- Folha de S. Paulo
Como já observara Marx, tudo o que é sólido se desmancha no ar
Quando eu era jovem, Plutão figurava como nono planeta do Sistema Solar, o brontossauro ocupava a posição de segundo dinossauro favorito da garotada, e políticos do PT nunca apareciam nos escândalos de corrupção. Mas, como já observara Marx, tudo o que é sólido se desmancha no ar.
Plutão teve seus direitos planetários cassados em 2006, quando a UAI (União Astronômica Internacional) rebaixou-o a planeta-anão. Ele só atende a dois dos três critérios necessários para obter a planetaridade.
Quanto aos brontossauros, sabichões da paleontologia disseminaram a tese de que eles jamais existiram.
Não passavam de um erro de classificação. Seus fósseis eram idênticos aos do apatossauro, descoberto um pouco antes. E a regra é clara: quando esse tipo de confusão acontece, prevalece a descrição mais antiga. Cientistas conseguiram, assim, extinguir um animal já extinto.
E o PT? Bem, todos viram o que aconteceu com o PT.
Definições científicas e o senso comum nem sempre estão do mesmo lado. O caso mais grotesco talvez seja o dos peixes. Numa interpretação rigorosamente científica (cladística), essa categoria não existe. Para agrupar num mesmo conjunto tudo aquilo que nossos instintos consideram peixe, é preciso incluir também seres bem pouco ictióides, como vacas e homens. O que fazer em casos assim? Devemos ficar com a ciência ou com nossas intuições? Dois cientistas acabam de se rebelar contra as definições da UAI e lançaram um movimento para restaurar os direitos planetários de Plutão.
Brontossauros tiveram mais sorte. Em 2015, novas e mais acuradas observações de vários conjuntos de fósseis permitiram concluir que apatossauros e brontossauros são suficientemente distintos para constituir gêneros distintos, e estes saurópodes, numa ressurreição gloriosa, voltaram a existir.
Resta saber se o PT algum dia vai voltar a ser o partido que conheci na juventude.
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