- O Globo
crise de biodiversidade, a extinção das espécies vivas da natureza do nosso tempo, é uma degradação que já ultrapassou em muito a fronteira do perigo.
Não para a natureza, que não tem problema algum no tempo dela, de milhões, dezenas de milhões de anos. A humanidade não tem poder nessa escala de tempo, apesar de sermos muito poderosos no nosso mísero tempinho curto de milhares, dezenas de milhares de anos.
O planeta já passou várias vezes por gigantescas crises de extinção da vida. As cinco maiores são conhecidas em biologia e geologia como “As Grandes Extinções” e, se a humanidade existisse em qualquer uma delas, com todas as forças que possui hoje, a probabilidade de que um único humano sobrevivesse tenderia fortemente a zero.
O que a ciência nos ensina? Que, de cinco a dez milhões de anos depois, a vida terá ocupado novamente todos os nichos ecológicos do planeta. Diferente e ainda mais biodiversa. Se destruirmos grande parte da vida, em um estalar de dedos (em sua escala de tempo), a vida ressurgirá. Mas a humanidade, não. Terá desaparecido para sempre.
A ciência tem demonstrado que estamos destruindo a vida em escala assombrosa, em velocidade similar à das grandes extinções. As duas maiores causas hoje são o uso do solo, especialmente o desmatamento, e as espécies exóticas. E então virá um tsunami: o aquecimento global.
Quando o tema surgiu, tratava-se de uma questão de valor, de amor à vida. Muitos dos humanos temos amor à natureza, aos biomas, aos animais, às plantas e sentimos indescritível horror frente à possibilidade de, sem necessidade alguma para o bem-estar da humanidade, eliminarmos para todo o sempre essas maravilhas da vida.
Desenvolvimentistas rasteiros ridicularizavam: são poetas, amam bichos e plantas e esquecem a pobreza, o crescimento econômico etc. O que a ciência nos ensina? Que os “poetas” estavam intuitivamente certos e que os argumentos dos “desenvolvimentistas” eram pura ignorância.
A crise de biodiversidade está se tornando, se não mudarmos de rumo, a sexta grande extinção. Há custos elevados: um reservatório genômico com potencial de curar muitas doenças e aumentar muito a produtividade e a sustentabilidade vai desaparecer antes de ser conhecido, e biomas destruídos não prestarão os serviços ecossistêmicos que ofertam hoje provocando colapsos no abastecimento de água, produtividade agrícola etc.
Difícil pensar em melhor exemplo do que o fato de que o desmatamento da Amazônia tende a provocar uma dramática redução na oferta de água no Sudeste brasileiro.
Mas o maior problema é outro. Trata-se de gestão de risco. Conhecemos muito pouco ou quase nada sobre quantas espécies existem, como elas se relacionam, sobre a biosfera, enfim. Dependemos totalmente dela. E estamos provocando a Sexta Grande Extinção. Você assinaria esse contrato? Por enquanto, está assinado e sendo cumprido.
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Sérgio Besserman Vianna é presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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