a cumprir a pena imediatamente e não poderá concorrer no próximo ano, em decorrência da Lei da Ficha Limpa. A reportagem da "Reuters" menciona a possibilidade de Lula ser substituído pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
O ex-presidente foi sentenciado pelo juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Não há prazo determinado para o julgamento do recurso da defesa pelos desembargadores João Pedro Gebran (relator), Victor Laus e Leandro Paulsen.
Lula reiterou à "Reuters" que, caso vença as eleições do próximo ano, pretende usar parte das reservas internacionais e dinheiro do compulsório dos bancos, "para fazer o Brasil crescer novamente".
O petista percorre o Nordeste desde a semana passada e só deve parar em 5 de setembro, oito dias antes de ser interrogado por Moro em mais uma das seis ações penais a que responde - esta pela aquisição de terreno, pela Odebrecht, que sediaria o Instituto Lula.
Em Maceió, sua última parada antes de seguir para Pernambuco, Lula disse que, aos 71 anos, "já deveria estar em casa descansando, mas que a política é como a maldita cachaça. Você toma uma, se ela for boa, você não quer parar mais".
Na passagem pelo Estado, onde foi recepcionado pelo governador Renan Calheiros Filho e pelo senador Renan Calheiros, ambos do PMDB, Lula lembrou do que classificou de ''conquistas sociais dos governos do PT', como o programa de cisternas e os investimentos em educação, com 432 escolas técnicas construídas, segundo o petista. "Eles querem destruir tudo que fizemos", disse Lula. Renan está rompido com o governo federal e deve disputar a reeleição em 2018.
O ex-presidente ressaltou que, em 2008, o Brasil chegou a ser considerado a sexta economia do mundo, e disse que a elite não sabe governar o país. "Se esse país quiser dar certo, é preciso que coloque alguém não que entenda de economia, mas que entenda da cabeça do povo, do coração do povo".
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